Alentejo e ilhas foram os campeões do crescimento das exportações em 2024

Maiores crescimentos em valor exportado, em 2024, verificaram-se na Madeira, Açores e Alentejo, com taxas homólogas superiores a 5%. Exportações a Norte caem 1,4%, para 26,8 mil milhões de euros.

O Norte do país continua a ser o principal produtor de bens portugueses para exportar, mas no ano passado sofreu uma quebra face ao ano anterior, quadro que também se verificou no Centro. De acordo com cálculos do ECO, com base em dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), os maiores crescimentos em valor exportado verificaram-se em bens produzidos na Madeira, Açores e Alentejo, com taxas homólogas superiores a 5%.

A região Norte é ‘rainha e senhora’ na produção de bens que Portugal vende ao exterior, até porque concentra grande parte da indústria portuguesa. Em termos absolutos, as exportações nesta região ascenderam a 26,7 mil milhões de euros em 2024, representando 33,75% do total das exportações nacionais. No ‘ranking’ foi seguida por Lisboa e pelo Centro (ver mapa).

No global, em 2024, as exportações portuguesas cresceram 2,5% face ao ano anterior, atingindo cerca de 79,3 mil milhões de euros. No entanto, considerando apenas Portugal Continental a taxa de crescimento do valor exportado foi apenas de 0,34%, enquanto a das regiões autónomas foi bastante superior, ainda que em termos absolutos o contributo seja menor. As exportações produzidas na Madeira subiram 6,1% e nos Açores 5,4%.

Por outro lado, no maior centro de exportação do país – o Norte -, o valor caiu 1,4% face ao ano anterior. “Ainda assim, a região Norte continua a revelar o maior excedente comercial de todas as regiões em 2,4 mil milhões euros, face ao défice de 27,7 nacional“, assinala Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP – Associação Empresarial de Portugal, em declarações ao ECO.

“O contexto internacional adverso tem muita influência numa região com elevada vocação exportadora e forte peso da indústria, como é o caso da Região Norte”, considera o responsável da associação empresarial.

O contexto internacional adverso tem muita influência numa região com elevada vocação exportadora e forte peso da indústria, como é o caso da Região Norte.

Luís Miguel Ribeiro

Presidente da AEP

O setor têxtil continua a encabeçar a lista dos bens mais vendidos pelo Norte ao exterior, representando 4,2 mil milhões de euros, apesar da quebra de 5,1% face ao ano anterior, seguido pelas máquinas (4,1 mil milhões), plásticos (2,8 mil milhões) e metais (2,7 mil milhões).

No entanto, a pressionar negativamente o desempenho nesta região face a 2023 estiveram o material de transporte, com uma quebra de 8,6% (para cerca de 2,5 mil milhões de euros), e o calçado, chapéus e artefactos de uso semelhante que recuaram 8,3% (para 1,6 mil milhões de euros).

“São setores de elevada especialização na região Norte, o que é preocupante. São necessárias políticas públicas que promovam a competitividade das empresas e a sua diversificação de mercados, nomeadamente via fundos europeus“, defendeu Luís Miguel Ribeiro.

Paulo Gonçalves, porta-voz da APICCAPS – Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneo, destacou que a quebra no setor se deve fundamentalmente ao contexto internacional e a uma alteração na estratégia de exportação.

Crescemos em quantidade e diminuímos em valor. Ou seja, exportámos mais sapatos, mas de valor menor. Isto acontece porque até há pouco tempo estávamos muito concentrados no calçado em couro e começámos a diversificar e exportar mais calçado de outros materiais. Vendemos a preços mais baixos em virtude disso”, explicou Paulo Gonçalves em declarações ao ECO.

Crescemos em quantidade e diminuímos em valor. Ou seja, exportámos mais sapatos, mas de valor menor.

Paulo Gonçalves

Porta-voz da APICCAPS

O responsável da APICCAPS adianta ainda que o setor também começou a importar mais algumas tipologias de sapatos, acrescentando a mais-valia em Portugal, para posterior exportação. Ademais, o contexto internacional foi “muito adverso”, uma vez que “os dois principais mercados – a Alemanha e França – têm tido desempenhos económicos fracos”.

“O ano de 2024 foi difícil, mas ainda assim o setor exportou para 170 países. O último trimestre já foi positivo para o setor”, salientou. A nível nacional, as exportações da indústria portuguesa do calçado aumentaram 3,3% em volume no ano passado, para um total de 67 milhões de pares, recuperando parte das quantidades perdidas no ano anterior. No entanto, o valor dessas vendas ao exterior diminuiu pelo segundo ano consecutivo (-6,5%) para 1.702 milhões de euros.

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Além da quebra no Norte, as exportações do Centro caíram 1,2%, as do Oeste e Vale do Tejo recuaram 2,8% e as do Algarve diminuíram 1,34%. Por outro lado, as exportações do Alentejo cresceram 5%, para cerca de 2,8 mil milhões de euros (invertendo a queda de 14,6% registada em 2023 face a 2022), destacando-se o Baixo Alentejo e Alto Alentejo, com taxas de 15,9% e 6,3%, respetivamente.

Os produtos minerais e as gorduras e óleos animais/vegetais e de origem microbiana registam os valores mais elevadas das exportações alentejanas, com 943 milhões de euros e 790 milhões de euros em 2024, respetivamente. Em declarações ao ECO, David Simão, presidente da NERBE – Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral, assinalou “o aumento de produção das Minas de Aljustrel, cuja recuperação da atividade produtiva tem registado aumentos muito interessantes” e da conquista de mercado pelo azeite português lá fora.

A entrada em produção de novas áreas, torna o azeite cada vez mais uma atividade de referência no Baixo Alentejo. Acima de tudo com a inovação, temos aumentado a capacidade de transformação e de acrescentar valor ao que produzimos”, referiu.

A entrada em produção de novas áreas, torna o azeite cada vez mais uma atividade de referência no Baixo Alentejo. Acima de tudo com a inovação, temos aumentado a capacidade de transformação e de acrescentar valor ao que produzimos.

David Simão

Presidente da NERBE

Para o responsável alentejano, para que a região continue a registar estas taxas de crescimento é preciso condições que permitam às empresas aumentar a produção e torná-la mais eficiente. Para isso, defende a aposta em “infraestruturas, em acessibilidade e vias de comunicação”, considerando que apenas desta forma é possível incentivar o investimento e levar a região a não se limitar apenas ao setor primário.

“São precisos mais produtos transformados para que consigamos atingir mais mercados e mais rentáveis”, advoga.

No entanto, em termos de variação face a 2023 foram pérolas naturais ou cultivadas/pedras preciosas ou semipreciosas e semelhantes/metais preciosos/bijutaria/moedas que registaram a maior taxa de crescimento no Alentejo: 252,4% (para 655 mil euros exportados).

Já na Madeira, as exportações de bens de gorduras e óleos animais, vegetais ou de origem microbiana registaram a maior taxa de variação homóloga (para 232 mil euros), sendo os produtos das indústrias químicas ou das indústrias conexas os bens com o valor mais elevado (63 milhões de euros). Segmento no qual os Açores registaram a maior taxa (89,2%), ainda que tenham sido as exportações de animais vivos e produtos do reino animal a registar o maior valor: 102 milhões de euros.

Por sua vez, as exportações da Grande Lisboa cresceram em valor 3,4% em 2024, o que compara com a quebra de 8,9% registada em 2023 face a 2022, e as da Península de Setúbal avançaram 3%, recuperando da diminuição homóloga de 9,4% no ano anterior.

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