Portugal não está imune à crise na Europa, mas pode “oferecer estabilidade num mundo instável”
Antigo vice-primeiro-ministro antecipa "um elevado grau de imprevisibilidade nas atuais relações internacionais" e avisa que "é melhor não brincar aos défices nem às dívidas".
Após anos de ajustamento que conduziram a uma situação orçamental positiva, Portugal está hoje numa posição em que consegue “oferecer estabilidade num mundo instável”, ainda que não esteja imune a “alguma turbulência na Europa”, defende Paulo Portas. O antigo vice primeiro-ministro traça um cenário cauteloso e alerta para várias ameaças – desde logo o aumento do protecionismo – numa Europa em que as duas principais economias enfrentam problemas políticos e financeiros.
“Há um elevado grau de imprevisibilidade nas atuais relações internacionais”, começou por salientar salvaguardar Paulo Portas, numa reflexão sobre qual pode ser o papel de Portugal na geopolítica internacional, numa intervenção durante a 7.ª edição da Fábrica 2030, uma conferência organizada pelo ECO na Alfândega do Porto.
O antigo governante recordou as várias crises com impacto mundial que ocorreram nos últimos cinco anos, desde a pandemia, à guerra na Ucrânia, passando pelo conflito entre Israel e a Palestina, com impacto na navegabilidade no Mar Vermelho. Uma série de eventos improváveis, que nenhuma consultora ou agência conseguiu prever. “As consultoras têm de melhorar a capacidade instalada em matéria de previsão de riscos internacionais”, apontou ironicamente.
“O mundo está perigoso. Convém não acrescentar a nossa instabilidade às outras. É melhor não brincar aos défices nem às dívidas“, alertou o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros. Acrescentou que “com todos os nossos problemas, estamos num ciclo em que conseguimos crescer mais [que a Zona Euro] e isso não deve desincentivar a nossa ambição”. E reforçou que o país está muito longe dos níveis de dívida que chegou a ter e que eram “vertiginosamente perigosos”.
"O mundo está perigoso. Convém não acrescentar a nossa instabilidade às outras. É melhor não brincar aos défices nem às dívidas.”
Apesar desta visão mais positiva sobre a situação do país, Paulo Portas alertou que “não estamos livres de alguma turbulência na Europa”. Com a Alemanha em contração e a França a enfrentar uma crise de dívida “não se consegue antecipar o que possa acontecer a partir de amanhã”. “É difícil esperar que a zona euro esteja extraordinária” com as duas maiores economias da região a enfrentarem problemas. No que diz respeito a Portugal, França e Alemanha são o segundo e o terceiro melhores mercados para as exportadoras, lembrou.
Protecionismo e isolacionismo
Com Donald Trump já eleito para ser o próximo presidente dos EUA, a economia mundial enfrenta o “crescimento de uma onda de protecionismo“, admite Paulo Portas. O antigo governante diz que “há sinais de fragmentação” e a “ameaça de tarifas”. Apesar destas ameaças crescentes, que devem ser encaradas com “prudência”, Portas realça que “uma coisa são tweets, outra são decisões”.
“Todos os dados apontam para um efeito em espelho em demasiados países e em demasiadas economias”, apontou ainda, destacando que “de cada vez que se faz uma tarifa, vão esperar uma retaliação do outro lado“.
“Os EUA com Biden tarifaram violentamente o alumínio e aço chinês. A China respondeu hoje: baniu a produção de terras raras aos EUA”, exemplificou. Já no caso da Europa, que aplicou tarifas de 41% aos carros elétricos chineses, Pequim respondeu com um inquérito sobre produtos agrícolas europeus.
Embora admita que o protecionismo está a aumentar, Portas refere que “o que há de novo é a declaração de protecionismo do novo presidente norte-americano“, adiantando que é preciso encarar com “prudência” a nova administração dos EUA. O que está em cima da mesa, sintetiza, é “a ameaça de tarifas de 60% sobre a China e uma ameaça de tarifas sobre o resto do mundo entre 10 a 20% sobre todos os bens”.
“Ter o protecionismo como política sistémica é complicado”, alerta, adiantando que não há qualquer “racionalidade económica” no protecionismo.
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