Há que criar condições para que os grandes "fundos de pensões privados passem a investir mais em venture capital", defende António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal.
Há menos unicórnios com ADN português, mas António Dias Martins não considera que isso seja sintoma de má saúde do ecossistema de empreendedorismo nacional que, num ano, viu nascer mais 16% de startups no país. Apesar de um aumento do investimento estar a ser canalizado para o ecossistema, há um problema de financiamento em duas frentes. Uma delas, nas grandes rondas para voos maiores que obrigam as empresas nacionais a rumar a outras geografias.
Por isso, o diretor executivo da Startup Portugal acredita que há que criar condições para que os grandes “fundos de pensões privados passem a investir mais em venture capital, não devam ser sempre os públicos a investir“. Tema que gostaria que fosse objeto de medidas do Governo em futuros planos de Acelerar a Economia.
O ‘pacotão’ anunciou em julho um fundo deeptech. “Essa é uma das medidas que está a ser trabalhada com a nossa intervenção e sobre isso não gostaria de adiantar mais nada. Estou com expectativa de que seja brevemente anunciado”, disse o diretor executivo da Startup Portugal, sem mais detalhes.
Criar em mercados, como EUA e Brasil, polos dinamizadores da ligação das startups portuguesas ao ecossistema local, promovendo o seu acesso a programas de aceleração de universidades, verdadeiros “selos de qualidade” que facilitam acesso a financiamento é uma das medidas que defende para impulsionar a internacionalização do ecossistema.
Temos mais startups no país, mas 89% são microempresas, e menos unicórnios, aponta o Startup & Entrepreneurial Ecosystem Report 2024. O ecossistema tem um grande problema em mãos para escalar.
Vejo os resultados deste mapeamento atualizado 2024 como positivos. Termos mais 16% de startups em Portugal — temos 4.719, o que compara com 4.073 em 2023 — é uma evolução positiva, até um bocadinho em contraciclo, porque o que se sente no mundo do empreendedorismo, até internacionalmente, é crescente dificuldade no financiamento a este tipo de empresas. Crescemos 16%, depois de um crescimento de 10% entre 2022 e 2023. Ou seja, estamos há dois anos consecutivos a crescer a mais de dois dígitos percentuais por ano.
Mas não estamos a sair da fase startup. Portugal posicionou-se como “Startup Nation”, mas o objetivo era dar o passo seguinte, escalar.
É verdade. Termos decrescido o número de unicórnios — as razões são conhecidas e têm a ver com a saída da Farfetch deste grupo de empresas de maior dimensão e com valorização acima de 1.000 milhões de dólares —, não deve ser visto com muita preocupação. Temos muitas scaleups portuguesas a fazer um bom trabalho, a escalar internacionalmente e, portanto, esta métrica do número de unicórnios, é importante, mas não deve ser aquela que mais sobressai. Se tivermos muitas scaleups, startups bem-sucedidas e internacionalizadas a puxar pela economia portuguesa, é tão bom ou melhor.
De acordo com o mesmo estudo, empresas de média dimensão são apenas 2,1%.
Sim, a grande maioria são mesmo pequenas.
Muitas empresas de grande dimensão acabam por ser incentivadas a mudar de geografia porque não encontram em Portugal as condições ideais de financiamento. (…) Recorrem a investidores americanos, com capacidade para colocar numa ronda de financiamento 50 milhões, 100 milhões, 150 milhões de dólares numa empresa. Não temos isto com facilidade na Europa e, muito menos, em Portugal.
Não é só uma questão de poucos unicórnios, portanto. Há dificuldade em transformar essas mais de 80% de micro empresas em companhias com dimensão mais robusta.
É estrutural na nossa economia. Somos caracterizados por um tecido empresarial composto essencialmente de micro e pequenas e médias empresas e, portanto, as startups não fogem a essa realidade. O que temos sentido é que estas empresas têm condições adicionais para se internacionalizarem, estão a fazer o seu percurso internacional, muitas morrem também, é uma situação perfeitamente normal. Temos que continuar a apoiar o financiamento a estas empresas para que possam dar o passo qualitativo e ganharem outra dimensão enquanto estão em Portugal.
O que pode contribuir para essa realidade que aparece nas estatísticas — este estudo apanha só empresas em Portugal e que desenvolvem aqui a sua atividade — é que muitas empresas de grande dimensão acabam por ser incentivadas a mudar de geografia porque não encontram em Portugal as condições ideais de financiamento.
Invariavelmente, e este é um problema europeu, estas empresas quando ganham uma dimensão muito significativa, recorrem a investidores americanos, com capacidade para colocar numa ronda de financiamento 50 milhões, 100 milhões, 150 milhões de dólares numa empresa. Não temos isto com facilidade na Europa e, muito menos, em Portugal.
Tem que ser uma política concertada com a União Europeia para encontrar estímulos adicionais para que os grandes detentores de capital a nível europeu invistam uma parte dos seus assets under management em fundos de venture capital. Isso tem que acontecer. No Reino Unido, por exemplo, o ministro das Finanças anda a percorrer estes grandes investidores, a convencê-los a investir e a diversificar os seus portefólios para colocar mais dinheiro nesta área de atividade.
Os investidores americanos estão financiados por enormíssimos fundos de pensões privados, cerca de 80 a 90% do financiamento do venture capital nos EUA. Na Europa, e em Portugal, a participação de fundos de pensões no financiamento a venture capital é mínima, 8 a 9%. É um gap enorme. Isso faz com que exista uma saída das scaleups que procuram rondas maiores e que, para obterem esse financiamento, cedem às condições que estes investidores colocam. E uma é mudar a sede para os Estados Unidos, para geografias com fiscalidade mais favorável.
E como se dá volta a isso? Operadores referem maior liquidez no mercado, que os fundos SIFIDE deram mais músculo. Mas quando se trata de grandes rondas…
Há dois desafios ao nível do funding que interessa atacar. No muito early stage há poucos fundos para financiar a fase de ideação até à ignição da startup. E depois, no extremo oposto, no muito later stage, falta poder de investimento para rondas grandes. Como se resolve isto?
No plano internacional, tem que ser uma política concertada com a União Europeia para encontrar estímulos adicionais para que os grandes detentores de capital a nível europeu invistam uma parte dos seus assets under management em fundos de venture capital. Isso tem que acontecer.
No Reino Unido, por exemplo, o ministro das Finanças anda a percorrer estes grandes investidores, a convencê-los a investir e a diversificar os seus portefólios para colocar mais dinheiro nesta área de atividade e nas startups, considerada uma área estratégica para o desenvolvimento do país. Na Alemanha há um pacote muito significativo de estímulos para o setor tecnológico e para as startups, cerca de 60 mil milhões de euros.
Temos que criar condições para que os privados peguem neste ângulo de investimento e o desenvolvam de forma sustentável. Para isso, os grandes fundos de pensões privados têm que passar a investir uma parte do seu portefólio, seja 2%, 3%, 4%. Não é preciso mudarem o seu perfil de investimento. Ninguém está aqui a pedir que os fundos soberanos ou de segurança sociais dos países, etc. de repente coloquem uma parte significativa…
Mas faria sentido a Segurança Social fazer esse investimento?
Em Portugal não começaria por aí, há algum receio no que rodeia os fundos de pensões da Segurança Social. Do ponto de vista estritamente técnico e financeiro, sim. Se os fundos públicos de Segurança Social investirem 1 ou 2% dos seus ativos sob gestão numa classe mais arriscada como esta, não é por isso que vão mudar de forma relevante o perfil conservador dos seus investimentos.
Mas há muito fundos privados em Portugal, de bancos, de seguradoras, grandes detentores de liquidez, para investir e que, na gestão dos seus fundos, não usam ainda o venture capital como destino. Começava por esses.
O que falta para isso acontecer? O ministro das Finanças português seguir o exemplo do seu congénere britânico e fazer esse roadshow junto dos fundos de pensões?
Essa é uma forma possível, mas tem que ser complementado com argumentos concretos que devem ser postos em cima da mesa. A gestão desses fundos é muito técnica, profissional, responde bem a estímulos, a incentivos, a regimes favoráveis. Há que desenhar todo esse percurso, colocar em cima da mesa esses argumentos para que estes fundos passem a financiar esta atividade.
Essa pequena mudança — que não alteraria radicalmente o perfil de risco destes fundos, não tem impacto relevante em Orçamento de Estado, não afeta o nosso défice, nem contas públicas — seria um game changer para as startups em Portugal, nomeadamente para as scaleups. Permitiria que os processos de internacionalização destas empresas fossem motivados por razões de mercado e que a mudança de geografias deixasse de ser feita por uma questão administrativa, de obtenção de funding, de regimes fiscais.
Nunca houve tantos apoios públicos ao empreendedorismo como agora. Se compararmos o que temos agora com o que havia há dez, 12 anos, é incomparavelmente melhor.
É o que falta no pacote de medidas para Acelerar a Economia?
É uma matéria muito discutida no Conselho Estratégico da Startup Portugal e que já foi proposta. Aguarda luz verde para poder avançar e preparar medidas e políticas concretas para atacar efetivamente este ponto. Temos tido uma boa recetividade do Governo às nossas propostas.
Estamos com uma expectativa bastante positiva relativamente ao que poderá ser agora brevemente anunciado, até por ocasião da Web Summit, de medidas públicas e do governo para promover e desenvolver o ecossistema empreendedor em Portugal. Esta componente específica do funding tem uma elevada complexidade, exige um estudo e preparação aprofundados, julgamos que poderá estar na agenda do próximo ano. Temos intenção de não deixar cair esta proposta.
Para ser incluída em Orçamento?
Não está ainda claro que o impacto seja relevante e que necessite estar em Orçamento de Estado. Tem que ser estudado e depende do tipo de benefícios ou incentivos que se colocarem em cima da mesa. [O assunto] já está sinalizado. Não houve uma má receção, mas faltam dar passos no seu estudo e operacionalização. É uma prioridade também na ESNA — a Europe Startups Nation Alliance, da qual
Portugal é membro fundador — que tem também esse assunto na sua agenda ao nível da política europeia. Há aqui até uma convergência de prioridades. Tudo isto cria condições para que se possa trabalhar com tempo e a expectativa de colocar medidas implementadas num futuro, espero, próximo. Não consigo quantificar, dar uma perspetiva de datas, mas posso garantir que não sai da nossa prioridade e das nossas propostas.
E o fundo de deeptech anunciado no ‘pacotão’. Há alguma visibilidade sobre o que se pretende?
Essa é uma das medidas que está a ser trabalhada com a nossa intervenção e sobre isso não gostaria de adiantar mais nada. Estou com expectativa de que seja brevemente anunciado.
Houve há dois anos um grande anúncio na Web Summit, 90 milhões do PRR para injetar no ecossistema, mas tarda em chegar às startups. O Estado tem feito o seu papel de financiador?
Nunca houve tantos apoios públicos ao empreendedorismo como agora. Se compararmos o que temos agora com o que havia há dez, 12 anos, é incomparavelmente melhor. Em 2023 foi criada uma nova lei das startups. Para além da definição e do enquadramento legal para este tipo de empresas, avançou com um regime fiscal para stock options, o mais competitivo da Europa.
Foi criado o regime IFICI+, permitindo aos colaboradores de startups recrutados em países estrangeiros pagar, durante dez anos, uma taxa de IRS de apenas 20%, o que compara muitíssimo bem com outros países. Temos os vouchers para startups, os vales para incubadoras — a aplicação concreta de verbas do PRR para o empreendedorismo —, e depois outras medidas que, não sendo direcionadas especificamente para o empreendedorismo, acabam por ter impacto: os digital innovation hubs, as test beds, as zonas livres tecnológicas.
O papel do Estado aí tem sido positivo e de estímulo e é assim que deve ser. Comparado, por exemplo, com os EUA, estamos com um atraso grande em relação à maturidade do ecossistema empreendedor. E, no início do ecossistema empreendedor nos EUA, foi também o Estado que investiu.
Por exemplo, foi o Estado que lançou um conjunto de iniciativas que levaram a que empresas tecnológicas se juntassem em Silicon Valley para apresentar soluções, nomeadamente para a indústria da defesa. Estamos a fazer um percurso também desse tipo. É evidente que, a partir de um certo momento, é normal deixar de ter este tipo de apoios públicos e os privados entrarem.
O exemplo que referi em relação ao financiamento é claro. Defendo que os fundos de pensões privados passem a investir mais em venture capital, não devam ser sempre os públicos a investir. Isto tornar-se-á sustentável e saudável do ponto de vista de não depender de fundos públicos no futuro. Até lá é importante o Estado apoiar e tentar colmatar e resolver gaps que existem. Estes do funding é um, a atração e retenção de talento é outro, mas há medidas concretas, até no próximo Orçamento de Estado, que endereçam esse assunto.
Mas há duas áreas onde ainda é possível fazer mais. A ligação às universidades e aos empreendedores vindos do ensino, que têm falta de apoio nos passos iniciais na conversão das suas boas ideias em projetos empresariais, é claramente uma área onde há um gap. Outra é a área de internacionalização, principalmente para geografias mais distantes, que exigem grande esforço e investimento da parte das startups portuguesas, como os EUA ou o mercado asiático. Duas grandes geografias, com grande potencial, nomeadamente o Sudoeste asiático, ainda por explorar.
Mas que tipo de apoios? A Startup Portugal, em parceria com a AICEP, leva muitas startups a feiras internacionais. Depois fala-se com os fundadores e referem a necessidade de apoios mais operacionais para entrada nos mercados.
As ‘Business Abroad Mission’ são um sucesso, têm apoiado centenas de startups nos últimos anos, não só a propósito e a pretexto de feiras tecnológicas, em parceria com a AICEP, com os consulados e embaixadas, proporcionando a estas startups uma forma fácil de contactarem, num período curto de tempo, com uma multiplicidade de interlocutores locais relevantes — investidores, agentes, potenciais clientes, parceiros, entidades governamentais — que podem fazer a diferença. Essa é uma via. Mas o que defendo, por exemplo, para mercados como os EUA, é mais do que isso.
Os EUA são exemplares na ligação das universidades com o empreendedorismo. Têm programas de aceleração que permite às startups, depois de passar por esse processo — muito em ligação com universidades, profissionais, mentores, C-levels de companhias importantes — ficar imediatamente carimbadas com selo de qualidade, o que lhes permite após sair desses programas, com muito maior facilidade, receber fundos de venture capital e de investidores.
Nestas geografias onde existe esta prática, temos que estabelecer outro tipo de colaboração que nos permita beneficiar desses programas dando acesso a empreendedores e startups portuguesas. Ter, se calhar, um centro ou uma estrutura permanente a puxar pela inovação e pela tecnologia portuguesa, localizadas nestas geografias de destino, um polo de atração, de apoio e de viabilização para as startups portuguesas entrarem nestes processos de mentoria e formação.
Isso passaria por parcerias, como a que existe entre a FCT e as universidades americanas?
Esse é um exemplo que temos que olhar e ver também o que outros países estão a fazer. Isso já é feito por outros países europeus que têm lá os seus polos e que, no terreno e em permanência, estabelecem uma ligação e uma parceria muito forte com o mercado local. O Brasil pode ser outro exemplo, onde podemos estabelecer uma presença mais permanente e mais próxima.
São mercados onde não é suficiente uma missão de alguns dias, exigem uma abordagem integrada, mais permanente, mais estratégica e que passa por algum investimento em medidas desta natureza. São exemplos de políticas que gostaríamos de ver implementadas no campo da internacionalização, ainda por fazer.
Já abordaram o tema com o Governo? É o tipo de iniciativa que envolve ministério da Economia, dos Negócios Estrangeiros, da Educação….
O tema da internacionalização está identificado como prioritário naquilo que defendemos como a Estratégia Nacional para o Empreendedorismo. Penso que depois deste pacote inicial das medidas para Acelerar a Economia teremos condições para pegar em medidas como esta.
O feedback que tivemos em relação às medidas que propusemos e que ficaram fora do pacote é que não ficaram fora por uma razão de discordância e que entrarão num pipeline de medidas a estudar e a analisar e, portanto, não estão postas de parte.
Uma das medidas em pipeline será o regime de stock options? Foi muito contestado, acusado de ser um convite à saída das scaleups do país, o Presidente da República fez reparos nesse sentido aquando da sua promulgação. Um ranking recente da Index Ventures, uma sociedade de capital de risco europeia, colocou-o no top 10, acima dos EUA. Vai ser mexido?
Desde o início que disse que este novo regime fiscal para as stock options era uma excelente medida e um passo na direção certa. Não é perfeito, precisa de limar arestas, mas foi uma grande evolução face ao que tínhamos e, de facto, estamos no topo dos regimes fiscais nesta matéria.
Nas startups, todos os colaboradores, todos os fundadores, todos os acionistas estão abrangidos. No caso das scaleups, todos os colaboradores e acionistas, até uma participação de 20%, também estão. Só os acionistas com uma participação superior a 20% é que não estão incluídos. Defendemos que passem a estar também abrangidos, não nos faz sentido essa distinção. Não está fora da agenda, está identificado, não tenho uma data para que seja corrigido.
Não me parece que a Europa deva ser remetida para um papel de regulador, é limitador e não corresponde à realidade. Os EUA ainda não começaram a regular a IA, há discussões sobre como vão regular e algumas das propostas que têm vindo a lume são tão ou mais restritivas do que as implementadas no AI ACT. Vamos ver ainda como os EUA se vão posicionar nessa matéria.
Mario Draghi no seu relatório para a Competitividade alertou para o excesso de regulação na Europa, para o facto de 30% dos unicórnios terem ido para os EUA, e que a Europa não pode perder o potencial da IA para o bloco americano ou chinês. Como comenta? Que papel pode ter Portugal nesta mudança?
Esse relatório tem a vantagem de pôr o dedo na ferida e identificar prioridades importantíssimas para que a Europa se debruce, de uma vez por todas, sobre temas vitais para o seu crescimento e fortalecimento do ponto de vista económico. Não vejo as coisas tão negras como que têm saído de interpretações e de comentários.
Não me parece que a Europa deva ser remetida para um papel de regulador, é limitador e não corresponde à realidade. Os EUA ainda não começaram a regular a IA, há discussões sobre como vão regular e algumas das propostas que têm vindo a lume são tão ou mais restritivas do que as implementadas no AI ACT. Vamos ver ainda como os EUA se vão posicionar nessa matéria.
A ferida que vem ao de cima [com o relatório Draghi], é que não se pode deixar de estimular a inovação, o empreendedorismo, o crescimento económico e empresarial, dando demasiada prioridade a outros aspetos, nomeadamente regulatórios, deixando que a burocracia, a máquina, as diferenças entre países em torno destes aspetos regulamentares e tecnocráticos, absorvam mais do que o que deviam e que incentivem as empresas a escolher outras geografias para desenvolver as suas atividades.
Falta na Europa muita standardização. Nos EUA é muito fácil, de um dia para o outro, um business angel ou um pequeno investidor pôr dinheiro numa empresa. Assinam um papel numa assinatura digital e transferem o dinheiro numa tarde. A standardização da legislação, a facilidade de interpretação de regulamentos, toda a organização administrativa à volta das empresas, é feita para facilitar, simples de perceber e de explicar aos investidores.
A Europa deve dar passos muito grandes nesse sentido, porque estamos longe desse estágio. O objetivo da ESNA de derrubar barreiras, da Europa ser vista como o único mercado de 500 milhões de pessoas, é bondoso, mas difícil de atingir, porque cada Estado tem as suas particularidades.
Há uma petição europeia a decorrer para promover essa simplificação.
De um contrato simplificado para empresas. É uma iniciativa que vem do ecossistema à qual devemos dar a máxima atenção e vai no caminho de nos aproximamos de condições que existem, por exemplo, nos EUA e que não temos na Europa. Há um caminho grande a percorrer, não conseguimos fazê-lo sozinho em Portugal, aqui a intervenção da ESNA e da Comissão Europeia é fundamental. Temos, pela primeira vez, uma Comissária dedicada para as startups [Ekaterina Zaharieva, antiga vice-primeira ministra da Bulgária].
É uma oportunidade também de aproveitarmos o protagonismo que esta matéria pode ter e um excelente sinal dado no sentido da aposta nesta matéria. A expectativa é que com este tipo de iniciativas individuais ou mais estruturadas da parte da ESNA, com o contributo ativo de Portugal, se consiga promover uma evolução clara da Europa nesta matéria.
A IA já não é uma opção. Todas as startups, todo o tecido empresarial, tem de passar a utilizar IA. (…) Neste momento, para ter um exemplo concreto, os venture capital já não querem ouvir falar de projetos de startups que não tenham já introduzidos nos seus processos IA. Riscam do pipeline já são condições quase de exclusão.
Recentemente, Luís Montenegro disse no Parlamento que o Governo “está disponível” para criar uma Agência para a Inteligência Artificial. O que gostaria que essa agência definisse, que propostas fizesse para que as startups e o país pudessem tirar partido dessa nova tecnologia?
Tenho uma abordagem muito prática a esse tema: a IA já não é uma opção. Todas as startups, todo o tecido empresarial, tem de passar a utilizar IA. A criação de condições para que isso aconteça, de uma forma apoiada, seja por uma estrutura como essa, seja por outras, só pode ser positivo. Neste momento, para ter um exemplo concreto, os venture capital já não querem ouvir falar de projetos de startups que não tenham já introduzidos nos seus processos IA. Riscam do pipeline, já são condições quase de exclusão.
O país tem mesmo que criar condições para que a IA entre no dia a dia das empresas, sejam mais ou menos tradicionais. Espero que o contributo dessa agência seja mesmo de promover e de incentivar e apoiar a adoção prática da IA pelo tecido empresarial, que necessita de apoio do ponto de vista de expertise, de formar pessoas, de as fazer entender que ferramentas usam, como se interage com esta tecnologia. Não há outro caminho.
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