
A Beleza da Simplicidade
Nuno Oliveira Matos elogia o paradoxo do pricing baseado em burning cost: simples, mas poderoso; limitado, mas amplamente utilizado.
O paradoxo do burning cost reside na sua ampla utilização no pricing dos produtos de seguros, apesar da sua simplicidade e limitação técnica.
O burning cost estima as perdas esperadas de um grupo de apólices com base na sinistralidade declarada, ajustada pela experiência histórica dos sinistros esperados ainda não participados (IBNR) e pelo ajustamento histórico de experiência relativo às perdas ocorridas não suficientemente provisionadas (IBNER), refletindo ainda a inflação e eventuais mudanças na exposição do risco, resultando numa estimativa de perda esperada por sinistros ocorridos para o período.
Embora não haja modelização envolvida, distribuição de probabilidades ou cálculo de Value-at-Risk (VaR), essa abordagem continua a ser uma ferramenta fundamental. O burning cost é uma das formas mais eficazes de compreender o custo de um risco e respetiva volatilidade. Além de ainda ser usado como técnica de tarifação per se, também é empregue como referência para validação de modelos mais sofisticados.
Combinar o burning cost com modelos de frequência/severidade mais avançados tem vantagens, como permitir uma verificação independente dos resultados obtidos por meio dessa modelização mais avançada, evitando distorções excessivas causadas por pressupostos inadequados. Além disso, trata-se de uma ferramenta intuitiva, que facilita a comunicação entre atuários, subscritores e clientes, tornando os resultados mais compreensíveis para decisores não técnicos. Também atua como um elo entre as estatísticas descritivas e os resultados da modelização estocástica, auxiliando na construção de consenso entre as partes envolvidas.
A grande crítica ao burning cost é assumir que o passado é um bom estimador do futuro sem capturar mudanças estruturais no risco subjacente. Além disso, não oferece insights sobre a distribuição dos riscos extremos, algo essencial em alguns ramos e/ou produtos.
No entanto, a sua utilidade permanece evidente, pois fornece uma estimativa inicial rápida e eficiente, sem necessidade de grandes volumes de dados estruturados ou modelizações complexas.
O pricing baseado em burning cost é um paradoxo: simples, mas poderoso; limitado, mas amplamente utilizado.
Num setor que procura sofisticação, esta abordagem persiste, provando que nem sempre a solução mais avançada é a mais eficaz. O seu verdadeiro valor porventura reside na sua simplicidade e complementaridade, servindo como contraponto pragmático aos modelos mais complexos.
Quando se trata de tarifar riscos, a procura pela precisão absoluta é uma ilusão e, por vezes, o simples pode ser surpreendentemente sofisticado!
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