Miguel Moreira afirma que “jamais lesaria o Benfica”

  • Lusa
  • 14 Maio 2025

No processo 'Saco azul' está em causa um alegado esquema de pagamentos fictícios a uma empresa de informática externa ao grupo Benfica, a Questãoflexível.

O diretor financeiro e administrador da SAD do Benfica, Miguel Moreira, negou esta quarta-feira ter sido corrompido ou ter-se apropriado de qualquer valor pago pelos ‘encarnados’ por prestações de serviços, tendo afirmado que “jamais lesaria o Benfica”. As declarações de Miguel Moreira foram proferidas no decorrer do julgamento do processo ‘Saco Azul’, cuja terceira sessão integrou a segunda parte do interrogatório feito a este administrador da SAD ‘encarnada’, no Tribunal Central Criminal de Lisboa.

Na ocasião, o coletivo de juízes detalhou extratos bancários do administrador, que, confrontado com esses documentos e valores, afirmou não nunca ter recebido qualquer comissão ou ter participado em esquemas de lavagem de dinheiro para seu benefício. “Obviamente que não, jamais lesaria o Benfica. Defendo a minha entidade patronal como se fosse o meu negócio, defendo-a ao máximo. É um ponto de honra, seja no Benfica ou noutra empresa”, assinalou.

O administrador benfiquista foi ouvido por mais de três horas, respondendo ao coletivo de juízes, à procuradora do Ministério Público (MP) e aos advogados presentes, tendo sido colocado perante faturas passadas pela Questãoflexível, assim como separadores e documentos excel obtidos nos discos rígidos apreendidos a José Bernardes, outro dos arguidos neste processo, através de um auto de exame da Polícia Judiciária.

Nos mesmos constam anexos como “valor deve” ou “valor a devolver”, o que, segundo os juízes, “aparenta ser o total recebido” da sigla SLB (Sport Lisboa e Benfica), encontrando-se siglas JBP – que se acredita corresponder a José Bernardes e MM, o que, segundo perspetiva da acusação, poderia indiciar que parte dos valores pagos pelo Benfica à Questãoflexível pelos serviços prestados poderá ter sido ilicitamente distribuída por Miguel Moreira, num esquema de alegada corrupção e lavagem de dinheiro.

Face à acusação, o administrador benfiquista mostrou desconhecimento e negou liminarmente que MM corresponda ao seu nome, justificando ainda com “razoabilidade e bom senso” o facto de terem sido efetuados pagamentos à Questãoflexível ainda antes de esta prestar serviços ao Benfica.

“Não há uma posição unilateral nem de uma parte, nem de outra. Nós sentávamo-nos e chegávamos a acordo. Não se podia ‘parar o comboio’, era necessário trabalhar e não era necessário pôr a colaboração em contrato. Havia razoabilidade dentro das duas posições e bom senso entre as partes”, revelou.

Miguel Moreira manteve a linha de pensamento relativamente à cessação do acordo de prestação de serviços entre as duas partes, indicando que tal se fez de forma natural, “porque as coisas estavam estabilizadas e sólidas” e também “honestidade e sinceridade” de ambas as partes em perceber “não haver necessidade de se gastar dinheiro desnecessariamente”.

Ainda assim, o administrador da SAD benfiquista assumiu que a ligação profissional entre o Benfica e José Bernardes se mantém através de um contrato entre o clube ‘encarnado’ e a Dynetic, empresa da qual o empresário e arguido neste processo é proprietário.

Questionado sobre o motivo pelo qual os documentos deste teor no Benfica eram rubricados por Luís Filipe Vieira e Domingos Soares de Oliveira, na altura presidente e CEO do Benfica, respetivamente, Miguel Moreira disse que também Rui Costa, José Eduardo Moniz e Nuno Gaioso Ribeiro, na altura vice-presidentes e administradores da SAD ‘encarnada’, o poderiam fazer.

Porém, apontou que “não estavam presentes com a mesma regularidade, raramente estavam”, explicando ainda que Rui Costa, hoje presidente do Benfica, se encontrava na maior parte do tempo no Benfica Futebol Campus, no Seixal, e os restantes dois administradores ausentes pelas suas atividades profissionais.

A próxima sessão está agendada para quinta-feira, pelas 09:30, estando prevista uma nova avaliação aos elementos em análise, assim como os depoimentos dos investigadores e inspetores envolvidos no processo, tendo o advogado de Miguel Moreira pedido a dispensa do seu cliente para as próximas sessões por motivos de ordem profissional, a exemplo do que havia sucedido na sessão anterior com Luís Filipe Vieira e José Bernardes.

Neste processo, que começou a ser julgado em abril no Juízo Central Criminal de Lisboa, está em causa um alegado esquema de pagamentos fictícios a uma empresa de informática externa ao grupo Benfica, a Questãoflexível, num valor que ultrapassa os 1,8 milhões de euros.

De acordo com a acusação, confirmada em junho do ano passado por um juiz de instrução, o ex-presidente do Benfica Luís Filipe Vieira é suspeito de três crimes de fraude fiscal qualificada e 19 de falsificação de documento, assim como Domingos Soares de Oliveira, antigo administrador, e o ex-diretor financeiro do clube Miguel Moreira.

Os mesmos crimes são também imputados em coautoria com a empresa Questãoflexível, da qual é proprietário o empresário José Bernardes, que vai responder também pelo crime de branqueamento de capitais. Num processo no qual são também arguidos Paulo Silva e José Raposo, a Benfica SAD está acusada de dois crimes de fraude fiscal qualificada e a Benfica Estádio de um crime de fraude fiscal e 19 de falsificação de documento.

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