Consumo privado explica metade do crescimento este ano. Veja os seis alertas de Centeno
Governador do Banco de Portugal alerta que é preciso sustentar o crescimento nas exportações e no investimento e não no consumo. E deixa seis avisos à navegação.
Pela primeira vez em cerca de uma década, este ano o contributo do consumo privado para o crescimento da economia portuguesa deverá ser superior ao das exportações ou do investimento. A previsão é do Banco de Portugal (BdP), naquela que é uma evolução que Mário Centeno considera pouco sustentável, embora para os próximos dois anos acredite numa inversão deste comportamento.
“Em 2024, o contributo do consumo privado é metade do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Isto não acontecia há muitos anos em Portugal. Não é necessariamente o modelo de desenvolvimento mais sustentável na economia“, disse o responsável do Banco de Portugal, Mário Centeno, na terça-feira durante a apresentação do “Boletim Económico” de outubro, em Lisboa.
O Banco de Portugal prevê um crescimento da economia este ano de 1,6%, com um contributo do consumo privado de 0,8 pontos percentuais (pp.) e das exportações de 0,7 (pp.). No entanto, para o próximo ano, para o qual projeta um avanço do PIB de 2,1%, aponta para um contributo do consumo privado de 0,8 pp., das exportações de 0,7 pp. e do investimento de 0,5 pp..
“No horizonte de previsão vemos uma manutenção de crescimento do consumo privado, mas uma dinâmica superior nas exportações e no investimento. Retomaríamos neste cenário a uma trajetória de crescimento mais sustentável e mais próxima daquela que foi a dos últimos dez anos da economia portuguesa”, assinalou o governador do Banco de Portugal.
Nas suas previsões, divulgadas em setembro, o Conselho das Finanças Públicas (CFP) tem, contudo, uma posição distinta. A instituição liderada por Nazaré da Costa Cabral, que prevê uma taxa de crescimento do PIB de 1,8% este ano, aponta para um contributo do consumo privado de 0,7 pp., das exportações de 0,8 pp. e do investimento de 0,1 pp..
Centeno defende a necessidade de sustentar o crescimento nas exportações e no investimento e não no consumo, seja ele público ou privado.
Perante as projeções do Banco de Portugal, Mário Centeno defendeu a “necessidade de sustentar o crescimento nas exportações e no investimento e não no consumo, seja ele público ou privado”, ainda que sublinhe que “desempenhará sempre um papel central quando se mede do lado da despesa a atividade económica”.
O responsável do regulador bancário reconheceu, contudo, que “há boas razões que explicam o comportamento do consumo privado” este ano: “Apesar do aumento da poupança, este crescimento está sustentado num crescimento muito forte do rendimento disponível”, explicou. A influenciar esta evolução está, assim, o aumento do rendimento disponível real, sobre o qual espera um crescimento de 6,6% devido ao dinamismo do mercado de trabalho, do aumento das pensões e de outras transferências e do impacto da redução do IRS.
Centeno realçou ainda a importância do investimento nos próximos anos. “Se não tivermos uma recuperação do investimento dificilmente vamos conseguir sustentar níveis de atividade a crescer como estão na nossa previsão“, frisou.
Os avisos de Centeno à navegação
O governador do Banco de Portugal evitou comentar políticas concretas sobre o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), que será entregue na quinta-feira pelo Governo ao Parlamento. No entanto, deixou algumas mensagens que podem ficar de aviso para a ação política:
- “O exercício de 2024 revela crescimento da despesa pública que não era observado desde 1992. Já passámos por anos suficientes de execuções orçamentais para perceber o que significa”;
- “Vamos ter de começar a pagar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A dívida do PRR vai permanecer até aos próximos 30 ou mais anos. Fazer face à divida do PRR passa hoje a estar em cima da mesa, em particular no próximo quadro comunitário que vai ser iniciado nos próximos meses”;
- “A política expansionista deve ser usada com muita parcimónia“;
- “O saldo da Segurança Social não pode ser usado para financiar a despesa permanente na Administração Central e Local. Se o fizermos vamos estar a prejudicar a sustentabilidade da Segurança Social e das poupanças para pagar pensões no futuro”;
- “A nossa avaliação da situação orçamental desde julho não mudou significativamente. Os riscos que apontávamos nessa altura devem ser transladados para hoje“;
- “As medidas devem seguir um propósito, devem estar avaliadas. Aquilo que nos deixa um pouco mais ansiosos é serem anunciadas medidas sem o respetivo custo, impacto”.
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