Conselho das Finanças Públicas apela a que Governo avance mesmo com revisão da despesa pública
Presidente do Conselho das Finanças Públicas alerta para necessidade de um modelo de revisão da despesa pública que seja consequente, numa altura em que regras europeias obrigam a maior controlo.
A revisão da despesa pública é um dos objetivos do Governo e têm sido apontando como fundamental pelas instituições que analisam as contas públicas portuguesas. Agora há mais uma voz a juntar-se a este apelo: a da presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP), Nazaré da Costa Cabral, que alerta para a importância do tema numa altura em que o controlo dos encargos do Estado vai apertar devido às novas regras europeias.
Numa audição parlamentar que teve lugar esta quinta-feira no âmbito da apreciação na especialidade do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), Nazaré da Costa Cabral defendeu a necessidade que se avance não apenas com o exercício de identificação das despesas públicas essenciais e supérfluas, mas também como a sua prioridade e respetiva eliminação caso se justifique.
“É um grande desafio que o Governo tem entre-mãos, o de avançarmos claramente para um modelo de revisão da despesa que seja consequente nos seus termos, que cubra toda a despesa pública”, disse, acrescentando que esta avaliação deverá permitir identificar quais são os encargos menos prioritários “para que sejam descontinuados”.
É um grande desafio que o Governo tem entre-mãos, o de avançarmos claramente para um modelo de revisão da despesa que seja consequente nos seus termos, que cubra toda a despesa pública.
Em causa está o exercício orçamental que analisa de forma detalhada e sistemática a despesa base do Estado, com o objetivo de gerir o nível agregado de despesas, identificar medidas de poupança ou de reafetação de verbas, criando margem orçamental, e de melhorar a eficácia dos programas e das políticas.
Nazaré da Costa Cabral defendeu que este exercício se torna mais urgente “num contexto em que a malha em relação à despesa pública se vai apertar” na sequência das regras que regem os planos orçamentais estruturais de médio prazo.
O tema já tinha sido abordado pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) na análise à proposta orçamental. A unidade coordenada por Rui Nuno Baleiras recordou que o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, sinalizou aquando da apresentação do Orçamento que o Governo quer avançar com uma revisão da Lei de Enquadramento Orçamental (LEO), na qual se inclui a introdução de um mecanismo de revisão de despesa.
“Com assistência técnica da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico], o Ministério das Finanças tem levado a cabo nos últimos anos uma série de trabalhos tendente a tornar mais profissionais os exercícios de revisão da despesa e é desejável que os princípios gerais de governança deste mecanismo ganhem dimensão jurídica“, refere a apreciação da UTAO.
O Ministério das Finanças tem levado a cabo nos últimos anos uma série de trabalhos tendente a tornar mais profissionais os exercícios de revisão da despesa e é desejável que os princípios gerais de governança deste mecanismo ganhem dimensão jurídica.
Desde 2013 foram executados três exercícios de revisão de despesa: um durante a troika (2013-2014), um entre 2016 e 2023, e um com início em 2023 e que ainda decorre. No Orçamento do Estado para o próximo ano, o Governo prevê poupar 336,9 milhões de euros até 2027 com a identificação de despesa ineficiente e ineficaz e a ponderação de opções de poupança na saúde, no funcionamento das Administrações Públicas e de subvenções públicas.
Nas contas do Ministério das Finanças, a revisão de despesa dos exercícios em curso vai permitir uma poupança anual de 84,7 milhões de euros em 2025, a que se segue 236,9 milhões de euros em 2026 (fortemente influenciado pelas subvenções públicas) e de 15,3 milhões de euros em 2027.
Ora, a UTAO sugere, no entanto, que a inscrição na Lei de Enquadramento Orçamental (LEO), sinalizada pelo ministro da tutela, “não seja demasiado detalhada a ponto de dificultar a melhoria gradual do mecanismo ao longo dos anos”.
“Não haverá ainda solidez suficiente para cristalizar detalhes operacionais, tanto mais que a revisão de despesa está dependente da estabilização da contabilidade de gestão nas entidades públicas e da definição de indicadores de acompanhamento e avaliação do cumprimento de metas extra-financeiras ao nível de medidas de política individuais”, aponta.
Na avaliação à Conta Geral do Estado (CGE) de 2023, divulgada em outubro, o Tribunal de Contas considera que os exercícios de revisão de despesa levado a cabo nos últimos anos têm ficado aquém dos objetivos. O Tribunal concluiu que, após mais de dez anos após a primeira experiência com revisão da despesa, este tipo de exercício não registou um nível de desenvolvimento que permita utilizá-lo como um instrumento significativo de apoio à gestão financeira pública”, pode ler-se no relatório.
Para o Tribunal, a base desta fragilidade reside na “falta de institucionalização do exercício”, na “reduzida transparência na sua condução” e no “insuficiente envolvimento político”. Ainda assim assinala que em 2023 começaram-se “a criar relações efetivas, enquadradas em referenciais técnicos sólidos, com as entidades que se pretende que venham a desempenhar papéis relevantes nos processos de revisão da despesa”.
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