Crise no setor automóvel vai chegar a Portugal (e os despedimentos também)

Portugal tem escapado às ondas de despedimentos das grandes fabricantes automóveis no país, como a Stellantis, mas a câmara do comércio francesa diz que a crise também vai chegar a Portugal.

O setor automóvel europeu enfrenta uma crise que tem forçado as grandes construtoras a avançar com programas de reestruturação e despedimentos de milhares. Portugal tem sido poupado, para já, a estes movimentos e 2024 foi o segundo melhor ano de sempre para a produção automóvel nacional. Ainda assim, “a crise vai chegar a Portugal” e, com ela, os despedimentos, admite a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa (CCILF).

A crise [que se vive no setor automóvel] na França e na Alemanha vai chegar a Portugal“, reconhece Laurent Marionnet, diretor-geral da câmara de comércio francesa, em declarações ao ECO. O responsável mostra-se “preocupado” com a situação do setor, adiantando que “não sabemos o que vai acontecer” em Portugal.

Apesar de, até agora, não haver notícias de despedimentos por parte das grandes construtoras automóveis no país, onde se incluem duas grandes francesas – Stellantis e Renault –, e os investimentos continuarem a fluir para o país, com a atividade a abrandar lá fora, o impacto no mercado nacional é praticamente inevitável.

O mercado automóvel na Alemanha e França está a cair e a produção em Portugal vai cair também.

Laurent Marionnet

Diretor-geral da CCILF

O mercado automóvel na Alemanha e França está a cair e a produção em Portugal vai cair também“, atira Laurent Marionnet. Questionado sobre se os despedimentos também vão chegar a Portugal, o responsável atira um: “sim, sim”. O diretor-geral da câmara do comércio francesa destaca a rápida mudança que está a acontecer no automóvel. “O mercado automóvel está a mudar completamente, com os chineses a entrar, e a produção europeia não sabemos como vai evoluir“, refere.

Perante esta nova dinâmica, marcada por uma maior competitividade e pela transição para os carros elétricos, Laurent Marionnet realça que “a indústria portuguesa de automóvel já está a mudar e a fazer a transformação para os motores elétricos“, como acontece com as duas empresas gaulesas no mercado nacional.

No caso da Stellantis, que tem uma fábrica em Mangualde, a dona de marcas de carros como a Peugeut e a Citröen arrancou no ano passado a produção de elétricos em Portugal após um investimento de 119 milhões de euros, obtido através de uma das agendas mobilizadoras para a inovação empresarial. A empresa, que até ao passado mês de dezembro foi liderada pelo português Carlos Tavares, começou a produzir, no início de outubro, modelos 100% elétricos de passageiros e comerciais ligeiros Citroën ë-Berlingo e ë-Berlingo Van, Fiat e-Doblò, Opel Combo-e e Peugeot E-Partner e E-Rifter.

Fábrica da Renault em Cacia

A Renault, com uma unidade de produção em Cacia, também “já está a trabalhar numa nova solução de motores elétricos“, adianta o responsável da câmara francesa.

2024 foi um ano “negro” para as grandes fabricantes automóveis, com as empresas do setor a anunciarem encerramentos de fábricas, despedimentos e planos de reestruturação para fazer face ao abrandamento das encomendas. A francesa Stellantis, assim como a Volkswagen, que tem em Portugal a Autoeuropa e é o maior exportador do país, admitiram o fecho de fábricas e outras medidas para cortar custos, deixando Portugal de fora dos despedimentos.

Apesar da crise no automóvel ainda não estar a refletir-se diretamente nestes grandes grupos internacionais, empresas que produzem para estas multinacionais e fabricantes de componentes já sentem a crise.

Só no final do ano passado, soube-se que a Coindu vai fechar a fábrica em Arcos de Valdevez e despedir 350 pessoas; a espanhola Cablerías, outra fornecedora instalada no Alto Minho, avançou com um pedido em insolvência em Portugal, ameaçando 250 postos de trabalho em Valença; e a catalã Ficosa decidiu colocar os 900 trabalhadores da sua fábrica na Maia em lay-off devido à quebra nas encomendas. Estes são os casos conhecidos, mas há mais empresas de menor dimensão em dificuldades.

O Volkswagen T-Roc fabricado na Autoeuropa em Palmela Volkswagen Autoeuropa

Em risco estão ainda mais de 500 postos de trabalho de fornecedoras da Autoeuropa. A Vanpro e a Tenneco não vão fornecer componentes para o novo modelo que vai começar a ser produzido na fábrica da Volkswagen em Palmela no final do ano, com a construtora automóvel detida a transferir esta produção para uma empresa alemã, na qual controla 50% do capital. Uma decisão que ameaça mais de 500 postos de trabalho, estimou ao ECO o sindicato Site-Sul.

A crise no setor automóvel europeu e o desafiante ambiente económico na Europa, sobretudo nas duas maiores economias europeias — França e Alemanha — também já estão a ter impacto nas exportações portuguesas. Toda a indústria transformadora, com destaque para setores como o têxtil e de vestuário, calçado, cerâmica e vidro, madeira e mobiliário, metalomecânica e os moldes já sentem um travão nas vendas ao exterior.

Mesmo perante este ambiente desafiador, Laurent Marionnet diz que “os franceses ainda querem investir em Portugal” e o setor automóvel continua a ser um dos mais relevantes para aquele que é o segundo maior investidor estrangeiro em Portugal e um dos maiores empregadores. O responsável realça que no setor automóvel os franceses “que já estão em Portugal ainda estão a investir muito, a transformar as suas produções e procurar parceiros franceses“.

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