‘Always be hiring’

  • João Bernardo Gonçalves
  • 23 Maio 2025

'Always be hiring' é, acima de tudo, 'always be retaining'. Recontratar todos os dias quem já está connosco, com clareza, exigência e propósito.

“Ninguém é insubstituível.” É uma frase que já todos ouvimos em algum contexto, e muitas vezes utilizada para justificar uma saída, minimizar uma perda ou simplesmente alimentar a ilusão de que tudo se resolve com uma nova contratação. Mas no mercado atual, onde o talento escasseia e a retenção se torna um verdadeiro desafio, quem ainda acredita nisto está a condenar as suas equipas à rotatividade constante e à perda de valor real.

O conceito always be hiring não se limita à procura incessante de novos profissionais. Trata-se, sobretudo, de um mindset. Um manager que o adota sabe que contratar é apenas parte do jogo. A outra, muitas vezes esquecida, é recontratar continuamente o talento que já está dentro de portas. Desenvolver, desafiar, reconhecer e voltar a conquistar todos os dias quem escolheu estar connosco.

A liderança moderna exige mais do que gestão de tarefas ou controlo de KPIs. Exige utilidade. Exige ser digno de ser seguido. O lugar na hierarquia já não garante respeito nem compromisso. Se um Manager não aporta valor ao desenvolvimento das suas pessoas, como pode esperar que elas fiquem? O talento não espera. Evolui, muda-se e reinventa-se, com ou sem a empresa.

A rotatividade não é apenas uma troca de nomes. Cada saída representa a perda de conhecimento interno, de cultura e de confiança. E se a resposta à saída for sempre “há mais lá fora”, então é a própria liderança que está a falhar. Porque manter é mais exigente do que substituir. Exige escuta ativa, plano, transparência e, acima de tudo, visão. Não há engagement sem direção.

A verdade é que, em muitas organizações, só se fala de progressão quando o colaborador põe os pés fora da porta. Isso é gestão reativa e não estratégica. Se queremos equipas comprometidas, temos de lhes oferecer caminhos de desenvolvimento antes que sintam a necessidade de os procurar noutro lado. E isso passa por muito mais do que benefícios simpáticos ou discursos inspiradores. É meritocracia real, por oportunidades concretas e pela coragem de reconhecer quem entrega.

É fácil apontar à geração Z a falta de resiliência, o descomprometimento ou a impaciência. Mas talvez a pergunta deva ser: o que é que os líderes estão a fazer para serem, de facto, seguidos? A falta de engagement não é só um problema das gerações novas, é um reflexo direto da falta de liderança que as inspire a ficar.

Always be hiring é, acima de tudo, always be retaining. Recontratar todos os dias quem já está connosco, com clareza, exigência e propósito. Porque, no fim, quem acha que pode substituir qualquer pessoa com facilidade, está mais perto de ser ele próprio substituído!

  • João Bernardo Gonçalves
  • Executive Manager da Michael Page

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