Bancos portugueses são dos que mais cobram pelo crédito ao consumo e menos pelo crédito à habitação

Apesar dos juros altos e acima da média da Zona Euro, o apetite pelo crédito ao consumo em Portugal atinge níveis recorde, refletindo uma tendência crescente no endividamento das famílias.

O cenário do crédito bancário em Portugal apresenta um contraste marcante entre o crédito ao consumo e o crédito à habitação. Enquanto os bancos nacionais se destacam por cobrar das taxas de juro mais elevadas da Zona Euro no crédito ao consumo, oferecem simultaneamente das taxas mais competitivas no financiamento para a compra de casa. E esta situação ocorre num contexto de forte crescimento do crédito ao consumo, que atingiu níveis recordes nos últimos meses.

Segundo os dados mais recentes do Banco de Portugal, a taxa de juro das novas operações de crédito ao consumo realizadas em outubro situou-se nos 8,91%, mais 0,37 pontos percentuais face aos 8,54% praticados no mesmo período do ano anterior. Este valor é significativamente superior à média da Zona Euro, que se fixou em 7,67% no mesmo mês, colocando Portugal entre os países com as taxas mais elevadas nesta modalidade de crédito.

Na hierarquia dos países da Zona Euro com as taxas de juro mais altas no crédito ao consumo, Portugal é superado apenas pela Letónia (13,96%), Estónia (13,32%), Grécia (10,86%), Eslováquia (9,75%) e Lituânia (9,59%), de acordo com dados do Banco Central Europeu (BCE).

É importante notar que esta posição de Portugal no topo da tabela não é recente. Há cinco anos, antes da pandemia de Covid-19, os bancos nacionais já figuravam entre os que cobravam mais pelo crédito ao consumo, embora na altura estivessem atrás da oferta dos bancos de países como Espanha e Irlanda.

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Apesar das taxas elevadas, o apetite dos portugueses pelo crédito ao consumo não parece ter diminuído. Pelo contrário, tem-se verificado um crescimento significativo nesta modalidade de crédito.

Segundo os dados mais recentes do Banco de Portugal, o crédito ao consumo registou um aumento homólogo de 6,1% em outubro. Este crescimento marca o 12.º mês consecutivo de expansão nesta modalidade de crédito e representa “a maior taxa de variação anual desde novembro de 2018”, destaca a instituição liderada por Mário Centeno em comunicado.

Como resultado deste crescimento sustentado, o stock de empréstimos ao consumo e outros fins atingiu um valor histórico de 30,1 mil milhões de euros no final de outubro, o montante mais elevado desde o início da série estatística do Banco de Portugal em 1979. Este marco sublinha a tendência crescente do endividamento das famílias portuguesas para fins de consumo.

Bancos nacionais entre os mais competitivos no crédito à habitação

Em contraste com o cenário do crédito ao consumo, o panorama do crédito à habitação em Portugal apresenta-se muito mais favorável para os consumidores. Segundo dados do BCE, os bancos portugueses destacam-se por oferecerem das taxas de juro mais baixas da Zona Euro no financiamento para a compra de casa.

De acordo com os dados mais recentes do Banco de Portugal, a taxa de juro média das novas operações de crédito à habitação diminuiu de 3,48% em setembro para 3,39% em outubro. Este valor não só representa o nível mais baixo desde janeiro de 2023, como também se situa 0,11 pontos percentuais abaixo da média da Zona Euro, que se fixou em 3,5% no mesmo período.

No contexto dos 20 Estados-membros da área do euro, Portugal posiciona-se de forma muito competitiva na oferta de crédito à habitação. Apenas seis países oferecem taxas médias mais baixas que Portugal na contratualização do crédito à habitação: Eslovénia (3,34%), Bélgica (3,28%), França (3,27%), Itália (3,27%), Espanha (3,2%) e Malta (1,81%). Esta posição favorável de Portugal no ranking europeu do crédito à habitação não é, contudo, uma novidade. No passado até já foi mais competitiva.

Há três anos, em outubro de 2021, a taxa de juro média das novas operações de crédito à habitação praticada pela banca nacional era de apenas 0,83%, ficando apenas acima dos 0,75% cobrados pelos bancos finlandeses, e significativamente abaixo da taxa média de 1,31% praticada na Zona Euro. Um cenário semelhante em outubro de 2019, antes da pandemia de Covid-19, com a banca nacional também a cobrar apenas mais que os bancos finlandeses.

“Os bancos já antes da crise sempre fizeram muita concorrência entre si em quotas de mercado no crédito à habitação”, refere o economista António Nogueira Leite ao ECO, salientando que os bancos têm mais interesse em fazer crédito à habitação do que crédito ao consumo.

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O panorama do crédito bancário em Portugal revela assim uma dicotomia entre o crédito ao consumo e o crédito à habitação. Por um lado, os bancos nacionais praticam taxas de juro mais elevadas que os seus pares europeus no crédito ao consumo, mas por outro oferecem condições altamente competitivas no financiamento para a compra de casa, com taxas entre as mais baixas da área do euro.

António Nogueira Leite justifica estes dados por uma questão de “tradição comercial” da banca no cuidado de análise do crédito ao consumo, com os bancos a preferirem ganhar quota no crédito à habitação face ao crédito ao consumo. “É assim desde que me lembre”, refere o economista que foi vice-presidente do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos entre 2011 e 2013.

Esta realidade esbate na composição do crédito bancário a particulares. De acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira de novembro do Banco de Portugal, em junho de 2024, os empréstimos à habitação representavam uma fatia esmagadora de 77,3% do total de empréstimos bancários a particulares. O crédito ao consumo e para outros fins, apesar do seu crescimento recente, correspondia a 21,4% do total, enquanto os empréstimos a empresários em nome individual representavam apenas 1,3%.

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