Grupo português de componentes para automóveis constrói nova fábrica em Marrocos
A multinacional portuguesa de São João da Madeira está em "em grande expansão em Marrocos", antecipando dobrar a faturação no país, para cerca de 20 milhões de euros.
O Grupo ERT, uma multinacional portuguesa que produz componentes para os interiores de automóveis e que emprega mil pessoas — metade em Portugal –, vai avançar com a construção de uma nova unidade industrial em Marrocos. Já com uma fábrica em Tânger, a empresa de São João da Madeira está “em grande expansão” naquele país, onde antecipa dobrar a faturação no próximo ano.
“Estamos em grande expansão em Marrocos”, adiantou ao ECO Alexandre Figueiredo, CEO do grupo, à margem da conferência Portugal Exportador, que decorreu na quinta-feira em Santa Maria da Feira, e onde participou num painel dedicado à fileira automóvel. Face à crescente procura dos clientes, a empresa, que tem atualmente uma fábrica de laminação em Tânger, Marrocos, vai avançar com uma segunda unidade de produção no país.
“Neste momento temos mais projetos em aquisição, o que vai obrigar-nos a criar uma segunda unidade” no país, disse Alexandre Figueiredo. Sem dar mais detalhes sobre o investimento envolvido, o líder do grupo ERT, que fatura mais de 100 milhões de euros e exporta 85% do seu volume de vendas, referiu ainda que a decisão final sobre os pormenores deste investimento “será tomada no próximo ano” e que, “no espaço de um ano, ou ano e meio”, é possível pôr “uma fábrica a funcionar.”
Enquanto o novo projeto não é concluído, o grupo está em conversações para um “novo negócio” que lhe permitirá “dobrar a capacidade” de produção na sua unidade industrial no país, a partir da qual serve grandes fornecedores de componentes que vendem para o setor automóvel, como a gigante Adient, segundo o responsável. “Estamos a aumentar cadeia de valor em Marrocos e a acrescentar valor”, explicou.
Alexandre Figueiredo disse que a fábrica adquirida no país “já tinha espaço para dobrar capacidade”, o que irá acontecer “já em janeiro”. “Vamos dobrar praticamente a faturação [em Marrocos] no próximo ano, para cerca de 20 milhões” de euros, antecipou, notando que o negócio do grupo no país continua a aumentar: “Os nossos clientes pedem-nos para abrir mais fábricas.”
Neste momento, temos mais projetos em aquisição, o que vai obrigar-nos a criar uma segunda unidade em Marrocos.
Crise no automóvel já se sente
Com unidades de produção em Portugal, República Checa e Roménia e escritórios no México, a ERT já sente o impacto do travão no setor automóvel, onde tem o seu core business, representando cerca de 90% do volume de faturação. “Hoje em dia trabalhamos just in case“, realçou o CEO do grupo, referindo que “ninguém sabe o que há no dia seguinte”. “[As empresas] fazem encomendas, na semana seguinte cancelam-nas e não nos dão visibilidade“, destacou Alexandre Figueiredo, descrevendo um ambiente “muito difícil”.
Em termos de crescimento, o responsável referiu que “o próximo ano é um ano de estagnação”. A crise no setor automóvel já está a pesar nos negócios de muitas empresas. No segmento dos componentes automóveis, só nas últimas semanas soube-se que a Coindu vai fechar a fábrica em Arcos de Valdevez e despedir 350 pessoas; a espanhola Cablerías, outra fornecedora instalada no Alto Minho, avançou com um pedido em insolvência em Portugal, ameaçando 250 postos de trabalho em Valença; e a catalã Ficosa decidiu colocar os 900 trabalhadores da sua fábrica na Maia em lay-off devido à quebra nas encomendas.
Apesar destes problemas, Alexandre Figueiredo defendeu que “não há crise no setor automóvel, o que há é muito mais concorrência”, referindo que o setor está a atravessar uma “transição brutal”, ecológica e digital. No caso concreto da ERT, o CEO do grupo salientou que a empresa — que atua nas áreas de laminação têxtil, termomoldagem de peças técnicas, corte de componentes têxteis e couro por prensa e CadCam — está a apostar no desenvolvimento de novos materiais e a criar valor acrescentado ao nível dos produtos.
“Temos que ir pela automatização, ou então por produtos com muito valor acrescentado, com custos logísticos muito grandes em que não se justifique importar materiais para outros países”, detalhou, acrescentando que a empresa, através das aquisições de novos projetos, vai conseguir “crescimentos de 20% para 2026”. “O nosso crescimento está garantido, o grande problema é que para crescer é preciso investir”, atirou.
A aguardar os reembolsos do PT2020, Alexandre Figueiredo queixou-se ainda dos atrasos nos pagamentos, notando que a empresa submeteu os pedidos de reembolso em abril e continua à espera de receber. Entretanto, teve de “pedir linhas de crédito altas, pagar juros e os nossos lucros vão para os bancos”. Com as taxas de juro a começarem a descer na região, o responsável antecipou algum alívio do lado dos custos. “As taxas de juro vão ajudar-nos imenso”, reconhece.
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