Exclusivo Bondalti escolhe Portugal para refinaria de lítio

João de Mello, presidente da Bondalti, está preocupado com a demora na aprovação da OPA sobre a espanhola Ercros e elogia o investimento da chinesa CALB numa fábrica de baterias de lítio em Sines.

A Bondalti estava indecisa sobre se escolhia Torrelavega, em Espanha, ou Estarreja, em Portugal, para a instalação de uma refinaria de lítio da Lifthium Energy. A escolha está feita. Se o investimento avançar, o concelho do distrito de Aveiro vai receber esta unidade.

Já está decidido que a avançar será em Portugal, porque achamos que é onde temos as melhores condições para poder fazer um investimento industrial desta natureza”, afirmou João de Mello, presidente da empresa química, em entrevista ao ECO.

Luís Delgado, administrador da Bondalti, chegou a afirmar em setembro, numa conferência do ECO, que Espanha apresentava vantagens, sobretudo no licenciamento industrial. No mesmo mês, o Governo espanhol anunciou a atribuição de um apoio de mais de 21 milhões à Lifthium Energy Cantabria, em Torrelavega, para a construção da refinaria de lítio verde. Mas a unidade da Lifthium, que é detida em 15% pela Bondalti e 85% pelo Grupo José de Mello, ficará mesmo em Portugal.

“A ideia é fazer uma unidade de refinação de lítio em Portugal, e que essa unidade se situe em Estarreja, mas ainda estamos numa fase preliminar de análise do projeto, sem decisão de investimento”, sublinhou João de Mello. A decisão de Estarreja é para efeitos do projeto, precisou posteriormente a Bondalti. A decisão final só será feita com a decisão do investimento.

É sempre mau quando se vê um projeto [refinaria de lítio da Galp e Northvolt] num setor em que estamos a pensar entrar a ser cancelado. É mau para o setor. Cria uma dinâmica negativa.

João de Mello

Presidente da Bondalti

O outro projeto para uma refinaria de lítio em Portugal, que juntava a Galp e a Northvolt, caiu com estrondo no final de novembro, depois da empresa sueca se ter retirado da joint-venture devido a dificuldades financeiras. O presidente da Bondalti, empresa que em 2023 faturou 506 milhões de euros e emprega mais de 700 trabalhadores, lamentou o desfecho.

É sempre mau quando se vê um projeto num setor em que estamos a pensar entrar a ser cancelado. É mau para o setor. Cria uma dinâmica negativa”, assinalou.

“Nós acreditamos que temos condições no nosso projeto para continuar a trabalhar e é isso que estamos a fazer. Agora, o ambiente da indústria automóvel, como sabe, é negativo. Há muitas sombras ao nosso lado, portanto temos de ser muito rigorosos e cautelosos em relação a isto. Mas, temos uma equipa a trabalhar e temos a missão de vir a fazer a primeira refinaria de lítio em Portugal“, disse.

Já a confirmação pela chinesa CALB de que vai investir aproximadamente 2.000 milhões de euros numa fábrica de produção de baterias de lítio em Sines, na semana passada, merece o elogio de João de Mello. “Tudo o que seja para sustentar a existência de um setor ligado à eletrificação automóvel, acho favorável. É um anúncio, vamos ver também quando se concretiza, mas acho que é um anúncio favorável”.

Agenda mobilizadora do hidrogénio verde atrasada

Outro investimento que está por decidir é a unidade de produção de hidrogénio verde junto do complexo químico da Bondalti, em Estarreja. Integrada na agenda mobilizadora do PRR H2Enable, prevê um investimento de 60 milhões de euros.

“O H2Enable também é um projeto, no fundo que ajudaria a descarbonizar uma parte da nossa atividade também em Estarreja. É um projeto que está a avançar devagar. Ainda há necessidade de enquadramento decisório e político sobre como é que serão tratados este tipo de projetos, nomeadamente como se poderá ou não injetar hidrogénio verde na rede de gás natural, os pontos de acesso, as quantidades”, explica João de Mello.

Temos equipamentos comprados por antecipação, mas não temos uma decisão tomada de investimentos também“.

O presidente da Bondalti assume que face ao atraso será necessário equacionar “outras vias ou meios de financiamento” alternativos ao PRR, até porque para que uma fábrica de hidrogénio entre em produção demora mais de dois anos. As hipóteses passam por recorrer às mini-agendas do PT2030 ou ao European Hydrogen Bank.

João de Mello não deita ainda a toalha ao chão em relação ao PRR. “Estamos em conversas. Ainda há possibilidade dos prazos serem alargados. Há um ambiente que não está totalmente claro e uma tecnologia também bastante embrionária. Temos de continuar o projeto e tomar uma decisão quando for oportuno. Continuamos a acreditar que é um projeto que faz sentido porque ajuda à nossa pegada carbónica em Estarreja”, assinalou.

OPA à Ercros a demorar demasiado tempo

A Bondalti lançou há quase um ano (5 de março de 2024) uma OPA sobre a espanhola Ercros, que está na segunda fase de análise do supervisor da concorrência espanhol (CNMC), que considerou que a aquisição poderá acarretar riscos nos mercados de soda cáustica e hipoclorito de sódio.

Não estava à espera que demorasse tanto tempo e estamos preocupados com o tempo, como é óbvio. Mas queremos é que isto termine depressa e sem haver remédios à nossa operação.

João de Mello

Presidente da Bondalti

“Passámos a uma segunda fase e estamos à espera do desfecho dessa análise. Acreditamos que nós não temos problemas de concorrência, mas foi entendido por parte da autoridade de concorrência espanhola que tem de passar a uma segunda fase e estamos a aguardar”, disse João de Mello.

“Não estava à espera que demorasse tanto tempo e estamos preocupados com o tempo, como é óbvio. Mas queremos é que isto termine depressa e sem haver remédios à nossa operação, que é isso que é a nossa estratégia e é isso que nós pusemos na nossa oferta.

A OPA da Bondalti, que ofereceu uma contrapartida de 3,505 euros por cada ação da Ercros (após o pagamento do dividendo de 0,096 euros brutos), enfrenta a concorrência da italiana Esseco, que propõe pagar 3,84 euros por ação.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Bondalti escolhe Portugal para refinaria de lítio

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião