Há que acelerar a transposição da investigação feita na academia para as empresas, defende Pedro Brás da Silva, partner da Deloitte, para acelerar crescimento.
Pese embora os progressos verificados em Portugal ao nível da qualificação de pessoas ou na investigação na Academia, em Portugal o “peso do setor tecnológico em função do PIB ainda não está na média europeia”, admite Pedro Brás da Silva, partner da Deloitte.
“Onde o país ainda tem algum potencial de melhoria, e estamos abaixo da média, é provavelmente na incorporação dessa investigação e desenvolvimento nos produtos das empresas e depois na própria venda. Temos ainda uma exportação de produtos e serviços de alta intensidade tecnológica também abaixo da União Europeia”, aponta o consultor.
Mas algum caminho também está a ser feito, a avaliar pela nova edição do ranking “Technology Fast 50 Portugal”, revelado esta terça-feira pela Deloitte.
“Das 55 empresas distinguidas no ranking, 36% têm na sua equipa fundadora pessoas que fizeram investigação e 18% das empresas têm doutorados na sua equipa fundadora. O que já é um dado interessante e que mostra que esse caminho está a ser percorrido”, diz.
Mais de metade das startups tecnológicas com crescimento mais rápido repete presença presença no ranking “Technology Fast 50 Portugal 2024”. Sinal de dinamismo no ecossistema ou de falta de startups a escalar?
O número parece-me normal. Temos que ver que são percentagens de crescimento muito elevadas. Temos entidades que multiplicam muito mais do que dez vezes o seu volume de negócios em apenas três anos e, portanto, é natural que essas entidades, durante alguns anos, permaneçam no ranking.
Não vê ai sinal de preocupação, portanto.
Não. Resulta da própria dinâmica e da forma como este ranking mede o crescimento. Essa fotografia permite dizer que as empresas, que atingiram esse sucesso, estão com um crescimento muito forte e é normal que se prolongue para mais um, dois, três anos.
Depois, quando ficam muito grandes, continuam a crescer a bons ritmos, mas como o ranking mede uma percentagem, é muito mais difícil para uma empresa com um volume de negócios de 50 milhões de euros, dois ou três anos depois faturar 200 ou mil milhões de euros.
A multiplicação é possível nos primeiros anos. É sinal da dinâmica destas empresas, outras com certeza vão lá chegar também nos anos seguintes.
No último “Fast 500 EMEA”, Portugal tinha 16 empresas, era o 10.º país europeu com mais empresas representadas. O maior era o Reino Unido. Olhando para os dados deste ano, poderá repetir-se esse desempenho das startups no ranking EMEA? E haverá capacidade de Portugal melhorar?
Há capacidade para repetir, pelo menos, tenho motivos para acreditar, porque a performance das empresas no ranking deste ano, o crescimento mediano até é superior ao das empresas no ranking do ano passado. Por exemplo, as três primeiras do ranking deste ano têm crescimentos muito superiores às percentagens do ano passado.
Agora o ranking é em termos relativos, não sei o que poderá acontecer noutros países, porque está a acontecer neste momento, embora acredite que vamos, pelo menos, manter um nível de competitividade.
Quanto a Portugal, naturalmente que pode haver capacidade para melhorar. Vai ser difícil, obviamente, face a mercados com um PIB e um número de empresas cinco a dez vezes superior ao português e os maiores da Europa. O peso do setor tecnológico em Portugal em função do PIB ainda não está na média europeia e há áreas que podem ser trabalhadas para que cada vez tenhamos empresas tecnológicas mais fortes.
Das das 55 empresas distinguidas no ranking, 36% têm na sua equipa fundadora pessoas que fizeram investigação e 18% das empresas têm doutorados na sua equipa fundadora. O que já é um dado interessante e que mostra que esse caminho está a ser percorrido.
Como acelerar esse processo? Através da inteligência artificial? Como é que o país pode tirar partido desta nova tecnologia?
Há um dado curioso que recolhemos: cerca de um terço das empresas no ranking já abordam a inteligência artificial, é um tema que consideram como fazendo parte do seu negócio e, para muitas delas, é claramente a centralidade do seu negócio.
O país como um todo tem feito progressos e há áreas onde, claramente, esse progresso é visível. Por exemplo, na qualificação das pessoas; as áreas de investigação nas faculdades melhoraram imenso; a digitalização está muito acima da média europeia, mesmo do ponto de vista do capital disponível.
Onde o país ainda tem algum potencial de melhoria, e estamos abaixo da média, é provavelmente na incorporação dessa investigação e desenvolvimento nos produtos das empresas e depois na própria venda. Temos ainda uma exportação de produtos e serviços de alta intensidade tecnológica também abaixo da União Europeia.
Das 55 empresas distinguidas no ranking, 36% têm na sua equipa fundadora pessoas que fizeram investigação e 18% das empresas têm doutorados na sua equipa fundadora. O que já é um dado interessante e que mostra que esse caminho está a ser percorrido.
Este tipo de transposição da academia para o setor privado é importante para termos empresas que cresçam mais depressa, pois as empresas que crescem mais depressa, se tiverem uma produtividade acima da média, são as empresas que nos vão fazer falta para sermos cada vez mais ricos.
Draghi no seu relatório fala do tema da inovação. No ‘pacotão’ das 60 medidas para acelerar a economia houve algumas visando trazer a Academia para o mundo empresarial, ter mais investigadores nas empresas. Ou seja, esse crescimento também passa por esse tipo de medidas. O que é que falta, no seu entender?
Passa, seguramente. Genericamente, o relatório Draghi tem elementos muito importantes e cada país traz uma situação específica. Em Portugal, durante alguns anos isso não acontecia suficientemente. Neste momento está a melhorar. Será necessário que se avaliem os casos em que isso está a ser mais sucesso, procurando replicá-los. Temos excelentes casos de sucesso neste ranking. As incubadoras e aceleradoras ligadas à universidade com mais empresas no ranking são, seguramente, bons exemplos a seguir.
Os dados neste momento mostram que no early stage Portugal não tem escassez de capital no financiamento a projetos de empreendedorismo. Nos meios de onde se fazem estas rondas, o que vemos é vários fundos com muita vontade de investir e que, muitas vezes, até lamentam que não haja mais oportunidades.
Qual é a aceleradora que mais contribui?
A Uptech. Tem não só empresas que claramente foram apoiadas na sua génese, com pessoas que vieram da Universidade do Porto, como tem também outras que fazem questão de lá estar instaladas, mesmo não tendo sido lá fundadas, para beneficiar dessa dinâmica.
Para além de termos pessoas da academia com algum background de research que consigam depois transpor para as empresas, termos empresas a dar a capacidade aos seus profissionais para fazerem essa investigação e para terem as parcerias necessárias com a academia. É fundamental para garantir que, cada vez mais, há produtos, as tais exportações de mais elevado valor acrescentado, e que as empresas se reforçam por aí.
Draghi fala da necessidade de entrar mais capital privado na economia também através dos fundos de capital de risco, os principais financiadores de empresas tecnológicas.
Os dados neste momento mostram que no early stage Portugal não tem escassez de capital no financiamento a projetos de empreendedorismo. Nos meios de onde se fazem estas rondas, o que vemos é vários fundos com muita vontade de investir e que, muitas vezes, até lamentam que não haja mais oportunidades.
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“Peso do setor tecnológico em função do PIB ainda não está na média europeia”
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