Wall Street resiste e Europa afunda com escalar da guerra na Europa

O ataque ucraniano com mísseis de longo alcance e a revisão da doutrina nuclear russa provocam turbulência nos mercados. Índices europeus caem, ouro sobe e Wall Street resiste à boleia da Nvidia.

Os mercados financeiros globais foram abalados esta terça-feira por uma nova escalada de tensões entre a Rússia e a Ucrânia, após Kiev ter utilizado pela primeira vez mísseis de longo alcance para atacar território russo. A situação agravou-se ainda mais quando o presidente russo, Vladimir Putin, assinou uma atualização da doutrina nuclear do país, alargando as condições para o uso de armas atómicas.

O efeito destes dois episódios foi sentido de imediato nos mercados financeiros. As principais praças europeias rapidamente mergulharam numa onda vermelha que se prolongou até ao fecho da sessão desta terça-feira, que é refletida numa queda de 0,4% do índice pan-europeu Stoxx 600 após ter estado a afundar 1,5% para os 495,55 pontos, o nível mais baixo desde 8 de agosto.

O nervosismo dos investidores europeus foi também espelhado no disparo de quase 20% do “índice do medo” europeu durante a manhã, com o Vstoxx (que é baseado nos preços das opções do Euro Stoxx 50 e que reflete as expectativas do mercado quanto à volatilidade a curto e longo prazo) a negociar no valor mais elevado deste mês.

O impacto das tensões geopolíticas entre Kiev e Moscovo foi particularmente sentido na Polónia, país que serve como proxy para os riscos crescentes na região devido à sua proximidade geográfica com o conflito. O principal índice acionista do país, o WIG20, abriu a cair 4,8%, para depois fechar com uma queda de 2,8%, a maior queda entre os índices europeus desta terça-feira e o seu maior declínio diário desde 5 de agosto.

O zloty, a moeda polaca, também sofreu, enfraquecendo 0,5% face ao euro, contabilizando assim o pior desempenho entre mais de 20 moedas de mercados emergentes. Esta reação destaca a vulnerabilidade dos ativos polacos às escaladas no conflito russo-ucraniano.

Em Wall Street, os três principais índices iniciaram a sessão também em terreno negativo, mas foram recuperando ao longo do dia. Atualmente, o Dow Jones continua a perder 0,3%, mas tanto o S&P 500 como o Nasdaq já estão em terreno positivo, registando ganhos de 0,15% e 0,54%, respetivamente, impulsionado pela subida de 2,6% das ações da Nvidia, que apresenta resultados na quarta-feira.

Nos mercados de matérias-primas, o ouro, tradicionalmente visto como um ativo de refúgio em tempos de incerteza, chegou a subir 1% com a onça a negociar nos 2.639 dólares. Já o petróleo encontra-se a negociar em queda, com o Brent a cair 0,25% para os 73,14 dólares, e o WTI a perder cerca de 0,1%.

Guerra na Europa sobe de nível

O ataque ucraniano com mísseis de longo alcance fornecidos pelos EUA na região fronteiriça russa de Bryansk esta terça-feira marca uma mudança significativa na estratégia de Washington, que até agora tinha restringido o uso destas armas a alvos em território ucraniano.

Esta decisão dada pelo atual presidente norte-americano, segundo fontes citadas pela Associated Press, levanta preocupações sobre uma possível escalada do conflito.

Em resposta, Putin assinou uma atualização da doutrina nuclear russa que permite ao país expandir o uso de armas atómicas. A nova doutrina afirma que a Rússia se reserva o direito de usar armas nucleares em caso de agressão com o uso de armas convencionais contra ela ou contra o seu aliado, a Bielorrússia, que crie uma ameaça crítica à soberania ou integridade territorial.

A Casa Branca reagiu com cautela, afirmando que a mudança na doutrina nuclear russa era esperada e que os EUA não veem necessidade de ajustar a sua própria postura nuclear. Na Europa, as atenções estão centradas na contínua demonstração de apoio da União Europeia à Ucrânia, tendo recentemente decidido utilizar os lucros provenientes dos bens russos congelados para ajudar Kiev.

Recentemente, Ursula von der Leyen anunciou um pacote significativo de ajuda financeira que inclui um empréstimo de 35 mil milhões de euros para apoiar a economia e as forças armadas ucranianas. Este apoio revela-se vital num momento em que a Ucrânia enfrenta grandes desafios devido aos ataques contínuos da Rússia, que têm devastado infraestruturas essenciais e causado uma crise humanitária crescente.

O escalar da guerra cria também uma dose extra de pressão junto da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que este ano reduziu as taxas de juro em várias ocasiões, com cortes que totalizam 75 pontos base desde junho.

A taxa principal de refinanciamento foi fixada em 3,4%, enquanto as taxas de depósitos e de cedência de liquidez também foram ajustadas para refletir um ambiente económico mais desafiador. A presidente do BCE, Christine Lagarde, tem enfatizado que a política monetária será guiada por dados económicos e que a instituição está comprometida em alcançar uma inflação de 2% no médio prazo.

Além disso, o BCE tem monitorado atentamente as expectativas de inflação e os indicadores económicos para garantir que não haja um desvio significativo das metas estabelecidas. A abordagem cautelosa do BCE visa não apenas estabilizar os preços, mas também evitar um abrandamento excessivo do crescimento económico na zona euro. Apesar das pressões inflacionárias persistentes e das tensões geopolíticas, Lagarde afirmou que as condições financeiras permanecem restritivas e que a trajetória descendente da inflação é uma boa notícia para a política monetária.

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