Fed resiste a Trump e prepara-se para manter inalteradas as taxas de juros
O Comité de Política Monetária da Fed deverá manter as Fed Funds no intervalo 4,25% - 4,50%, como é amplamente esperado pelo mercado, apesar das constantes pressões de Trump para cortes imediatos.
A Reserva Federal dos EUA (Fed) conclui hoje a primeira reunião do Comité de Política Monetária (FOMC) do ano, que deverá ficar marcada pela manutenção das taxas de juro, como é amplamente esperado pelo mercado.
De acordo com a plataforma CME FedWatch, que analisa os preços dos futuros da Fed Funds, a probabilidade de manutenção das taxas no intervalo atual de 4,25%-4,50% é de 99,5%. Este consenso quase unânime reflete a cautela da Fed face às incertezas económicas e políticas que se avizinham, e sobretudo mostra que o banco central deverá resistir às inúmeras pressões do Presidente Donald Trump por cortes imediatos.
“É a decisão certa manter-se firme”, afirmou à CNBC o ex-presidente da Fed de Dallas, Robert Kaplan. A Fed, e particularmente o seu presidente Jerome Powell, enfrenta múltiplas variáveis que podem dificultar a formulação de políticas este ano e manterão o banco central em espera.
“Ninguém sabe o que esperar da Casa Branca. As medidas políticas ainda são pouco claras, mas sabemos que várias das propostas que têm sido discutidas na Casa Branca são um pouco inflacionárias, e penso que isso vai manter a Fed em xeque”, referiu Beth Ann Bovino, economista-chefe do US Bank, numa nota enviada aos clientes do banco recentemente.
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Os analistas do Barclays antecipam uma pausa nos cortes da taxa de juro, destacando que não há urgência para a Fed cortar a taxa de juros. A equipa de analistas do banco britânico sublinha que múltiplas variáveis estão em jogo, tornando a formulação de políticas particularmente desafiante este ano.
Entre os fatores a considerar estão as incertezas em torno das políticas do Presidente Donald Trump, que já sinalizou o desejo de taxas de juro mais baixas. Trump, que iniciou recentemente o seu segundo mandato, afirmou na semana passada que iria “exigir que as taxas de juro caiam imediatamente”, como voltou a frisar recentemente no Fórum Económico Mundial em Davos. No entanto, é importante notar que o presidente não tem autoridade direta sobre as decisões da Fed, que é uma instituição independente.
Os analistas da agência de notação de risco Moody’s apontam que a pausa nos cortes de juros pode beneficiar os bancos, pelo menos no curto prazo. “Um caminho mais lento em direção a taxas de curto prazo mais baixas apoia os bancos”, refere o analista Allen Tischler numa nota publicada na segunda-feira, sustentando essa opinião na ideia de que assim as instituições financeiras conseguem ajustar o preço dos depósitos de forma mais alinhada com a queda dos juros dos empréstimos indexados a taxas flutuantes.
Menos cortes das Fed Funds no horizonte
A Fed cortou as taxas em cada uma das suas últimas três reuniões, reduzindo a taxa de empréstimos de curto prazo em 100 pontos base entre meados de setembro e dezembro. No entanto, na reunião de dezembro, segundo as atas da Fed, os membros do FOMC sinalizaram que “pode estar na hora, ou perto, de começar a abrandar a flexibilização da política monetária”, indicando que, provavelmente, só baixaria as Fed Funds mais duas vezes em 2025, conforme a matriz “dot plot” (gráfico de pontos) das expectativas individuais dos membros relativamente às taxas futuras — os dois cortes indicados reduzem para metade as intenções do Comité quando o gráfico foi atualizado pela última vez em setembro.
Esta revisão em baixa das expectativas de cortes reflete a postura mais cautelosa da Fed face à persistência da inflação e às potenciais pressões inflacionárias das políticas de Trump.
“O que Trump obviamente gostaria que eles fizessem é acelerar a sua análise, acelerar a sua avaliação destas novas políticas e agir mais cedo, mesmo que não estejam confortáveis”, referiu o ex-presidente da Fed de Dallas, Robert Kaplan, agora executivo da Goldman Sachs, sublinhando ainda que “o trabalho das pessoas na Fed, neste caso, é fazer a sua análise e não agir até terem confiança.”
Apesar da pausa esperada na reunião desta quarta-feira, os economistas ainda preveem cortes das taxas ao longo do ano. De acordo com a mais recente sondagem da FactSet, os economistas estão a prever mais cortes de taxas em 2025, mas não até maio ou mesmo mais tarde. Porém, um fator imprevisível é se a inflação poderá subir no início deste ano devido às políticas da administração Trump.
“É importante notar que as perspetivas estão obscurecidas por uma maior incerteza política à medida que uma nova administração assume o cargo”, referiu Gregory Daco, economista-chefe da EY, à CBS News, acrescentado que antevê três cortes de 25 pontos base este ano — em março, junho e setembro.
A decisão da Reserva Federal dos EUA de manter as taxas de juro inalteradas não é apenas uma medida de cautela, mas um sinal claro de que o banco central está determinado a navegar as turbulentas águas económicas com firmeza e independência.
Num cenário de pressões políticas crescentes e incertezas económicas globais, esta postura da Fed demonstra uma resiliência crucial para a estabilidade financeira a longo prazo. O banco central está a enviar uma mensagem inequívoca: não cederá a caprichos políticos ou a soluções de curto prazo que possam comprometer a saúde económica da maior economia do mundo.
Este momento marca um ponto de inflexão crítico na política monetária dos EUA. A decisão desta quarta-feira não só reafirma a autonomia da Fed face às pressões externas, mas também estabelece um precedente para futuras ações do banco central.
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