Setor dos vinhos vive “momento difícil” apesar da subida das exportações. “Não me lembro de um ano com tanta turbulência”
Crise é justificada pela redução do consumo mundial de vinho, subidas das taxas de juro e inflação. Apesar do momento difícil as exportações cresceram de janeiro a setembro.
“Estamos num momento difícil. Não me lembro de um ano com tanta turbulência“, disse Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, no Fórum Anual dos “Vinhos de Portugal” que está a decorrer esta quinta-feira em Leiria. As importações de vinho a granel de Espanha, o baixo consumo de vinho a nível mundial, a inflação e as taxas juros são os principais culpados pela crise sem precedentes que o setor enfrenta. No entanto, o cluster viu as exportações aumentar.
Na ótica de Frederico Falcão esta retração do consumo é justifica pela a subida das taxas de juro (sobretudo na Europa) e perda de poder de compra por parte dos consumidores. O líder da associação, que representa mais de 80% dos produtores de vinho e de uva no país, considera que este abrandamento “vai levar ao abandono da atividade de muitos produtores”.
António Mendes, presidente do conselho de administração da Federação Nacional das Adegas Cooperativas de Portugal (Fenadegas), constata que o “consumo de vinho está a baixar”, com Jorge Monteiro, presidente da Associação de Vinhos e Bebidas Espirituosas (ACIBEV) a dar nota que esta “crise é internacional”.
O Estado fica com o dinheiro todo dos produtores de vinho.
A acrescentar à lista, o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal realça que o “Estado fica com o dinheiro todo dos produtores de vinho”. “Isto não é de hoje, nem é de ontem e isso devia ser uma das prisionais bandeiras da ViniPortugal – criticar sem dó nem piedade esse facto e torná-lo público até que os políticos tenham vergonha”, afirma Luís Mira.
Apesar do “momento que o setor vitivinícola está a viver, não ser fácil”, o líder da ViniPortugal acredita que cluster vai conseguir “alguma estabilidade” em 2025.
No entanto, nem tudo são más notícias. A diretora do departamento de estudos e apoio à internacionalização do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) ressalva que Portugal encontrava-se entre os dez maiores exportadores de vinho em 2023, “a oitava posição em volume (319 milhões de litros) e a nona posição em valor (925 milhões de euros)”.
Setor exportou 698 milhões de euros até setembro
Os dados mais recentes apresentados esta quinta-feira no Fórum Anual dos “Vinhos de Portugal” mostram que, de janeiro a setembro deste ano, foram exportados 260 milhões de litros no valor de 698 milhões de euros, o que representa um crescimento em valor de 2,5% quando comprado com o período homólogo (681 milhões). No entanto, o preço médio caiu para 2,69 cêntimos por litro, quando comparado com os 2,80 euros por litro registados de janeiro a setembro do ano passado.
Dados do IVV mostram que de janeiro a setembro deste ano, as exportações de vinhos cresceram 2,5% em valor e 7,75% em volume, quando comparado com o mesmo período de 2023.
Quanto aos mercados de exportação, em valor, os EUA estão em primeiro lugar (77 milhões de euros), depois de França (76 milhões de euros) e Brasil (66 milhões de euros). Por volume, Angola ocupa a primeira posição (26 milhões de euros), depois França (25 milhões de litros), Brasil (22 milhões de litros) e EUA (com 18 milhões).
Venda de vinho na distribuição e restauração sobe para 984 milhões até setembro
De janeiro a setembro deste ano, a restauração foi responsável por 59% das vendas em Portugal, enquanto a distribuição representou 41%, enquanto o ano passado a restauração canalizou 51,3% e a distribuição 48,7%.”De janeiro a setembro deste ano, a distribuição e a restauração vendeu 213 milhões de litros, o que representa um crescimento de 3,6% face ao período homólogo.
Em valor, “a distribuição e a restauração venderam 984 milhões de euros, um crescimento de 19% face a 2023″, detalha Maria João Dias, diretora do departamento de estudos e apoio à internacionalização do IVV.
Quais são os planos estratégicos para o setor do vinho?
O ano passado, as exportações de vinhos portugueses recuaram para 928 milhões de euros em valor, com o preço médio por litro a crescer 0,66% para 2,90 euros. A ViniPortugal justificou esta quebra em grande parte devido ao contexto mundial.
No plano estratégico 2030, o presidente da ViniPortugal elencou que o setor do vinho quer, em 2030, atingir exportações de 1.200 milhões de euros e aumentar o preço médio para 3,19 euros por litro, para “garantir a sustentabilidade económica”.
A marca Wines of Portugal, através da ViniPortugal, tem um investimento anual superior a oito milhões de euros para realizar ações de promoção dos vinhos portugueses. EUA, Canadá, Brasil, Reino Unido, Coreia do Sul, China, Suíça, Países baixos, Luxemburgo, Bélgica, Polónia, Suécia, Japão, Ucrânia e Espanha são os países onde a ViniPortugal vai investir para promover a imagem de Portugal enquanto produtor de vinhos. “50% do nosso investimento vai para EUA, Canadá, Brasil“, detalha Frederico Falcão.
Entre os objetivos do plano estratégico está a questão da sustentabilidade, com o líder da ViniPortugal a ambicionar ter 40% das empresas associadas com certificação de sustentabilidade vitivinícola até 2030.
Por outro lado, Frederico Falcão salienta que a “perceção de baixo valor do vinho português em alguns mercados” é um dos principais desafios que o setor do vinho português enfrenta. O secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) considera que “para aumentar o valor é necessário reforçar a aposta na promoção”.
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