Portugal perdeu mais de um terço dos genéricos essenciais numa década
Mais regulação e pressão sobre as tabelas de preços levou a que, nos últimos dez anos, 33% destes medicamentos foram retirados do mercado, de acordo com uma análise da farmacêutica israelita Teva.
Mais de um terço (33%) dos medicamentos genéricos essenciais foram retirados do mercado português nos últimos dez anos, de acordo com uma análise da farmacêutica israelita Teva divulgada esta segunda-feira. O desinvestimento do setor deve-se à pressão sobre os preços e ao aumento das exigências regulamentares e ambientais.
Entre 2014 e 2024, quase metade (46%) dos genéricos da lista de medicamentos essenciais da União Europeia (UE) foram disponibilizados por apenas um fornecedor, um número que quase duplica quando se analisam as empresas com a maioria (60%) da quota de mercado. É a própria Teva, uma das maiores empresas de genéricos do mundo, que encabeça esse fornecimento, enquanto a Sandoz lidera na produção europeia.
O estudo “Generic Health Check Europe 3.0” conclui que existem dois grandes problemas na indústria: a rapidez da concentração dos medicamentos genéricos essenciais, três vezes mais célere do que a dos outros genéricos, o que constitui um “risco real efetivo” para a segurança do abastecimento na Europa, e a falta de fornecimento diversificado (de diferentes fabricantes) dos genéricos essenciais em áreas como a cardiologia, a oncologia, a saúde mental ou os antibióticos.
Segundo a empresa IQVIA, de investigação clínica, relatórios comerciais e tecnologia para saúde, 83% dos produtos genéricos vêm do mesmo fornecedor.
“Uma incerteza que aumenta ainda mais devido ao nível preocupante de consolidação de fornecedores e à saída do mercado de alguns genéricos essenciais, tendência que se tem verificado nos últimos anos, nomeadamente devido a tensões geopolíticas, desafios económicos e novas exigências políticas, o que coloca os cuidados de saúde dos doentes em risco”, assinalam os autores.
Embora o preço dos bens de consumo tenha aumentado 30% nessa década, os valores médios dos medicamentos genéricos sujeitos a receita médica caíram quase 8%.
“Os doentes dependem de um acesso fiável a tratamentos de elevada qualidade e a preços acessíveis, mas a consolidação, em curso, dos fornecedores e a saída do mercado de medicamentos essenciais ameaçam esse acesso”, alerta a diretora geral da Teva Portugal, num comentário publicado com o relatório científico.
“A redução das pressões sobre os fabricantes de medicamentos genéricos é essencial para proteger os cuidados prestados aos doentes e garantir a sustentabilidade a longo prazo dos sistemas de saúde europeus. Para os medicamentos genéricos essenciais, é ainda mais importante que exista uma rede de abastecimento fiável e diversificada”, apela Marta González, criticando a ausência de flexibilidade dos preços.
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