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Indemnizações Sem Complexidade: O Poder dos Seguros Paramétricos
Patrícia Azevedo Lopes analisa os seguros paramétricos, uma nova solução para obter indemnizações rapidamente e reduzir a litigância entre seguradoras e segurados.
A inovação tecnológica está a transformar profundamente o setor segurador, e os seguros paramétricos emergem como um dos principais agentes desta revolução. Com um modelo baseado em dados objetivos e métricas predefinidas para a ativação de indemnizações, estes produtos têm o potencial de minimizar significativamente as queixas e a litigância associadas aos seguros tradicionais.
Tradicionalmente, os seguros operam com base em indemnizações, onde, após a ocorrência de um sinistro, é necessário avaliar os danos. Nos seguros paramétricos, basta a ocorrência de um evento específico para gerar uma compensação.
O que são seguros paramétricos?
Os seguros paramétricos funcionam de forma diferente dos seguros tradicionais. Em vez de dependerem de uma peritagem e avaliação exaustiva dos danos após um sinistro, baseiam-se em índices ou parâmetros previamente acordados, como a quantidade de precipitação, a intensidade de um sismo ou a velocidade do vento.
Um seguro paramétrico opera de maneira diferente, assegurando uma compensação com base na ocorrência de um evento específico, em vez de um dano concreto. Para isso, utiliza um índice ou um conjunto de índices pré-determinados e acordados entre o segurador e o segurado. Esses índices possuem um “limiar” que, uma vez atingido ou ultrapassado, dá direito a uma indemnização, a qual pode aumentar progressivamente até alcançar o limite máximo estipulado na apólice.
Assim que o parâmetro acordado é atingido, o pagamento é automaticamente acionado, sem necessidade de um processo complexo de peritagem e apuramento dos prejuízos.
Os benefícios para a redução de queixas e da litigância compreendem:
- Transparência no processo: Os seguros paramétricos oferecem uma clareza sem precedentes. Tanto segurados como seguradoras sabem de antemão as condições que acionam os pagamentos, reduzindo a probabilidade de disputas.
- Rapidez no pagamento: Ao eliminar a necessidade de peritagens pós-sinistro, os pagamentos são efetuados em poucos dias, aumentando a satisfação do cliente.
- Redução da subjetividade: Como as indemnizações são baseadas em dados objetivos, evita-se a interpretação subjetiva que, frequentemente, é motivo de queixas e litígios.
O setor de seguros paramétricos representa o auge dos seguros personalizados e feitos à medida. Num processo colaborativo e de partilha, o segurado, o seu intermediário de seguros e o segurador paramétrico identificam e determinam: Os riscos aos quais o segurado está exposto e que podem ser mitigados pelo contrato de seguro; os níveis de exposição a serem garantidos através da definição do limite de indemnização; Os índices que podem ser utilizados para verificar a ocorrência de um evento coberto e as respetivas fontes de dados, incluindo a tecnologia a ser utilizada para a obtenção desses dados e a sua modelização, de modo a determinar as probabilidades de ocorrência do evento a ser segurado.
Num seguro tradicional, as queixas e os litígios surgem, muitas vezes, devido a desacordos sobre o valor das indemnizações ou sobre a interpretação dos termos das apólices. Os seguros paramétricos, ao padronizarem o processo de ativação e pagamento, eliminam estas áreas cinzentas.
Os seguros paramétricos começam já a ser utilizados em setores como:
- Agricultura: Cobertura contra secas ou chuvas excessivas, com base em índices climáticos.
- Energias renováveis: Proteção contra a falta de vento ou radiação solar abaixo do esperado.
- Viagens: Indemnizações automáticas em caso de atrasos ou cancelamentos.
Antes de mais, é importante destacar que um seguro paramétrico não deve substituir um seguro tradicional, mas sim complementá-lo. Assim sendo, observa-se um aumento contínuo na procura por parte do setor agrícola devido a eventos climáticos. Isso ocorre porque algumas culturas, como a produção de cannabis para fins medicinais, não são seguráveis através do seguro tradicional de colheitas. Este setor está em expansão no território português.
Devido ao atual ambiente de aumento das taxas de seguros, várias grandes empresas estão a explorar o uso de seguros paramétricos como uma ferramenta para transferir parte da sua exposição catastrófica, especialmente a fenómenos sísmicos, do seu programa de seguros tradicional para um programa de seguros paramétricos. Isso permite-lhes obter reduções nos seus prémios comerciais.
Além disso, o setor das energias renováveis tem demonstrado grande interesse nos seguros paramétricos, devido à volatilidade climática e ao consequente impacto nos níveis de produção energética.
Embora existam há mais de uma década, os seguros paramétricos ainda são desconhecidos para a maioria das organizações, independentemente da sua dimensão.
Apesar dos benefícios, os seguros paramétricos também apresentam desafios.
Um dos principais é o “basis risk”, ou seja, quando o pagamento paramétrico não reflete o impacto real do sinistro no segurado. Para mitigar este risco, é fundamental um design cuidadoso dos produtos, incluindo o uso de dados de alta qualidade aquando da respetiva modelização atuarial.
Outro desafio significativo é a necessidade de dados precisos e confiáveis para modelizar os índices que determinam os pagamentos. A tecnologia utilizada para a obtenção e análise desses dados deve ser robusta e precisa, o que pode representar um custo adicional para as seguradoras.
Com a crescente digitalização do setor segurador e a proliferação de tecnologias como “IoT” e “Big Data”, é esperado que os seguros paramétricos se tornem cada vez mais comuns. Esta evolução não apenas beneficiará os segurados, mas também contribuirá para um mercado mais eficiente e menos conflituoso.
Em suma, os seguros paramétricos representam uma oportunidade para redefinir a relação entre seguradoras e clientes, promovendo a confiança e reduzindo significativamente as queixas e a litigância.
Para o setor segurador, abraçar esta inovação é mais do que uma escolha: é uma necessidade para permanecer relevante num mundo em rápida transformação!
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