ECO da campanha. AD e PS pedem a mão aos pensionistas no dia em que o Conclave roubou os diretos
O fantasma da troika sobre os reformados voltou a ensombrar a campanha com Montenegro e Pedro Nuno a disputar este eleitorado. À direita, a IL namora, mas ainda não diz se quer casar com a AD.

No dia seguinte ao aparecimento de Pedro Passos Coelho, as caravanas pareciam estar a ressacar das memórias do apertar do cinto imposto pela troika. O líder do PS, Pedro Nuno Santos deu gás ao fantasma do corte das pensões, enquanto Luís Montenegro tentou descolar e pediu confiança. Os dois cruzaram-se em Évora e o socialista até gracejou: “Medo é uma coisa que não me assiste”.
Nas televisões, a campanha sentiu um ‘apagão’ com os diretos do arranque do Conclave em Roma, e da cor do fumo da chaminé do Vaticano, a dominar os pequenos ecrãs. Uma concorrência que os partidos vão sentir nos próximos dias até à escolha de um novo Papa.
A greve da CP, que paralisou todos os comboios, contaminou a campanha, com o líder do Chega, André Ventura, a admitir que a privatização pode ser uma solução. Para o PCP, a culpa é do Governo, atirou o secretário-geral comunista, Paulo Raimundo. Mas o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, criticou a “greve política” e voltou a insistir que tudo foi feito dentro dos limites de um Executivo em gestão.
O caos no SNS esteve novamente em foco. Numa visita ao Hospital da Misericórdia de Vila Verde, o líder da IL defendeu a importância do setor social e privado, concluindo que o SNS não tem condições para tratar 10 milhões de portugueses. “É impossível”, admitiu, defendendo que o Estado “entre em negociações” com os privados e “angarie recursos”.
Rui Rocha recebeu um lenço dos namorados, uma tradição minhota, e foi desafiado a responder se os liberais vão mesmo dar o nó com a AD, numa coligação pós-eleitoral. “Tenho dois casamentos: um com a minha mulher, a quem já entreguei em devido em tempo um lenço, e um com os portugueses. Neste caso, com a comunidade do distrito de Braga. O meu casamento concretiza-se aqui, onde sou cabeça de lista”, desviou.
Mas ao longo do dia foi mencionando os ministérios que gostaria de tutelar, como Educação ou a Modernização Administrativa, mas depois recuou: “Eu prefiro todas [as pastas], não me faça escolher, quero todas as pastas do Governo. Formo-lhe um Governo já aqui!”.

Rui Tavares, do Livre, visitou o Hospital de Vila Nova de Gaia, para defender regras idênticas entre o público e o privado. “O SNS está a lutar com armas desiguais. A lei de bases da saúde diz uma coisa, que é a complementaridade, a realidade de todos os dias diz-nos outra coisa, que é a concorrência feroz com os privados e uma concorrência desleal por parte dos privados ao SNS”, criticou.
E, ao contrário dos Liberais, o porta-voz do Livre considerou que “os problemas do SNS têm tratamento, têm cura”, acenando com uma das suas propostas, o Regressar Saúde, para trazer médicos portugueses que emigraram.

Ao quarto dia de campanha para as legislativas antecipadas de 18 de maio, a caravana bloquista foi até Almeirim, no distrito de Santarém, para mostrar solidariedade com uma concentração de dezenas de trabalhadores da Sumol/Compal que esta quarta-feira estão em greve.
“Quero falar a quem trabalha. Quem trabalha é a maioria do país. E, estranhamente, a política faz-se para uma minoria. Nós queremos acabar com isso. Nós queremos que a política se faça para a maioria”, afirmou Mariana Mortágua. E, a este respeito, salientou que “a família que é dona” da empresa que detém a Sumol e Compal “está na lista dos 50 mais ricos do país”, em contraste com estes trabalhadores que “representam a maioria das pessoas do país”.

Tema quente
Fantasma da troika ensombra pensionistas. Montenegro pede confiança e Pedro Nuno dá um pé de dança
A presença de Passos Coelho no dia anterior continuou a ecoar na campanha, numa altura em Pedro Nuno Santos insiste na ideia de que a AD quer privatizar a Segurança Social. Os dois rivais pediram a mão aos pensionistas num ombro a ombro, com Montenegro a pedir confiança e o líder do PS a dar um pezinho de dança.
Numa visita ao mercado do Livramento, em Setúbal, o presidente do PSD teve de ouvir queixas de reformados sobre os tempos de austeridade e os cortes que sofreram nas pensões aos comandos do Governo da PàF, liderado por Pedro Passos Coelho.
Montenegro acabou por reconhecer que o fantasma do período da troika ainda está presente para alguns, mas esforçou-se por voltar a explicar tudo aquilo que o seu Governo já fez para se “reconciliar” com os pensionistas. “Compreendo que as pessoas que há uns anos por razão da situação económica do país viveram tempos de inquietação precisem de uma palavra segura. Modéstia à parte, posso dizer às pessoas para acreditarem. Estamos a concretizar aquilo que prometemos”, afirmou.
E continuou: “Estamos noutra fase. As pessoas já perceberam que a nossa palavra tem muito valor e que somos de confiança. Os pensionistas e reformados sabem muito bem com o que podem contar da nossa parte”, rematou.
No contra-ataque, Pedro Nuno Santos voltou a acusar Montenegro de “não conhecer a realidade” dos mais velhos. O líder do PS aproveitou uma visita à Associação dos Reformados, Pensionistas e Idosos do Concelho de Faro para tentar desequilibrar um braço de ferro. Na pista de baile, dançou com várias associadas, ao som do acordeão, para “sinalizar” a boa relação dos socialistas com os pensionistas.
“As relações de confiança com os mais velhos não se constroem nem num mês, nem numa semana, nem num ano, são de anos”, repetiu garantindo que o PS tem “essa relação de confiança com os mais velhos”.

A figura
Cristina Rodrigues
O julgamento da deputada do Chega e ex-parlamantar do PAN, Cristina Rodrigues, estava para arrancar esta quarta-feira, em plena campanha eleitoral, mas acabou por ser adiado para 12 de junho, pelas 9h30, com declarações das arguidas e a audição de duas testemunhas da acusação. Em causa está um processo, em que é acusada pelo “apagão informático” no PAN em 2020, quando foram eliminados emails de dirigentes do partido.
A decisão foi tomada, esta quarta-feira, pela juíza, em acordo com as defesas, no processo que corre no Juízo Local Criminal de Lisboa, no Campus de Justiça, em Lisboa.
No despacho de acusação, de 2022, a que a agência Lusa teve acesso, o Ministério Público (MP) classificou como “muito elevada” a “ilicitude da conduta” de Cristina Rodrigues, embora considere que não lhe deve ser aplicada pena superior a cinco anos, atendendo a que não tem antecedentes criminais.
Cristina Rodrigues, que agora é deputada do Chega na Assembleia da República e que se recandidata pelo partido nas listas do Porto, é acusada de um “crime de dano relativo a programas ou outros dados informático”, em coautoria com a ex-funcionária do PAN Sara Fernandes, e de um “crime de acesso ilegítimo” aos ficheiros informáticos do partido.

A frase
"Tenho dois casamentos: um com a minha mulher, a quem já entreguei em devido em tempo um lenço, e um com os portugueses. Neste caso com a comunidade do distrito de Braga. O meu casamento concretiza-se aqui, onde sou cabeça de lista.”
A surpresa
Ciganos fazem uma espera a Ventura e acusam os militantes do Chega de “fascistas, racistas”
A comitiva do Chega foi surpreendida em Aveiro por um pequeno protesto de pessoas da comunidade cigana, que acusaram André Ventura de “alimentar o ódio” e que gritavam: “Fascistas, racistas”.
“Nós somos portugueses. A única coisa que nós, comunidade cigana de Portugal, queremos, é que se acabe de alimentar o ódio contra a etnia cigana, porque os nossos filhos vão viver tempos piores do que aquilo que nós estamos a viver”, afirmou aos jornalistas Belarmina Fernandes, que trabalha na formação de pessoas ciganas em Aveiro e que disse que a manifestação surgiu de forma espontânea, num intervalo do trabalho.
André Ventura reagiu no momento, dirigindo-se diretamente a quem ali estava. “Não é racismo nem fascismo, é terem todos de trabalhar, como toda a gente. É só isso. Trabalhar e cumprir as mesmas regras.” Assumiu ainda que lhe custa quando o chamam de fascista, frisando que “não é verdade” e que “é a vitimização da comunidade cigana para poder atacar o Chega”.
“A etnia cigana tem de cumprir as regras que todos cumprem. Há uns que trabalham, uma maioria que não trabalha, fazem as mulheres casar aos 13 anos, vivem num estado de desagregação face à regra geral da comunidade absurda. Não sou eu que sou fascista, são eles que querem regras à parte em Portugal”, justifica.

Prova dos 9
"Todas as consequências negativas que [a greve] tem na vida das pessoas, na movimentação, na mobilidade, tudo isso é da única responsabilidade do Governo do ministro das Infraestruturas que, em vez de virar utentes contra trabalhadores, aquilo que devia fazer hoje, e que não fez ontem nem anteontem nem no outro dia e neste ano todo, é resolver os problemas de quem trabalha na CP.”
Em dia de greve da CP, sem serviços mínimos decretados, todos os comboios do país pararam, impedindo muitos portugueses de se deslocarem ao trabalho. Para o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, o Governo é “único responsável”. Será mesmo assim?
“Tudo o que está a acontecer, as consequências negativas que estão a acontecer são da única responsabilidade do Governo e o ministro das Infraestruturas em vez de perder tempo em campanha eleitoral e em vez de virar utentes contra trabalhadores aquilo que devia fazer, que não fez ontem nem anteontem nem no outro dia e neste ano todo, é resolver os problemas de quem trabalha na CP, porque resolvendo os problemas de quem trabalha na CP, está a resolver os problemas da CP e dos utentes”, afirmou, durante uma ação de rua em Matosinhos.
No entanto, o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto de Luz, já esclareceu que o Governo, estando em gestão, fez todos os esforços, dentro dos seus limites, para evitar a paralisação. “O Governo negociou quando teve de negociar, com abertura total, indo ao limite do que a lei permitia para um Governo em gestão, e não quiseram”, indicou esta quarta-feira.

Miguel Pinto Luz argumentou que existe um acordo entre os sindicatos e a administração da CP, mas que não pode ser executado por o Governo se encontrar em gestão. “O acordo estava estabelecido, o Governo não o pode executar por uma questão puramente legal, pela circunstância de ser um Governo de gestão”, afirmou.
O governante atribui a paralisação à proximidade das eleições legislativas, considerando tratar-se de uma “greve política”. “Conseguiram parar o país por interesse político. E tem a ver com o timing que estamos a viver, de eleições”, disse.
Na véspera da greve, Pinto Luz deu uma conferência, explicando que “o Governo fez tudo o que estava ao seu alcance para evitar a greve”. “Este Governo é surpreendido pelas maiores greves desde que tomamos posse, greves marcadas com um Governo em gestão, em campanha eleitoral, greves vazias de objetivos. Fizemos uma última tentativa para parar esta greve com um aumento de 5,75 milhões de euros da massa salarial com uma reestruturação extraordinária das carreiras, o máximo que nesta situação de Governo em gestão nos é permitido”, sustentou.
A CP também já tinha emitido a seguinte nota: “Uma vez que as soluções implicam um aumento da massa salarial global superior a 4,7%, e que ultrapassam o limite estabelecido pelo Despacho n.º 1103-B/2025, do secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, qualquer decisão que ultrapasse esse limite, necessita de autorização tutelar, que neste momento não é possível conceder devido à atual situação de Governo em gestão”.
Neste sentido, a afirmação do PCP está parcialmente incorreta, uma vez que o atual Executivo se encontra limitado nos seus poderes. No entanto, as reivindicações dos trabalhadores já poderiam ter sido atendidas há mais tempo, quando o Governo estava em plenitude de funções.
Conclusão: parcialmente incorreto.
Norte-Sul
A campanha da AD começou, esta quarta-feira, no Mercado do Livramento, em Setúbal. Depois Luís Montenegro almoçou na União Mutualista Nossa Senhora da Conceição, no Montijo, e terminou o dia em Évora, precisamente à mesma hora em que passou a caravana do PS.
Mas antes de ter ido para o Alentejo, Pedro Nuno Santos visitou, de manhã, o mercado semanal da Quarteira, almoçou em Olhão e visitou uma IPSS em Faro. Terminou a campanha com comícios em Évora e Portalegre.
O PAN andou entre Montijo e Lisboa e o Bloco entre Alpiarça, acompanhando a greve na Sumol+Compal, e ações em Leiria.
Os restantes partidos com representação parlamentar rumaram a Norte. Rui Rocha (IL) esteve no seu círculo eleitoral, Braga, terminando num convívio com jovens estudantes. É também na cidade dos Arcebispos que Rui Tavares, do Livre, fecha o dia, depois de ter visitado o Hospital de Gaia e a feira dos Carvalhos, no mesmo concelho.
O comunista Paulo Raimundo realizou uma ação de contacto com a população em Matosinhos. A caravana passou também por Gondomar e finalizou com comícios em Gaia e Espinho.
Na quinta-feira, 8 de maio, a caravana de Luís Montenegro ‘desperta’ na Figueira da Foz e depois ruma para a baixa de Coimbra para uma ação de contacto com a população. Da parte da tarde, estaciona em Fátima e fecha o dia com um comício em Santarém.
Mais no interior, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, participa numa ação de rua na Covilhã e encerra o dia com um comício em Castelo Branco.
O Chega promove uma arruada em Braga e, no final do dia, André Ventura janta na Quinta da Granja, em Guimarães. No mesmo distrito, também vai andar a caravana do Livre. Rui Tavares visita a feira de Barcelos e deve fechar o dia em Lisboa com um evento dedicado à cultura.
Ao quinto dia de campanha, IL e BE elegem Coimbra para cativar o eleitorado. Depois de um passeio de barco com partida no porto de pesca da Póvoa de Varzim e de uma visita à fábrica Lactogal, em Vila do Conde, o líder dos Liberais, Rui Rocha, termina com uma ação de rua com jovens na cidade dos estudantes. A coordenadora bloquista, Mariana Mortágua, estará o dia todo em Coimbra.
A líder do PAN, Inês de Sousa Real, fica pela região de Lisboa, onde visita a feira de Carcavelos e a Quinta dos Ingleses. E a caravana da CDU ruma a sul. Depois de um almoço em Beja, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, termina a ação de campanha com um comício em Faro.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
ECO da campanha. AD e PS pedem a mão aos pensionistas no dia em que o Conclave roubou os diretos
{{ noCommentsLabel }}