Governo quer reduzir gás russo e focar aposta nos EUA e Nigéria
Num painel no Fórum Económico Mundial, a ministra do Ambiente, Maria Graça Carvalho, disse querer reduzir ainda mais as compras de gás à Rússia. Em 2024, chegaram quatro navios a Sines.
O Governo quer aumentar as compras de gás natural liquefeito (GNL) aos Estados Unidos e à Nigéria, de forma a acabar de vez com o abastecimento proveniente da Rússia, o terceiro maior fornecedor deste combustível a Portugal, ainda que com expressão reduzida. A informação foi partilhada pela ministra da tutela em Davos.
“Já somos bastante independentes do gás russo. Em 2021, tivemos 15% de importações deste gás e no ano passado passámos a importar 5%. Esperamos diminuir ainda mais essa percentagem, importando sobretudo gás da Nigéria e dos Estados Unidos“, reforçou a ministra do Ambiente, Maria Graça Carvalho durante a sua intervenção num debate no Fórum Económico Mundial esta terça-feira.
O aprovisionamento do mercado nacional de gás natural é assegurado a partir das interligações com Espanha, através dos gasodutos de alta pressão, e do terminal de GNL de Sines, onde o gás é descarregado de navios metaneiros. Em 2024, o aprovisionamento de gás natural foi de 49.141 GWh (gigawatts-hora), sendo que, desse valor, cerca de 96% era de GNL.
Desse total, 51% dos navios que atracaram no Porto de Sines partiram da Nigéria e quase 40% dos Estados Unidos. Por sua vez, o gás natural russo representou cerca de 4,4% desse total devido a três navios russos recebidos no Porto de Sines, em maio, setembro e dezembro. Em 2023, Portugal recebeu quatro descargas de gás russo, em fevereiro, abril, agosto e outubro.
O objetivo de Portugal de reduzir as importações de gás russo apostando no recurso norte-americano está em linha com o da União Europeia, que, embora tenha vindo a reduzir de forma consistente as importações deste combustível por gasoduto, desde 2022, aumentou as importações de GNL russo em 2024 antes da entrada em vigor das novas sanções. França, Espanha e os Países Baixos, são os maiores importadores deste combustível na União Europeia.
Surge ainda numa altura em que, após ter tomado posse como Presidente dos EUA, Donald Trump ameaçou a União Europeia com tarifas se os países não incrementarem as compras de energia aos EUA.
Quanto às interconexões com o resto da Europa, a governante defendeu que Espanha e Portugal “ainda são uma ilha” e admite que tem “sido difícil construir interconexões com França”, apesar dos apelos. Assim, e numa altura em que se discute a independência e segurança energética no bloco europeu, Maria da Graça Carvalho defendeu que os 27 “juntos são mais fortes” e que deve haver cooperação entre os países.
Enquanto procura mitigar as importações de gás russo, Portugal quer também reforçar a transição energética apostando em mais energias renováveis para que, em 2030, 93% do total de energia produzida em Portugal provenha de fontes renováveis, tal como prevê o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC-2030), superando os 80% anteriormente projetados. Embora esteja confiante de que este objetivo seja concretizável, Maria da Graça Carvalho frisa que os transportes são, neste momento, “o maior desafio”.
O foco do Governo é agora reforçar a aposta nas redes elétricas e armazenamento, ao mesmo tempo que procura atrair investimento para a produção de hidrogénio verde, ambicionando reforçar a competitividade de Portugal face a outros países.
Na semana passada, o Governo lançou um concurso de quase 100 milhões de euros destinado a reforçar a flexibilidade e a sustentabilidade do sistema elétrico nacional. No âmbito deste concurso, foram aprovados 43 projetos que receberão financiamento para a instalação de pelo menos 500 megawatts (MW) de capacidade de armazenamento de energia na rede elétrica pública.
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