Três casos de reinvenção. Covid deixou marca nas operações das empresas

Durante a pandemia, várias empresas apostaram em outras áreas de negócio. Cinco anos depois do grande confinamento, continuam a colher os frutos dessa transformação. Conheça alguns exemplos.

A pandemia foi uma ameaça para a maioria das empresas portuguesas, como refletiu a quebra de 10,3% nas exportações logo em 2020, mas para outras acabou por ser uma oportunidade, levando-as a apostar noutras áreas de negócio. Passados cinco anos do ‘grande confinamento’, algumas ainda continuam a colher os frutos dessa transformação. Conheça os exemplos da Casa São Bernardo, da askblue e da Lavoro.

Para sobreviverem a esta crise que assombrou grande parte do tecido industrial português, também os empresários nacionais foram obrigados a adaptar-se e a abrirem novas avenidas de crescimento. Foi o caso da produtora de calçado de segurança Lavoro, que se reinventou durante a pandemia e ainda hoje está a faturar com essa transformação.

A fabricante de Guimarães, no distrito de Braga, viu na crise pandémica uma oportunidade de negócio e adaptou as linhas de produção para começar a produzir calçado especializado para os profissionais de saúde. Uma aposta que mantém até aos dias de hoje.

“Antes da pandemia já tínhamos um chinelo ortopédico em pele para os profissionais de saúde, mas com a Covid-19 adaptámos esse modelo para um chinelo feito com matérias antimicrobianas, que é possível ser lavado a 60 graus”, explica Ana Oliveira, diretora de marketing da Lavoro, que produz anualmente 600 mil pares de calçado de proteção individual.

A pandemia acabou por ser uma oportunidade para a Lavoro, que viu o número de colaboradores e a faturação aumentar.

Ana Oliveira

Diretora de marketing da Lavoro

Esta aposta no chinelo antimicrobiano continua a dar frutos com a fabricante nortenha a preparar uma encomenda de dez mil unidades para o setor hospitalar sueco, sem revelar o valor do negócio. “A pandemia acabou por ser uma oportunidade para a empresa, que viu o número de colaboradores aumentar de 240 para 284 pessoas em cinco anos (2020 – 2025) e a faturação de 18 para 22 milhões”, detalha a porta-voz da Lavoro.

Chinelos antimicrobianos da Lavoro começaram a ser produzidos na pandemiaLavoro

Para além deste chinelo, a fabricante liderada por Teófilo Leite aproveitou o know-how e acrescentou ao portefólio dois sapatos antimicrobianos com propriedades semelhantes (antimicrobiano e lavável) direcionados para a restauração e hotelaria. “Depois da pandemia, este setor registou um boom e estamos a ter muita procura por este tipo de produtos e está a ser uma das nossas apostas dentro de portas”, detalha a diretora de marketing da Lavoro.

“Com estas apostas, crescemos a nível de faturação e clientes”, afirma a diretora de marketing da empresa, que perspetiva produzir 40 mil pares deste calçado antimicrobiano, que representará quase 6% da faturação.

Casa São Bernardo ainda fatura com entregas ao domicílio

Fundada em 1995 em Lisboa por Isabel Beltrão, a Casa São Bernardo produz e vende comida para fora. Durante a pandemia, a Casa São Bernardo começou a entregar comida ao domicílio face às restrições impostas. “Quase passamos de uma loja para um serviço de logística”, conta ao ECO Duarte Beltrão, diretor-geral da Casa São Bernardo e que pertence à segunda geração à frente da empresa.

O gestor conta que, antes do Covid-19, o serviço de entregas ao domicílio já existia, principalmente para a terceira idade, mas pesava apenas 2% do volume de negócios, número que escalou durante a pandemia para os 20% da faturação, sendo que nos dias de hoje pesa 15%.

Com a adesão ao serviço de entregas ao domicílio durante a pandemia, Duarte Beltrão sentiu a necessidade de comprar mais duas viaturas, uma delas com refrigeração, porque entregam comida congelada. Contas feitas, antes da pandemia a frota era composta por três carrinhas e agora por cinco.

Depois do Covid, conseguimos manter os clientes e temos todos os dias um volume significativo de entregas ao domicílio.

Duarte Beltrão

Diretor geral da Casa São Bernardo

“Depois do Covid, conseguimos manter os clientes e temos todos os dias um volume significativo de entregas ao domicílio”, afiança o gestor da Casa São Bernardo, que conseguiu fintar a pandemia que destruiu quase 99 mil empregos num ano.

A juntar-se às entregas ao domicílio, a Casa São Bernardo apostou no serviço de catering corporativo durante a pandemia. “Já no fim da pandemia, quando algumas medidas abrandaram, começámos a perceber que os serviços de catering, nomeadamente para empresas, começaram a crescer e a procura de novas oportunidades surgiu com frequência –o paradigma tinha mudado”, constata o gestor, acrescentando que “desde então têm sido crescentes as novas oportunidades e novos clientes”. Antes da pandemia, o catering pesava 2% na faturação, hoje já pesa 28%.

Duarte Beltrão, diretor-geral da Casa São BernardoCasa São Bernardo

Para além da venda take away e o catering, a Casa São Bernardo tem um pequeno restaurante nas instalações que, na ótica de Duarte Beltrão, “serve com um cartão de visita”.

A Casa São Bernardo emprega 39 pessoas e fechou o ano passado com uma faturação de 2,7 milhões de euros. Na altura da pandemia empregava 32 pessoas e faturava 1,6 milhões de euros. Para o filho da fundadora, que assumiu a gestão do negócio, “este crescimento no volume de negócios deve-se a adaptação e apostas nestas duas áreas de negócios”.

Está nos planos abrir mais três lojas Casa São Bernardo na área de Grande Lisboa até 2031, um investimento de três milhões de euros, contabiliza o gestor.

Askblue: pandemia surgiu como um acelerador

A Covid também deixou marca nas operações da Askblue. A empresa portuguesa de consultoria tecnológica e de negócio com capitais 100% capitais portugueses, desenvolveu, na pandemia, aplicações e serviços para as empresas gerirem espaços de trabalho ou lugares de estacionamento, já que muitos colaboradores passaram a estar em regime híbrido, não tendo lugares ou datas fixas para estar nas instalações.

Passados cinco anos do surgimento da pandemia, a tecnológica liderada por Pedro Nicolau continua a disponibilizar essas soluções. “A pandemia surgiu como um acelerador, já que os clientes continuam a ter interesse em gerir os espaços e os recursos humanos“, conta ao ECO Élia Faustino, head of strategy & consulting da Askblue.

A pandemia surgiu como um acelerador, já que os clientes continuam a ter interesse em gerir os espaços e os recursos humanos.

Élia Faustino

Head of strategy & consulting da Askblue

Este tipo de aplicações e serviços foram e são usados por empresas de várias setores de atividade como distribuição, seguros, alimentar, banca, aviação e energia. “Criamos produtos que não estavam confinados ao período da pandemia e os mesmos continuam a ser usados ainda hoje”, explica a head of strategy & consulting da Askblue.

Élia Faustino, head of strategy & consulting da Askblue Askblue

Fundada em 2013 e com escritórios em Lisboa, Coimbra, Ilha Terceira, São Paulo e Goiânia (Brasil) e Londres (Reino Unido), a Askblue tem quase 50 clientes, emprega 410 pessoas e faturou 19 milhões de euros em 2023.

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