Lucros e preço das ações da Galp pressionados pela quebra do petróleo
O impacto nos resultados da Galp e no setor de energia poderá ser "significativo", sobretudo se os preços do crude se mantiverem abaixo dos 70 dólares durante um período prolongado.
Recentemente, a Galp indicou que estava aberta a considerar novos mercados caso as respetivas exportações para os Estados Unidos – para onde viaja 60% da sua produção de gasolina – fossem afetadas com a imposição de tarifas.
Para já, o petróleo, gás e produtos refinados foram “poupados” às tarifas de Trump, mas a instabilidade criada pelas suas decisões, em conjugação com um aumento da oferta, ditado pelo cartel que controla a produção de petróleo a nível global, estão a ameaçar o preço das ações e resultados da petrolífera portuguesa.
“O impacto direto destas tarifas na empresa será limitado, uma vez que os produtos energéticos foram excluídos destas medidas”, esclarece Henrique Tomé, analista na XTB. Contudo, “já estamos a ver as ações da empresa a reagirem ao facto de o petróleo ter entrado em sell-off, após o anúncio das tarifas dos EUA e também do anúncio da OPEP [Organização de Países Produtores de Petróleo]”, ressalva, assinalando a correlação que existe entre a evolução dos preços da empresa e dos preços do barril de Brent, referência europeia no que toca esta matéria-prima.
“O impacto nos resultados da Galp e no setor de energia poderá ser significativo, sobretudo, se os preços do crude se mantiverem abaixo dos 70 dólares por barril durante um prolongado período“, defende o responsável de trading do Banco Carregosa, João Queiroz.
O barril de Brent afundou 6,6% para os 65,54 dólares esta sexta-feira, colocando-se em mínimos de agosto de 2021. Do outro lado do oceano, o West Texas Intermediate WTI, negociado em Nova Iorque, segue a afundar 7,86% para os 61,69 dólares, marcando mínimos de agosto de 2021. A ação da Galp deslizou, esta sexta-feira, 5,23% para os 14,40 euros, um mínimo de fevereiro de 2024.
A favor da cotada está “o seu crescente foco em transição energética e projetos renováveis, que oferecem alguma resiliência e diversificação”, assim como a diversificação geográfica e “gestão prudente” do balanço financeiro.
Embora a Galp não exporte petróleo bruto para os Estados Unidos em larga escala, “a empresa é exposta ao mercado global de petróleo, e a queda nos preços tem impacto direto na rentabilidade das suas operações upstream (exploração e produção)”, explica o Banco Carregosa. Com pressão nos preços da matéria-prima, ditada pela imposição de tarifas assim como pela incerteza económica, “a margem da Galp tende a estreitar-se, o que poderá penalizar tanto a geração de resultados como o desempenho das suas ações em bolsa“, afirma João Queiroz.
Ao mesmo tempo, a paragem técnica de duas unidades na refinaria de Sines no final do ano poderá reduzir temporariamente a capacidade de refinação da Galp, limitando receitas na área “downstream” (refinação e distribuição).
A decisão da Organização de Países Produtores de Petróleo e Aliados (OPEP+) de aumentar a produção a partir de maio em 411.000 barris por dia, acima da estimativa do mercado de 140.000 barris por dia. Isto sinaliza uma “oferta excessiva” numa altura em que a procura já estava ameaçada por receios de abrandamento económico. “Isto poderá agravar ainda mais a pressão sobre os preços”, defende Queiroz.
Em reação, Queiroz espera que a Galp reforce a disciplina de capital, focando-se em projetos de maior retorno. “A empresa pode procurar reforçar a sua posição financeira, caso queira tranquilizar os investidores e mitigar parte do impacto”, reforça Henrique Tomé.
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