Governo recusa “onda de falências” e prepara “incentivos agressivos” para atrair investidores

Pedro Reis acompanha com "o máximo de atenção" as falências no país e refere que é preciso "agarrar" as empresas que já cá estão e criar "incentivos agressivos" para reter e atrair novo investimento.

O ministro da Economia está a acompanhar com “o máximo de atenção” os casos recentes de despedimentos e layoffs em empresas de componentes automóveis, sobretudo no Norte do país, mas reclama que não há “nenhuma evidência de uma onda de falências”. Com grandes mercados europeus, como França e Alemanha a abrandarem, e o setor automóvel em crise, Pedro Reis defende que o país deve “agarrar” as empresas que já cá estão e “construir um pacote de incentivos o mais agressivo possível para manter ou trazer novo investimento”.

“Não temos nenhuma evidência dessa onda de falências” em empresas do setor de componentes automóveis, referiu o governante, em declarações aos jornalistas à margem da conferência Portugal Exportador, que decorre esta quinta-feira no Europarque, em Santa Maria da Feira. Porém, o ministro da Economia assinala que está a acompanhar com “o máximo de atenção” estas situações, embora diga que “cada caso é um caso”.

Só nas últimas duas semanas, a Coindu anunciou o fecho da fábrica em Arcos de Valdevez e o despedimento de 350 pessoas; a espanhola Cablerías, outra fornecedora do ramo automóvel instalada no Alto Minho, avançou com um pedido em insolvência em Portugal, ameaçando 250 postos de trabalho em Valença; e a catalã Ficosa decidiu colocar os 900 trabalhadores da sua fábrica na Maia em lay-off devido à quebra nas encomendas.

Relativamente ao setor automóvel, Pedro Reis nota que essa fileira industrial está a repensar a sua estratégia para a mobilidade elétrica. “O que estamos a fazer é tentar verticalizar e clusterizar esse setor” através da “integração de novos centros de competência, da luta por novos produtos e componentes em Portugal, do reapetrechamento da nossa indústria para os materiais que são mais ajustados ao carro elétrico“, exemplificou.

Estamos a procurar trazer mais fornecedores dessa área [automóvel] para Portugal e construir um pacote de incentivos o mais agressivo possível para manter ou trazer novo investimento.

Pedro Reis

Ministro da Economia

A nossa função é agarrar o máximo possível nas empresas que já estão em Portugal, complementar a cadeia de valor”, acrescentou o ministro, acrescentando que o Executivo está a “procurar trazer mais fornecedores dessa área para Portugal e construir um pacote de incentivos o mais agressivo possível para manter ou trazer novo investimento”.

De regresso de uma missão nos Países Baixos, Pedro Reis realça que “há a perceção de que há um abrandamento nos mercados mais fortes europeus, nomeadamente França e Alemanha”. Ao mesmo tempo, salientou que há “determinados setores mais acelerados” e que “Portugal está a dar cartas na reindustrialização verde, energia, mobilidade, serviços e tecnologia intensiva“.

Quanto aos setores tradicionais, em que alguns desses casos de falências têm acontecido nas últimas semanas, como é o caso do têxtil e vestuário, notou que “as empresas portuguesas têm reagido relativamente bem”, ao acrescentar novos mercados e “já não fazer o combate só nos custos e salários baixos, mas ao investir na marca e na inovação”.

Portugal pode aproveitar “rearrumação de investimento”

Já durante a intervenção na conferência Portugal Exportador, Pedro Reis disse que preferia “não ter conflitos e que a economia internacional estivesse a crescer mais rapidamente”, mas vê na instabilidade europeia, nomeadamente em países como França e Alemanha, “um espaço de rearrumação de investimento e de novos clusters que abre oportunidades a Portugal, que é visto como fiável, competente, ágil, seguro, com boas cadeias de valor e [que está] dentro da Europa, mas com acesso a África e à América Latina”.

“Tendo ganho nós um horizonte de estabilidade política, acreditamos que nos próximos anos podemos construir um crescimento mais sustentável e acelerar mais as nossas metas”, perspetivou o ministro da Economia na mesma conferência em que o secretário de Estado do Orçamento, José Maria Brandão de Brito, referiu que a “sobriedade financeira é um ativo nacional” face às “ameaças” na Europa.

O governante frisou que “sem anular os desafios grandes que existem neste momento no mundo, na economia europeia e nos nossos principais parceiros – temos de ter isso bem claro e realisticamente -, os ecossistemas tradicionais da economia portuguesa reinventaram-se e há (…) empresas de serviços e industriais que estão na linha de ponta de novos setores e que arrastam o crescimento, como defesa, aeronáutica, mobilidade, energia verde e mar”.

“A nossa perceção é que, exatamente porque o mundo está volátil e porque há exigências e desafios fortes e estruturais, de dimensão e características variadas, felizmente a nossa economia confronta-se desta vez com alguns elementos bem diferentes do que há dez anos”, quando Pedro Reis era presidente da AICEP.

Quais são essas novas condições? “Hoje temos uma economia muito mais internacionalizada, (…) mais empresas exportadoras e com mais tecnologia integrada, com mais valor acrescentado nacional e intensidade tecnológica, temos mais qualidade de gestão e as empresas estão a funcionar mais em rede, temos investimento externo a continuar a entrar pela economia portuguesa adentro, temos um braço e canais mais fortes de capital de risco mais robusto, e temos uma banca incomparavelmente melhor e preparada e capitalizada e racional no apoio às empresas”, elencou.

Já sobre o que o Ministério da Economia está a fazer, Pedro Reis destacou cinco iniciativas:

  • Reforçar, nomeadamente via IAPMEI, as redes de fornecedores inovadores, promovendo uma lógica de consórcios de PME;
  • Reforçar os incentivos em investigação e desenvolvimento (I&D) e inovação produtiva, [que são] “mini agendas PRR, mais digeríveis, mais manobráveis, mais executáveis”;
  • Lançamento de um fundo deep tech de 100 milhões de euros, em parceira com o FEI, “para fazer chegar aceleradores, além dos vouchers startups que já estão ativados”;
  • Criação no Ministério da Economia de dois grupos de trabalho para a densificação de clusters e internacionalização: “escolhemos a saúde e a defesa porque não se pode ir a todas e porque se desmultiplicam em muitos outros setores”;
  • Reforçar a rede externa da AICEP com a abertura de novos escritórios e com mais elementos em alguns mercados onde já está, “mas com uma camada muito fina que não permite abordar com o mínimo de profundidade a sua estratégia”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Governo recusa “onda de falências” e prepara “incentivos agressivos” para atrair investidores

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião