Bancos apresentam níveis “robustos” de liquidez, assegura BdP
Supervisor refere que a banca portuguesa apresenta níveis de rendibilidade históricos com níveis de capital superiores à média da zona euro e com um rácio de transformação baixo de apenas 75%.
Os últimos resultados apresentados pelos principais bancos a operar em Portugal revelaram um setor a atravessar um momento bastante positivo. É essa também a avaliação que o Banco de Portugal faz ao setor no mais recente Relatório de Estabilidade Financeira, publicado esta terça-feira.
A entidade liderada por Mário Centeno destaca, por exemplo que “os bancos continuaram a melhorar a sua rendibilidade” no primeiro semestre de 2024. Este desempenho positivo tem contribuído para o reforço dos rácios de capital, que atingiram “níveis historicamente elevados, semelhantes aos da área do euro”, com os técnicos do Banco de Portugal a sublinharem que “a rendibilidade do ativo atingiu 1,47% em junho”, um valor considerável no contexto europeu.
No entanto, o Banco de Portugal alerta que esta rendibilidade “é sensível à esperada descida das taxas de juro por via da margem financeira.” Apesar disso, o regulador do setor prevê que a margem financeira se mantenha “acima da registada no período pré-2022, atendendo também à alteração da estrutura de financiamento dos bancos.”
A análise do Banco de Portugal destaca ainda a estabilidade da qualidade creditícia dos ativos dos bancos. Segundo o documento, “não se tem assistido a uma deterioração da qualidade creditícia dos ativos bancários”, notando que, “no caso das empresas, cerca de metade das operações tem sido dirigida a grupos de menor risco.” Já no crédito a particulares, o Banco de Portugal revela que “a recomendação macroprudencial (em vigor desde 2018) tem fortalecido a resiliência do setor financeiro e dos mutuários.”
Apesar de o cenário base ser benigno, é importante que as instituições sejam prudentes na constituição de imparidades e na conservação de capital, promovendo a sua resiliência e o financiamento à economia perante potenciais choques adversos.
O relatório refere ainda que o setor bancário apresenta uma concentração de exposições ao setor imobiliário. No entanto, o regulador refere que este risco é mitigado pelo “peso limitado do crédito hipotecário com rácio loan-to-value (LTV) superior a 80%”, fazendo com que os bancos tenham uma limitação a potenciais perdas em caso de queda dos preços do imobiliário residencial.
Adicionalmente, o relatório menciona que a implementação de uma reserva de fundos próprios para risco sistémico setorial (SSyRB) de 4%, em vigor desde outubro “reforça a resiliência das instituições à materialização de riscos com impacto sobre as famílias e sobre os preços do imobiliário residencial.” Além disso, o supervisor sublinha também que “o aumento das reservas de fundos próprios libertáveis (reserva CCyB e reserva (s)SyRB) no início do ciclo financeiro permitirá às instituições absorver melhor as perdas resultantes de choques sistémicos inesperados.”
O Banco de Portugal destaca também que “a liquidez do setor manteve-se robusta”, como resultado de níveis cada vez mais baixos do rácio de transformação (75%), que são justificados “pelo aumento dos depósitos de clientes e pela evolução contida dos empréstimos à habitação e a empresas.”
Além disso, o supervisor do setor destaca também que os rácios prudenciais de liquidez permaneceram em níveis elevados, com o rácio de cobertura de liquidez (LCR) a subir 18,3 pontos percentuais no primeiro semestre para 273%, “motivado pelo aumento dos ativos de elevada liquidez (numerador), em especial, de instrumentos de dívida pública.”
A “robustez” do setor bancário é também visível no plano dos rácios de capital. O Banco de Portugal refere que, “em junho, o rácio total de fundos próprios e o CET 1 ascenderam a 20,5% e 17,8%, respetivamente, 0,66 pontos percentuais e 1,4 pontos percentuais acima da área do euro.” Estes níveis de capitalização são considerados confortáveis e colocam os bancos portugueses numa posição favorável em comparação com os seus pares europeus.
Apesar deste cenário globalmente positivo, o Banco de Portugal não deixa de alertar para a necessidade de prudência. O relatório afirma que “apesar de o cenário base ser benigno, é importante que as instituições sejam prudentes na constituição de imparidades e na conservação de capital, promovendo a sua resiliência e o financiamento à economia perante potenciais choques adversos.”
Foi nesse sentido que recentemente o regulador propôs a aplicação de uma taxa para a reserva contracíclica de 0,75%, numa “fase em que se considera que o risco sistémico cíclico é neutro.” Esta medida visa reforçar a capacidade de resposta dos bancos a potenciais choques sistémicos.
O Relatório de Estabilidade Financeira de novembro de 2024 apresenta um setor bancário português resiliente e bem capitalizado, mas não isento de desafios. O supervisor sublinha a importância de manter a prudência e continuar a reforçar a solidez dos balanços dos bancos, face a um contexto económico e geopolítico ainda incerto.
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