“As pessoas desistem dos líderes e não das organizações”

O mundo do trabalho está em transformação e os desafios da retenção de talento vão além das políticas de recursos humanos: a liderança tornou-se crucial.

A forma como se trabalha tem passado por uma transformação acelerada nos últimos anos, impulsionada por avanços tecnológicos, mudanças sociais e novas expectativas das gerações mais jovens.

Flexibilidade e capacidade de adaptação tornaram-se essenciais, à medida que os trabalhadores procuram ambientes que promovam o bem-estar e respeitem a diversidade.

Paralelamente, a retenção de talento enfrenta desafios únicos, com foco crescente na importância da liderança, que vai além da simples gestão. As novas gerações, como a Geração Z, trazem uma visão diferente sobre o trabalho, valorizando menos as hierarquias tradicionais e exigindo uma evolução contínua e um papel mais ativo das empresas no equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Neste contexto, o futuro do trabalho parece apontar para um modelo mais inclusivo, ágil e centrado nas pessoas.

Estas e outras conclusões sobre o mundo do trabalho estiveram em debate na Conferência Anual do Trabalho, que se realizou nos dias 15 e 16 de outubro, no Estúdio ECO, em Lisboa.

Novas tecnologias e a capacidade de aprender

As mudanças que ocorreram no mundo do trabalho, nos últimos anos, foram o ponto de partida do primeiro painel da Conferência Anual do Trabalho. Para Pedro S. Martins, Professor na Nova School of Business and Economics, as inovações tecnológicas a que temos assistido, nas últimas décadas, têm sido muito significativas para o mercado de trabalho. Outro dos pontos destacados pelo professor é a integração económica internacional. “Penso que a União Europeia tem sido um fator enormíssimo em termos de modernização do mercado de trabalho em Portugal, associado ao processo de integração europeia com os fundos europeus e as novas iniciativas legislativas”, explica.

"A ameaça está em quem acha que, como tem experiência, já sabe tudo e não vai precisar de aprender. E quando perceber, em dois ou quatro anos, está completamente desatualizado”

Pedro Henriques, HR Head Portugal na Siemens

Relativamente às competências dos trabalhadores, que também foram mudando os últimos anos, Pedro Henriques, HR Head Portugal na Siemens, é da opinião que o que se sabe hoje não é suficiente para daqui a três anos, principalmente, numa empresa tecnológica. Por isso, a competência que será mais valorizada, de acordo com o especialista, é a capacidade de aprender. “A ameaça está em quem acha que, como tem experiência, já sabe tudo e não vai precisar de aprender. E quando perceber, em dois ou quatro anos, está completamente desatualizado”, afirma.

Pedro Henriques reforça a importância do trabalho em equipa: “Enquanto antes, cada especialista achava que era o rei da sua área, hoje isso não chega, porque se tiver o conhecimento e não trabalhar com os outros, nós não precisamos dele”, refere.

Fidelizar e não reter

“A escassez de talento é quase o novo normal”, afirma António Carvalho, Business Manager Temp & Perm da Gi Group, explicando que, neste sentido, a questão das competências é fundamental e uma fonte de preocupação para as organizações.

António Carvalho fala da importância da distinção entre o reter e o fidelizar os colaboradores, porque o reter “leva-nos para um outro sentido de não trabalhar proativamente, mas reativamente para determinados fatores”. Mas como é que, nos dias de hoje, se retém ou fideliza talento? O especialista enumera alguns fatores, como flexibilidade, inovação, causas sociais, mas destaca um: a liderança.

“Até que ponto é que vamos conseguir ter lideranças aspiracionais que consigam trabalhar para pessoas e no seu desenvolvimento, porque são as pessoas que depois vão dar lugar aos resultados. Como se costuma dizer, as pessoas desistem dos líderes e não das organizações”, explica.

Menos hierarquia, mais rapidez

Como é que a geração Z está a influenciar a cultura laboral? E quais são as expectativas dos mais jovens em relação ao trabalho? “No caso da Siemens estamos com 16% de geração Z, mas sabemos que vamos subir 10% ao ano, o que significa que daqui a quatro ou cinco anos, 50% da empresa irá ser geração Z. Portanto, ou sabemos aprender nos próximos quatro anos ou vamos ter dificuldades”, afirma Pedro Henriques, referindo-se à gestão das empresas. “A geração Z não tem paciência para hierarquias. Gostam de uma relação informal e querem mudar rapidamente”, acrescenta.

António Carvalho fala da importância do equilíbrio desta relação, entre as exigências das novas gerações e os objetivos estratégicos da empresa. “Em muitos casos, associamos a palavra talento só às novas gerações, mas temos muito talento que pertencem a gerações anteriores”, diz. Outro dos desafios apontado pelo especialista é ter a geração X a gerir a geração Z com fatores de motivação e retenção diferentes, apesar de assistir no seu dia-a-dia que, de alguma forma, “existe uma contaminação positiva da geração Z às outras gerações”.

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