
A imagem para além das aparências
A nossa imagem é um ativo que deve ser trabalhado e valorizado. Alinhá-la com o nosso propósito ajuda-nos a sentirmo-nos melhor connosco próprios.
Lembro-me bem da primeira vez em que vi o filme “E tudo o vento levou”, sentada no chão da sala da casa da minha avó. Marcou-me especialmente a cena em que a personagem principal, Scarlett O’Hara, arranca uns pesados cortinados verdes das janelas para fazer um vestido que transmitisse a imagem de elegância, controlo e segurança que ela sabia que tinha perdido devido à Guerra Civil Americana, que assolou o país e atirou a sua propriedade, Tara, para a falência.
Assim vestida, protagoniza uma cena incrivelmente feminina em que visita Rhett Butler na prisão (um charmoso e cínico cavalheiro do Sul, que se apaixona por Scarlett) para lhe pedir dinheiro e salvar a sua propriedade.
Apesar de um início de cena em que Rhett se deixa deslumbrar pela sua imagem, rapidamente é traída pelas suas mãos, ásperas e calejadas, de quem andou a trabalhar na terra e que contradizem toda a sua imagem tão curada quanto bonita. Foi a primeira vez que tive consciência da importância de que a nossa imagem nunca deve trair a nossa verdade.
No artigo “The New Rules of Executive Presence” da Harvard Business Review, apresenta-se a conclusão de um estudo que compara as principais características de liderança apontadas por executivos de alto nível, em 2012 e em 2022. O estudo parte da premissa de que a presença executiva resulta da combinação de traços de autoridade, competências de comunicação e aparência. Estas categorias desdobram-se, depois, em traços específicos e foi pedido a cada participante que escolhesse seis aspetos que considerava mais importantes.
Surpreendentemente, ou talvez não, a “aparência” foi a categoria onde houve mais mudanças entre 2012 e 2022 (talvez por culpa de um ano e meio de confinamento e de demasiados zoom em pantufas!).
A autenticidade aparece como um novo traço a ser valorizado, a magreza foi substituída pelo “fitness/vigor” e a preocupação em cuidar e desenvolver uma imagem online passou a figurar entre os traços fundamentais para se ter uma boa presença executiva.
O que se manteve inalterado durante este gap de anos? Um visual cuidado, polido, elegante e adequado como peça fundamental para uma imagem que faça a diferença e que nos distinga pela positiva no ambiente profissional.
Tal como uma fotografia de um pôr do sol, do sorriso de uma pessoa amiga ou daquele cappuccino, com a espuma perfeitamente bem desenhada, a nossa imagem é também uma representação visual de algo: de quem somos, dos nossos valores, das nossas ambições e da forma como estamos no mundo.
Ao longo dos anos em que trabalhei como consultora de imagem, sempre me surpreendeu o quão harmoniosa e atrativa se torna a imagem de uma pessoa que consegue transmitir exteriormente aquilo que leva dentro de si. Como se conseguisse falar sem usar palavras, contar uma história (a sua história!) sem ter de falar.
A nossa imagem é um ativo que deve ser trabalhado e valorizado. Alinhá-la com o nosso propósito ajuda-nos a sentirmo-nos melhor connosco próprios, a colocarmo-nos perante os outros com mais confiança e não deixa de ser uma forma de mostrar o quanto nos respeitamos e aos que nos rodeiam.
Alguns passos a dar no cuidado com a imagem são:
- Conhecermo-nos: saber quem somos, o que é mais importante para nós, os diferentes papéis que desempenhamos no dia a dia e o que queremos que a nossa imagem transmita (o coaching pode ter um papel fundamental a encontrar as respostas para estas perguntas);
- Definir objetivos claros para a nossa imagem em cada momento: vestirmo-nos para uma conferência, um dia de praia ou uma visita a um cliente materializa-se de forma claramente diferente, porque em cada momento esperamos transmitir diferentes mensagens;
- Construir um guarda-roupa alinhado com a nossa identidade: conhecer o nosso estilo pessoal, as peças, as cores e os cortes que mais nos favorecem e revelam a mensagem que queremos passar é uma ferramenta fundamental e uma arte a ser dominada;
- Cuidar a postura e a linguagem não-verbal: os nossos gestos, o olhar, a forma de andarmos e o nosso sorriso podem contrariar ou reforçar a mensagem que queremos passar;
- Cuidar a linguagem verbal: é fundamental falar com clareza, usar uma linguagem que transmita empatia e confiança e saber equilibrar formalidade e autenticidade;
- Cultivar a coerência, a consistência e o respeito: ainda que seja essencial sabermos adaptar a nossa imagem a diferentes circunstâncias é importante que haja uma coerência de base em todos os momentos, que é no fundo quem somos e quem queremos dar a conhecer!
A nossa imagem é um ativo que deve ser trabalhado e valorizado. Alinhá-la com o nosso propósito ajuda-nos a sentirmo-nos melhor connosco próprios, a colocarmo-nos perante os outros com mais confiança e não deixa de ser uma forma de mostrar o quanto nos respeitamos e aos que nos rodeiam.
Não se esqueça de que a imagem é uma soma de muitos detalhes que devem ser trabalhados com consistência e intencionalidade, o resto vem da nossa naturalidade e é este o impacto que causamos no mundo!
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