FMI prevê crescimento global de 3,3%. Alerta para divergência entre países e incerteza comercial
Fundo Monetário Internacional prevê crescimento mundial "estável, embora fraco" e abaixo da média histórica. Alerta para trajetórias divergentes entre países e para a incerteza comercial.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o crescimento económico global se mantenha estável em 2025 e 2026, com uma taxa de 3,3%, mantendo-se todavia abaixo da média histórica. Na atualização das projeções divulgadas esta sexta-feira, alerta ainda para a divergência entre os países e para os riscos associados à incerteza comercial e à inflação.
A instituição liderada por Kristalina Georgieva mantém a previsão para 2025 praticamente inalterada face ao relatório divulgado em outubro, com uma melhoria de apenas 0,1 ponto percentual, resultado de uma revisão em alta para os Estados Unidos que compensa a revisão em baixa em outras grandes economias.
“Espera-se que o crescimento global permaneça estável, embora fraco. Com 3,3% em 2025 e 2026, as previsões de crescimento estão abaixo da média histórica (2000-2019) de 3,7%“, refere o relatório, que estima uma taxa de de crescimento de 3,2% em 2024. A fotografia geral “esconde trajetórias divergentes entre as economias e um perfil de crescimento global precário“.
Entre as economias avançadas, destacam-se os Estados Unidos, país para o qual estima um crescimento de 2,7% em 2025, 0,5 pontos mais do que na previsão de outubro. A impulsionar a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) estará uma procura “robusta, refletindo fortes efeitos de riqueza, uma orientação menos restritiva da política monetária e condições financeiras favoráveis”.
Por outro lado, espera que o crescimento da Zona Euro recupere, mas a um ritmo mais gradual do que o previsto em outubro, com as tensões geopolíticas a pesarem sobre o sentimento. Assim, prevê que o PIB dos países da moeda única avance de 0,8% em 2024 para 1% em 2025 e 1,4% em 2026, menos 0,2 pontos e 0,1 pontos, respetivamente, do que anteriormente.
Nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento, espera-se que o desempenho do crescimento em 2025 e 2026 corresponda, em termos gerais, ao de 2024. O crescimento da China em 2025 é ligeiramente revisto em alta em 0,1 ponto percentual, para 4,6%. “Esta revisão reflete a transição de 2024 e o pacote orçamental anunciado em novembro, compensando em grande parte o efeito negativo sobre o investimento da maior incerteza da política comercial e do mercado imobiliário”, explica a instituição de Bretton Woods.
Paralelamente, as estimativas para o comércio mundial foram revistas ligeiramente em baixa para 2025 e 2026, devido ao aumento acentuado da incerteza da política comercial, que deverá prejudicar o investimento, ainda que o impacto seja transitório.
Fantasma da inflação ainda não desapareceu
O FMI assinala que a desinflação global continua, mas há sinais de que o progresso está estagnado em alguns países e que a inflação elevada é persistente em alguns casos. “Embora a inflação core dos preços dos bens tenha caído ou ficado abaixo da tendência, a inflação dos preços dos serviços ainda está acima das médias anteriores à Covid-19 em muitas economias, especialmente nos Estados Unidos e na Zona Euro“, refere.
No entanto, prevê que o arrefecimento gradual dos mercados de trabalho mantenha as pressões da procura afastadas e que, combinado com a esperada descida dos preços dos produtos energéticos, a inflação a nível global continue a descer em direção aos objetivos dos bancos centrais. Neste sentido, estima que a inflação se situe próxima, mas acima, da meta de 2% em 2025 nos Estados Unidos, mas seja mais moderada Zona Euro.
Contudo, alerta que estas dinâmicas podem ser influenciadas negativamente por outros fatores, nomeadamente sobre o impacto das tarifas comerciais. Paralelamente, assinala que as posições cíclicas de muitas das principais economias são hoje mais propícias a uma inflação mais elevada do que em 2016 e que “a retaliação sob a forma de restrições a materiais ou bens intermédios específicos e difíceis de substituir” também poderão ter impacto.
Protecionismo é risco para o crescimento
O FMI considera que os riscos de médio prazo estão inclinados no sentido descendente, enquanto as perspetivas de curto prazo são caracterizadas por riscos divergentes. Os riscos ascendentes poderão impulsionar o já robusto crescimento nos Estados Unidos no curto prazo, enquanto os riscos noutros países estão no lado descendente num contexto de elevada incerteza política.
Assim, adverte que uma intensificação das políticas protecionistas – por exemplo, sob a forma de uma nova onda de tarifas – “poderia exacerbar as tensões comerciais, diminuir o investimento, reduzir a eficiência do mercado, distorcer os fluxos comerciais, e novamente perturbar as cadeias de abastecimento“.
“O crescimento poderá ser prejudicado tanto no curto como no médio prazo, mas com graus variados entre as economias”, refere.
Aponta ainda que as perturbações geradas pelas políticas no processo de desinflação em curso poderão interromper o impulso para a flexibilização da política monetária, com implicações para a sustentabilidade orçamental e a estabilidade financeira.
“A gestão destes riscos exige uma forte concentração política no equilíbrio entre a inflação e a atividade real, na reconstrução de reservas e na melhoria das perspetivas de crescimento a médio prazo através de reformas estruturais intensificadas, bem como de regras e cooperação multilaterais mais fortes”, recomenda.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
FMI prevê crescimento global de 3,3%. Alerta para divergência entre países e incerteza comercial
{{ noCommentsLabel }}