Crise inflacionista deixa cicatriz. Rendimentos reais subiram mais que percepção das famílias

Análise do BCE conclui que aumento da inflação marcou as percepções das famílias, que consideram que os rendimentos reais são menores do que realmente são.

A crise inflacionista teve um impacto negativo nas perceções das famílias da Zona Euro. As famílias têm uma posição muito mais pessimista sobre o seu rendimento real face à realidade, com Portugal a situar-se acima da média dos países do euro, penalizando o consumo, de acordo com uma análise divulgada esta quarta-feira pelo Banco Central Europeu (BCE).

No artigo publicado no “Boletim Económico” da instituição liderada por Christine Lagarde, os economistas assinalam que nos últimos anos o consumo privado aumentou a um ritmo mais lento (1,2% entre o segundo trimestre de 2022 e o segundo trimestre de 2024) do que o rendimento disponível real (3,8%).

Fonte: Boletim Económico de janeiro. Banco Central Europeu.

Uma possível explicação para o crescimento mais lento do consumo é que o recente aumento da inflação marcou as crenças das pessoas, fazendo com que as famílias considerem que o seu rendimento real é menor do que realmente é. À medida que as famílias ajustam o consumo com base nessas crenças, essas perceções podem ter um efeito sobre os gastos do consumidor”, pode ler-se na análise assinada por economistas do BCE.

Como exemplo recordam que, em resposta a um inquérito do BCE de setembro de 2024, apenas 37% dos entrevistados (21% em resposta à mesma pergunta em setembro de 2023) indicaram que o rendimento real aumentou ou continuou na mesma. Um quadro que contrasta com os dados que revelam que mais de 50% das mesmas famílias tiveram um aumento dos rendimentos reais durante o mesmo período.

“Assim, as famílias têm uma percepção muito mais pessimista do seu rendimento real do que o seu rendimento real implicaria – embora essa percepção tenha melhorado desde 2023. Isso sugere que o recente aumento da inflação teve um impacto negativo nas perceções das famílias“, consideram.

Segundo os economistas do BCE, este pessimismo é maior entre as famílias da Zona Euro com menores rendimentos. É, no entanto, transversal à generalidade dos países (com exceção da Bélgica – podendo estar ligada à indexação da inflação aos salários). Em Portugal, essa percentagem ascende a 35,6%, fixando-se assim acima dos 33,2% da média registada na Zona Euro.

Fonte: Boletim Económico de janeiro. Banco Central Europeu.

Como o ECO noticiou, nos últimos três anos, o aumento acumulado do rendimento disponível real das famílias atingiu 7,2%, colocando Portugal na liderança da Zona Euro e em segundo lugar na União Europeia, apenas atrás da Hungria, segundo dados divulgados na terça-feira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Esta tendência positiva é espelhada particularmente no último ano, com o rendimento disponível real (descontado pela inflação) das famílias portuguesas a aumentar 6,06% entre o terceiro trimestre de 2023 e o mesmo período de 2024. Mais uma vez, Portugal ficou em segundo lugar na União Europeia, ligeiramente atrás da Hungria, que apresentou um crescimento de 6,12% neste período.

No entanto, os economistas do BCE assinalam que o pessimismo registado nos vários países sobre os rendimentos tem consequências, entre as quais uma penalização do consumo. “Essa diferença é visível em todas as categorias de consumo, mas é maior em serviços do que em necessidades e bens duráveis”, pode ler-se na análise.

Ainda assim, mostram-se otimistas de que a situação se inverta. “À medida que os efeitos cicatrizantes do recente aumento da inflação se dissipam, espera-se que o consumo alcance o crescimento do rendimento real“, apontam.

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