Sucessão de aquisições na Inapa criou “situação impossível” de sobrevivência

O ex-presidente da Parpública garantiu esta terça que o problema na Inapa "era muito mais estrutural do que conjuntural" e ia muito além dos 12 milhões de emergência pedidos para evitar falência.

O conjunto de aquisições realizadas pela Inapa nos últimos anos, nomeadamente da alemã Papyrus Deutschland, criou uma “situação impossível” para a empresa, que foi confrontada ainda com as fortes quebras da venda do mercado de papel e aumento das matérias-primas, defendeu José Realinho de Matos. O ex-presidente da Parpública defendeu a posição da empresa pública de não injetar dinheiro na empresa, adiantando que o problema era muito maior que “os famosos 12 milhões” para fazer face à quebra de liquidez de emergência na Alemanha.

“A Inapa não conseguiu sobreviver à sucessão de aquisições” que fez, argumentou José Realinho de Matos esta terça-feira no Parlamento, considerando que a empresa “deu um passo maior que a perna”, o que criou uma “situação impossível”.

O ex-presidente da Parpública, acionista de 45% da Inapa, disse que “o problema da Inapa era muito mais estrutural do que conjuntural” e vai além dos “famosos 12 milhões – que seriam na ordem dos nove milhões para a Parpública e outros três milhões dos outros acionistas”.

“O problema vem de muito trás”, garantiu. Realinho de Matos diz que os problemas começaram “a partir de 2019, aquando aquisição Papyrus e outras aquisições”, adiantando que a companhia “não tinha condições financeiras – tinha 222 milhões de dívida, das quais 67 milhões bancária”.

O antigo líder da Parpública reiterou que a “Inapa vinha solicitando desde 2020 apoios públicos e sempre direcionados ao acionista Parpública”, notando que qualquer apoio concedido pela empresa tinha que ser concedido ao nível das regras europeias, garantindo que havia viabilidade e o retorno desse investimento.

“A questão do não apoio [à Inapa] resultou de que Inapa não conseguiu fazer prova da viabilização”, afirmou, reforçando que a empresa “nunca teve plano de negócio que mostrasse viabilidade”.

Realinho de Matos notou ainda que a Inapa pediu um conjunto de financiamentos à Parpública e que os 12 milhões para evitar a falência na Alemanha, não inviabilizava a necessidade dos 15 milhões pedidos antes e que serviriam para financiar a reestruturação alemã, nomeadamente os custos para fazer os despedimentos que a empresa pretendia realizar na Alemanha e pagar dívidas a fornecedores.

Além destes dois montantes – de 15 e 12 milhões –, o presidente da Parpública fala ainda noutros três milhões relativos a um empréstimo obrigacionista, que a Inapa falhou. “Havia um conjunto elevado de financiamentos dirigidos a uma única entidade pública, o Estado”, rematou.

Proposta da JPP entregue em word. “Não se afeta dinheiro público com informalidade”

Quanto à existência de propostas para comprar a Inapa, Realinho de Matos, que tinha indicação das Finanças para vender a participação na distribuidora de papel, diz que “ninguém apareceu para aportar qualquer valor ou interesse na empresa”.

“Apareceram depois, uma empresa japonesa, a JPP, com uma proposta – um word – em que o pressuposto [do negócio] era que os bancos (177 de dívida bancária) faziam um corte de 90%”.

Sobre a disponibilidade dos bancos para efetuarem um corte de dívida, a responsável diz que nunca teve uma proposta “formal” dos bancos. Apenas recebeu essa informação da parte da empresa. “Não se afeta dinheiro público com informalidade”.

Sobre as 98 interações entre a Inapa e a Parpública, Realinho de Matos refere que “do ponto de vista documental, [essas interações] resumem-se a quatro ou cinco”.

O ex-presidente da Parpública explicou que “a venda da participação [da Inapa] chegou a ser equacionada a nível nacional e falou-se com parceiros do setor do papel, podia ser uma integração vertical”, lembrando que inicialmente a Inapa era uma produtora de papel.

“Essas empresas [do setor do papel, como a Navigator] foram consultadas, mas não mostraram interesse na incorporação do negócio”, justificou.

35 dias para informar Finanças? Responsabilidade era levar “soluções” à Tutela

Sobre o facto de ter sido informado no dia 6 de junho da proposta da Inapa para a necessidade de um financiamento de 15 milhões de euros para um alegado plano de reestruturação da companhia, mas o gestor, nomeada ainda por Fernando Medina, só ter participado a situação crítica da empresa ao Governo a 11 de julho, 35 dias depois, e já no prazo limite para evitar a falência, Realinho de Matos diz que “a responsabilidade era da Parpública levar soluções à sua Tutela” e não problemas.

O Ministério das Finanças terá sido apanhado desprevenido no dia 11 de julho com a suspensão da negociação das ações da Inapa, na sequência de um comunicado da empresa em que revela o adiamento do reembolso de obrigações convertíveis.

“A Inapa nunca teve um plano de negócio que mostrasse viabilidade” reforçou, adiantando que foi na posse dessa informação que teceu o seu parecer, recomendando que não fosse injetado dinheiro na empresa.

O ex-presidente da Parpública adiantou ainda que não tem” elemento factual nenhum que a administração de 2019 fosse indicada pela Parpública. “Foi votada em Assembleia Geral”, notou. “Entre o que se diz e a factualidade há uma certa diferença”.

Realinho rebateu ainda a garantia de Frederico Lupi, antigo CEO da Inapa, de que apenas teria tido conhecimento da instrução da Tutela para não injetar mais dinheiro na Inapa três dias antes de comunicar a falência iminente da operação alemã, com impacto no grupo.

“A Inapa foi informada por carta no dia 18 de abril de 2023” que havia “orientações emanadas da Tutela” que impediam a viabilização de uma operação de financiamento. “Houve informação factual sobre a matéria”, garante.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Sucessão de aquisições na Inapa criou “situação impossível” de sobrevivência

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião