Ministro israelita prevê a anexação total da Cisjordânia após a vitória de Trump
"Estávamos a um passo de implementar a soberania sobre os colonatos na Judeia e Samaria (Cisjordânia), e agora chegou o momento de o fazer", disse o ministro das Finanças de Israel.
O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, disse esta segunda-feira durante uma reunião do Partido Sionista Religioso que tanto Gaza como a Cisjordânia serão “para sempre retiradas” aos palestinianos, na sequência da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas.
“Estávamos a um passo de implementar a soberania sobre os colonatos na Judeia e Samaria (Cisjordânia), e agora chegou o momento de o fazer”, disse Smotrich, que é também ministro-adjunto do Ministério da Defesa, responsável pelos assuntos civis na Cisjordânia ocupada, em declarações aos membros da coligação ultranacionalista, liderada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
“Hoje, existe um amplo consenso na coligação e na oposição contra a criação de um Estado palestiniano que poria em perigo a existência do Estado de Israel”, acrescentou, num discurso em que também qualificou os membros do movimento islamita palestiniano Hamas e de outras milícias pró-iranianas de “nazis”, opondo-se também ao fim da guerra em Gaza.
O governante de extrema-direita regozijou-se com a vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas, realizadas na semana passada. “Após anos em que, infelizmente, a atual administração [norte-americana] optou por interferir na democracia israelita e se recusou pessoalmente a cooperar comigo como ministro das Finanças de Israel, a vitória de Trump traz também uma oportunidade importante”, disse Smotrich, acrescentando que “2025 é o ano da soberania na Judeia e Samaria”.
No final de maio, o exército israelita entregou poderes legais significativos na Cisjordânia ocupada a funcionários dos colonos liderados por Smotrich, numa ação que vários especialistas jurídicos descreveram como uma anexação “de facto”, já que o objetivo final passa pelo controlo direto dos territórios palestinianos pelo Governo israelita.
Smotrich afirmou também ter dado instruções à divisão de administração de colonatos do Ministério da Defesa e à administração civil do exército israelita na Cisjordânia para darem início à preparação das infraestruturas necessárias para ocupar a Cisjordânia. Este ano já registou um recorde apropriação de terras palestinianas, após Israel declarar mais de 2.300 hectares na Cisjordânia ocupada como terras do Estado, um mecanismo que utiliza, juntamente com a designação de reservas naturais e áreas de treino militar, para expulsar mais palestinianos e controlar o território.
A organização não-governamental (ONG) israelita Peace Now, que se opõe aos colonatos israelitas na Cisjordânia, declarados ilegais pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), condenou as declarações de Smotrich, afirmando que a anexação de territórios palestinianos “serve uma minoria messiânica e conduzirá ao desastre e à destruição, condenando Israel a um ciclo interminável de conflitos e guerras a que a maioria da população deseja pôr fim”.
Israel tomou o controlo da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental na Guerra dos Seis Dias de 1967 e, desde então, tem mantido uma ocupação militar deste território palestiniano. O Governo israelita, liderado por Benjamin Netanyahu, promove uma política de expansão dos colonatos através do Conselho de Colonização de Israel, que é apoiado pelo exército no terreno.
Ministro da Defesa israelita afasta cessar-fogo com o Hezbollah sem capitulação
No mesmo dia, o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, afastou um cessar-fogo com o Hezbollah no Líbano sem uma capitulação do movimento xiita, no mesmo dia em que o seu colega dos Negócios Estrangeiros, Gideon Saar, admitiu avanços nas negociações. “Não haverá cessar-fogo e não haverá pausa nos ataques contra o Hezbollah”, disse Katz, dirigindo-se, pela primeira vez desde que tomou posse, ao Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF).
O novo titular da Defesa acrescentou que uma proposta de acordo de cessar-fogo “significando a capitulação do Hezbollah e cumprindo todas as condições” exigidas por Israel mereceria “muito seriamente” a consideração de Israel. Este pronunciamento surgiu após o chefe da diplomacia de Israel admitir “alguns progressos” sobre um cessar-fogo no Líbano, onde o Exército israelita intensificou uma ofensiva militar contra o Hezbollah em setembro.
“Estamos a trabalhar neste assunto com os norte-americanos”, afirmou, em conferência de imprensa, Gideon Saar, que assumiu na sexta-feira o cargo, em substituição de Katz, que, por sua vez, transitou para a Defesa. O Hezbollah, apoiado pelo Irão, começou a bombardear o norte de Israel a partir do sul do Líbano em apoio ao Hamas, que enfrenta uma ofensiva militar de Telavive na Faixa de Gaza desde que atacou solo israelita em 7 de outubro de 2023.
Israel aumentou, a partir de 23 de setembro, as suas operações no Líbano e iniciou uma invasão terrestre na semana seguinte, alegando que pretendia criar condições de segurança para o regresso a casa de cerca de 60 mil descolados pelas hostilidades no norte do país. De acordo com as autoridades de Beirute, o conflito no Líbano já provocou mais de três mil mortos em mais de um ano, a maioria dos quais no último mês e meio, e acima de 1,2 milhões de deslocados.
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