Novobanco devia adiar IPO por causa das tarifas?
Novobanco aponta operação para o próximo mês, mas analistas consideram que seria "aconselhável" ajustar calendário até haver uma maior visibilidade sobre a guerra comercial.
O Novobanco devia adiar a ida para a bolsa por causa da elevada instabilidade e volatilidade que varreu os mercados financeiros nas últimas semanas devido à guerra comercial? Os analistas consideram que seria “aconselhável” ajustar o calendário da oferta pública inicial (IPO) até os investidores terem uma maior visibilidade sobre o que vai acontecer às tarifas. Até porque, se avançar a operação agora, vão exigir um prémio de risco superior. O que significa que os acionistas do banco vão embolsar menos.
“O atual ambiente nos mercados financeiros é de forte queda dos preços, afetando também os bancos, dado serem instituições muito dependentes do ciclo económico e da política monetária”, afirma Sérgio Lagoa, professor de banca e mercados no ISCTE.
“A incerteza criada pela política comercial dos EUA é elevada e prejudicial para as valorizações acionistas. Daí que fosse aconselhável aguardar uma clarificação de como a guerra das tarifas irá evoluir antes de se iniciar o IPO”, defende o docente.
António Nogueira Leite, professor da Nova SBE e ex-administrador da Caixa, concorda que “ainda não se percebeu exatamente como a guerra comercial vai evoluir”, o que torna o IPO “mais imprevisível”.
Donald Trump deixou as bolsas do avesso depois de no dia 2 de abril ter anunciado “tarifas recíprocas” globais, com a guerra comercial a escalar com a pronta resposta dos outros países, incluindo China e União Europeia.
Uma semana depois, e pressionado pela forte reação adversa dos mercados, Presidente norte-americano deu um passo atrás e decretou uma pausa de 90 dias para negociar com os parceiros comerciais. Embora tenha ajudado a colocar água na fervura, a volatilidade persistente das bolsas mostra que a incerteza continua a tomar as rédeas dos mercados e do sentimento dos investidores e instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) estão a rever em baixa as perspetivas para a economia mundial.
"O atual ambiente nos mercados financeiros é de forte queda dos preços, afetando também os bancos, dado serem instituições muito dependentes do ciclo económico e da política monetária. A incerteza criada pela política comercial dos EUA é elevada e prejudicial para as valorizações acionistas. Daí que fosse aconselhável aguardar uma clarificação de como a guerra das tarifas irá evoluir antes de se iniciar o IPO.”
Pelo meio, o Novobanco adiantou que os planos do IPO se mantinham, mas sublinhou que o exato momento continuava a “depender das condições de mercado”, o que deixa a porta aberta a esperar pela janela de setembro para avançar com a operação, em vez de maio.
A expectativa é que por essa altura a nuvem de imprevisibilidade da guerra comercial — e que está a afetar o mercado nacional de M&A, com as operações mais de 30% a afundarem no primeiro trimestre — já se tenha dissipado. Para o bem ou para o mal.
“Até pode suceder que esteja para ficar, mas só essa clarificação será importante para reduzir o nível de incerteza e de aversão ao risco, levando o mercado a ajustar-se a uma nova realidade”, considera Sérgio Lagoa.
Eleições é “elemento a ter em conta”
António Nogueira Leite lembra ainda outro pormenor: não haverá Governo até ao dia 18 de maio. “É um elemento a ter em conta”, frisa.
O ECO avançou na semana passada que o Estado ficará de fora do IPO na medida em que o Governo se encontra em modo de gestão e o Ministério das Finanças não dispõe das condições para decidir sobre a participação detida pela Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF), conforme concluiu um parecer que foi pedido ao Centro Jurídico do Estado (CEJURE).
De qualquer forma, nem a guerra comercial nem as eleições em Portugal “invalidam o trabalho preparatório” do Novobanco rumo ao IPO, “uma vez que ele é condição sine qua non para que se possa avançar para os passos finais”, assume Nogueira Leite.
“Investidores vão exigir prémio de risco maior”
Se o IPO avançar em maio, Sérgio Lagoa e António Nogueira Leite não duvidam que os investidores vão exigir um prémio de risco superior, traduzindo-se num menor valor encaixado pelos vendedores Lone Star e Fundo de Resolução.
“O risco para o IPO é de que, face à incerteza, o preço obtido seja inferior ao que seria obtido noutra situação de maior certeza face ao que o futuro nos reserva. Num contexto de incerteza, os investidores podem reduzir a procura de ações, preferindo ativos de refúgio”, explica Sérgio Lagoa.
“Há sempre um risco e um acréscimo do mesmo se o ambiente político geral for mais incerto”, sintetiza Nogueira Leite.
"Há sempre um risco e um acréscimo do mesmo se o ambiente político geral for mais incerto.”
O professor do ISCTE destaca que a própria valorização fundamental do Novobanco – que vem de um bom momento, potenciado pela recuperação da rentabilidade e subida dos juros — pode ser prejudicada devido à deterioração das perspéticas económicas e ao clima de incerteza.
O FMI acabou de cortar a previsão para o crescimento de Portugal para 2% este ano e para 1,7% no próximo, três décimas abaixo das anteriores projeções para os dois anos.
Um contexto que leva Nogueira Leite a deixar uma recomendação importante para evitar percalços num ano completamente volátil: “Como tudo em 2025, há que ir monitorizando a evolução”.
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