Quem somos? Um breve retrato de Portugal em números
O retrato do país aponta para um futuro incerto, onde a nossa capacidade de pensar e reformar políticas públicas será decisiva para garantir a prosperidade das atuais e próximas gerações.
Estudo economia, tenho 20 anos e sou de Paredes, no Porto. Naturalmente, estas e outras circunstâncias moldam o meu pensamento e influenciam a forma como olho para o país e o seu futuro. No entanto, ser jovem, por si, para além de uma condição efémera, revela muito pouco sobre aquilo que gostamos e muito menos ainda sobre aquilo que pensamos. A minha geração não é um bloco de opinião homogéneo, é, por seu turno, tão ou mais heterogénea que qualquer outra. Onde nascemos, com quem convivemos, o que lemos, estudamos ou vivenciamos define muito mais aquilo que somos ou acreditamos do que, simplesmente, a nossa idade.
Dito isto, nesta coluna, vão encontrar a minha visão, as minhas dúvidas ou inquietações, as minhas indignações, protestos ou reflexões. Desde a atualidade política e económica às experiências do meu dia a dia, passando por análises e opiniões, este será um espaço de partilha e de debate. Assim, hoje quero começar por uma reflexão genérica e numérica do que somos enquanto país.
Há indicadores que nos deveriam orgulhar enquanto nação. Em 1990, o número médio de anos de escolaridade em Portugal era de 5,3 anos (abaixo da média mundial), em 2021, era de 9,6 (acima da média mundial). Em 1970, a percentagem de analfabetos em Portugal era de mais de 25%, hoje já está abaixo dos 4%. Em 2000, 79% da população ativa não tinha o ensino secundário, hoje não chega aos 41%. Nos jovens entre os 25 e os 34 anos, 48% são licenciados, na média da UE são apenas 41%.
Muitas vezes argumenta-se que são traçados cenários catastrofistas do estado das coisas, comparando friamente com médias internacionais, esquecendo que essas comparações são meras fotografias momentâneas que podem não capturar o filme completo da nossa evolução. Mas também não podemos negar que o estado atual, ou as fotografias de que há pouco falava, podem, por um lado retratar entraves diversos ao desenvolvimento do país, como por outro espelhar falhas enquanto sociedade.
Apesar da evolução positiva na educação, continuamos, após 38 de integração europeia, como o país com mais população ativa sem o ensino secundário. Mais grave, desde 2000 que a produtividade do trabalho em Portugal não acompanha o crescimento das qualificações da população. Em 1995 (quando a UE era ainda a 15), a produtividade por hora trabalhada em Portugal representava 69% da média europeia, em 2022 não ia além dos 67%. Somos mais produtivos, mas o crescimento foi inferior ao da média. O mesmo serve para o PIB per capita em PPC, onde desde 2000 caímos 3 posições.
Em 2021, 72% dos jovens recebiam menos de 950 euros líquidos mensais e 30% queriam emigrar. Em 2022, 57% dos emigrados diplomados não pensavam em alguma vez voltar e o rendimento mediano líquido em Portugal (a 12 meses) era de apenas 918 euros/mês.
A idade mediana dos portugueses aumentou de 38,5 para 47 anos em duas décadas e a par da Itália somos o país mais envelhecido da Europa. O sistema de pensões está assustadoramente pressionado e ano após ano o Ageing Report insiste em não traçar cenários otimistas.
Muitos portugueses já não saem jovens da casa dos pais. Apesar dos preços da habitação serem galopantes, somos dos países desenvolvidos que menos construiu habitação na última década.
Estes e muitos outros números e indicadores são a base analítica com que discuto e opino sobre o país. Tudo isto aponta para um futuro incerto, onde a nossa capacidade de pensar e reformar políticas públicas, de forma informada, será decisiva para garantir a prosperidade das atuais e próximas gerações.
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