Quando um “não” é um “sim” ao que realmente importa
Aceitar que não conseguimos estar disponíveis para tudo e para todos é um exercício de honestidade, humildade e de coragem que é difícil, mas muito necessário saber fazer.
Jantei há umas semanas com uma amiga, num jantar combinado por acaso e em cima da hora. Enquanto bebíamos um simpático copo de vinho branco, concluímos que ambas temos os dias demasiado preenchidos e fizemos o mea culpa de “dizermos sempre ‘sim’ a tudo”.
Nessa noite, veio-me à cabeça uma frase que ouvi há tempos e que me marcou: “O teu trabalho ao longo de toda a tua vida, é desapontar tantas pessoas quanto for necessário para evitar desapontares-te a ti mesma.” (Glennon Doyl, Untamed).
Apesar de reconhecer nela uma enorme verdade, desapontar pessoas não é propriamente um objetivo de vida que pareça muito apelativo. Mas, e se o preço a pagar por omitir uns quantos “nãos” for o nosso próprio desapontamento e a falha para com a nossa missão de vida?
Para conseguirmos ser assertivos nos nossos “sins” e “nãos” é importante termos muito claro o caminho que nos propusemos seguir, as nossas prioridades e o que é “não negociável” nos nossos dias. Só assim percebemos que não nos podemos dar ao luxo de nos comprometer com “qualquer coisa”, por mais apelativa que nos possa parecer.
Quando dizemos que “sim” a tudo, enchemos os dias de planos que a longo prazo não nos fazem avançar na direção certa. Sacrificamos também momentos essenciais à nossa saúde e bem-estar físico e emocional, pondo em xeque a nossa paciência, capacidade de resistência, saúde, criatividade, assim como o bom humor e ânimo. São pequenas cedências, “uma vez não são vezes”, mas, muitas vezes, podem ser vezes a mais…
Algumas sugestões práticas que sempre trabalhamos em contexto de coaching no que diz respeito à assertividade dos nossos “sins” e “nãos” são:
- Dominar os dias – no início de cada semana apontar na agenda os nossos “não negociáveis”. De acordo com o artigo “Nine practises to help you say no” da Harvard Business Review, “se não sabes onde queres gastar o teu tempo, não saberás onde não o queres gastar.”
- Responder com tempo – nem todos os “sins” e “nãos” têm de ser dados no imediato. Muitas vezes, o mais prudente é adiar a resposta, e dizê-lo de uma forma clara e sincera, ganhando tempo para avaliar as consequências que a decisão vai ter no nosso ecossistema.
- Aceitar o desconforto de dizer “não” — a necessidade de provar que somos capazes, a resposta imediata perante a aparência estimulante de um projeto, e a ideia do reconhecimento que uma iniciativa nos vai dar, podem levar-nos a avaliar mal o seu impacto a longo prazo nos nossos dias, fazendo-nos aceitar desafios mesmo quando já estamos demasiado sobrecarregados. Agradar a toda a gente que nos rodeia é uma ideia tentadora, mas pouco realista. Aceitar que não conseguimos estar disponíveis para tudo e para todos é um exercício de honestidade, humildade e de coragem que é difícil, mas muito necessário saber fazer.
- Comunicar o “não” de forma assertiva – saber agradecer a oportunidade que nos estão a dar e o facto de se terem lembrado de nós, dar uma justificação sincera por pequena que seja, e oferecer uma alternativa à nossa presença ou envolvimento naquela solicitação podem ser formas de declinar um convite com uma tónica assertiva e positiva.
- Bom humor – recebi um dia esta resposta de uma amiga a um pedido que lhe fiz: “só aceito pedidos de última hora se vierem com uma equipa de bombeiros para apagar o incêndio; sem isso, vou ter que dizer não!” Usar o humor para dizer “não” e para decidir os nossos “nãos” ajuda a tornar a tomada de decisão mais fácil para nós e a aceitação mais fácil para os outros.
Voltando à expressão de Glennon Doyl, concluí naquela noite que só mesmo desapontando algumas pessoas pelo caminho com os nossos “nãos” bem escolhidos, haverá tempo para o que é realmente importante, incluindo jantares de última hora que dão o toque de felicidade e boa energia que contagia o resto da vida.
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