Especialistas admitem que IA vai criar empregos, mas alertam para risco de desigualdade

Num painel dedicado ao impacto da inteligência artificial no talento, especialistas sublinharam que a tecnologia vai criar mais empregos do que destruir, mas há risco de também agravar desigualdades.

A inteligência artificial, tal como as ferramentas tecnológicas que a precederam, vai eliminar certos empregos. Mas, em paralelo, vai criar novas posições, transformando a natureza do trabalho e as competências exigidas aos trabalhadores humanos. Foi esta a mensagem deixada esta quinta-feira pelos especialistas que participaram no painel das Conferências do Estoril dedicado ao impacto da inteligência artificial no talento. Ainda assim, admitiram que há risco de esta tecnologia agravar as desigualdades (entre géneros e até entre países).

Da esquerda para a direita, Francisco Veloso, dean da INSEAD, Rembrand M. Koning, professor associado da Harvard Business School, Matthew Prince, CEO da Cloudflare, e Nikolaj Malchow-Møller, diretor de recursos humanos da Deloitte Dinamarca (moderador), nas Conferências do Estoril.Hugo Amaral/ECO

A natureza do trabalho vai mudar. A inteligência artificial vai criar mais oportunidades do que eliminar“, sublinhou Francisco Veloso, português que é hoje diretor da INSEAD, no painel que teve lugar na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (Nova SBE).

O especialista admitiu que certos trabalhos serão, sim, afetados por esta tecnologia, mas outras funções irão aparecer, sendo que os primeiros trabalhadores a serem substituídos serão aqueles que recusam usar estas ferramentas (e, neste caso, as suas funções serão tomadas não por robôs, mas por outros humanos que sabem aproveitar o potencial tecnológico, avisou).

Por exemplo, na própria academia, o trabalho irá mudar, apontou Francisco Veloso. Os professores serão menos alguém que dita o conhecimento e mais alguém que faz curadoria e que supervisiona o trabalho dos estudantes, avançou.

A história mostra-nos que a tecnologia é mais uma criadora de empregos do que uma destruidora de postos de trabalho“, concordou Matthew Prince, CEO da tecnológica Cloudflare, que participou no mesmo painel das Conferências do Estoril.

O responsável aproveitou para o exemplo do trabalho na banca: as caixas automáticas não levaram à redução dos empregados neste setor. Antes, houve um crescimento, mas noutras funções.

Já Rembrand M. Koning, professor associado da Harvard Business School, mostrou-se preocupado com o impacto da inteligência artificial no emprego humano em certos setores, nomeadamente o dos call centers. Por exemplo, nas Filipinas, uma parte considerável da população empregada está concentrada nesse setores e o professor receia que não estejam criadas as condições necessárias para que esses trabalhadores sejam recolocados, quando as posições foram substituídas por máquinas.

Por outro lado, Rembrand M. Koning atirou que “o mais chocante” é a grande fatia de pessoas que continuam a não utilizar a inteligência artificial, mesmo tendo acesso, o que significa que estão a desperdiçar o seu potencial. “O que pode agravar as desigualdades”, projetou o professor. Por exemplo, as mulheres que estão a fazer programas MBA tendem a recorrer menos a ferramentas deste género do que os seus colegas, realçou.

Se quem conseguirá pagar mais é quem terá os modelos mais poderosos, então a inteligência artificial vai exacerbar a desigualdade.

Matthew Prince

CEO da Cloudflare

A propósito, Francisco Veloso deixou claro que “a curto prazo” a inteligência artificial vai criar desigualdades entre países e regiões, até pelo ritmo de adoção. Mas tudo vai depender dos modelos de negócio, disse.

Se quem conseguirá pagar mais é quem terá os modelos mais poderosos, então vai exacerbar a desigualdade“, afirmou, no mesmo sentido, o CEO da Cloudfare, que apelou a que os legisladores europeus criem regulação que não asfixie os desenvolvimentos tecnológicos, mas os incentive.

Na mesma linha, o professor Rembrand M. Koning assinalou que, se a inteligência artificial ficar concentrada em três ou quatro grandes empresas, o risco de desigualdades será maior do que se houver uma maior distribuição.

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