Pedro Nuno Santos quer sair “já” da liderança do PS e chuta para outro dar a mão ao Governo

"O partido vai ter de tomar decisões muito importantes na relação com o Governo e eu não quero ser um estorvo", admitiu o ainda líder dos socialistas que nunca dará suporte a Luís Montenegro.

“Assumo as minhas responsabilidades como sempre fiz no passado. Vou, por isso, pedir eleições internas à comissão nacional às quais não serei candidato”, anunciou, com semblante pesado, o ainda secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, este domingo à noite a partir do quartel-general do partido instalado no hotel Altis, em Lisboa. O desalento era completo na sala. “Não Pedro, Não Pedro!”, suplicavam militantes e amigos. Nenhuma bandeira socialista esvoaçava.

Mas a fatídica decisão estava tomada, diante de “tempos duros para o PS e para a esquerda”, e o melhor é sair “já”, porque Pedro Nuno não quer ser “um estorvo” a outro que vier a liderar o partido numa eventual solução de Governo com a AD, já que Luís Montenegro continua sem maioria absoluta e a precisar de entendimentos parlamentares para viabilizar o programa e Orçamentos de Estado.

O líder do PS sai de cena, depois da pesada derrota nas eleições legislativas de 18 de maio que deixou o partido praticamente empatado com o Chega e com o mesmo número de deputados (58), sendo que à hora que é publicado este artigo ainda estão por atribuir os quatro mandatos pelos círculos Europa e Fora da Europa. No próximo sábado, a comissão nacional, presidida por Carlos César vai marcar a data do Congresso eletivo, que estava previsto só para dezembro. E José Luís Carneiro já anunciou que será novamente candidato à liderança do partido, depois de ter perdido as eleições internas de há dois anos com Pedro Nuno Santos.

“Deixo de ser secretário-geral assim que puder, se puder ser já… O partido vai ter de tomar decisões muito importantes na relação com o Governo e não quero ser um estorvo ao partido nas decisões que vier a tomar. Acho que não devo estar em impor e ser um estorvo nas decisões do PS, devo-me afastar”, sustentou.

Deixo de ser secretário-geral assim que puder, se puder ser já… O partido vai ter de tomar decisões muito importantes na relação com o Governo e eu não quero ser um estorvo.

Pedro Nuno Santos

Secretário-geral do PS

Entretanto, o ex-ministro das Finanças, Fernando Medina já veio defender que “o PS deve assegurar uma solução de Governo que exclua a extrema-direita”, afirmou este domingo em declarações ao canal NOW. E outras vozes socialistas mais ao centro deverão juntar-se-lhe.

Diante de uma sala repleta de militantes e amigos comovidos, que gritavam “Pedro Pedro! Pedro”, o ainda dono do trono do Rato apresentou três motivos para a sua demissão. Primeiro não quer dar a mão a um Executivo liderado por alguém que não é digno desse cargo. “A mim não cabe ser o suporte deste Governo e esse papel também não deve caber ao PS. Luís Montenegro mostrou que não tem idoneidade para o cargo de primeiro-ministro e estas eleições não alteraram isso“, apontou.

A este propósito, voltou a acusar Montenegro de não saber “separar a política dos negócios”, por causa da empresa familiar Spinumviva. “Por isso, as razões que nos levaram a pedir uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) permanecem intocáveis”, atirou. No entanto, salvaguardou que já não será ele a tomar essa decisão. De recordar que Pedro Nuno chegou a admitir deixar cair a CPI, caso o presidente do PSD prestasse todos os esclarecimentos.

“Em segundo lugar”, enumerou, “Luís Montenegro lidera um Governo que falhou a vários níveis no último ano, que mostrou ser incompetente e, em terceiro lugar, apresenta um programa que vai contra os princípios e os valores do PS”, sublinhou. “Estas são mais do que razoes suficientes para que o PS não suporte um Governo nem dê um suporte a um Governo liderado por Luís Montenegro”, argumentou.

Depois apontou baterias ao Chega. “A extrema cresceu muito, tornou-se mais agressiva e mais mentirosa. Sentimos a violência da extrema-direita, que deve ser combatida sem complacência, com coragem”, defendeu. E isso passa por “combater as suas ideias sejam no poderia a influenciar quem está no poder”, atirou, num alerta sobre eventuais entendimentos entre a AD e o partido de André Ventura.

O povo falou com clareza e nós acatamos a decisão do povo português. Já liguei a Luís Montenegro e felicitei-o pela vitória. Que saiba honrar a confiança que os portugueses lhe deram.

Pedro Nuno Santos

Secretário-geral do PS

Em relação ao timing das eleições internas que poderão contaminar as autárquicas, que se realizam já em finais de setembro ou inícios de outubro, Pedro Nuno Santos mostrou-se confiante. “As pessoas vão votar no candidato à câmara, vão fazer um juízo sobre o trabalho do presidente de câmara, vão fazer um juízo sobre o candidato que se apresenta e é por isso que nós, em muitas autarquias, vamos ter 50% ou 60%. Fizemos grandes escolhas para as autarquias e as pessoas sabem distinguir os atos eleitorais”, vincou.

Apesar de se afastar, por agora, Pedro Nuno Santos prometeu, citando o histórico socialista, que não vai baixar os braços: “Como disse Mário Soares, só é vencido quem desiste de lutar e eu não desistirei de lutar. Até breve. Obrigado a todos!”.

Agradeceu ainda ao “partido sempre unido”. “Acho que honrei a história do meu partido, tenho muito orgulho no partido que liderei e no trabalho que fizemos”, declamou, arrancando fortes aplausos da audiência. Mas, infelizmente, reconheceu, o PS “não conseguiu ganhar as eleições. “O povo falou com clareza e nós acatamos a decisão do povo português. Já liguei a Luís Montenegro e felicitei-o pela vitória. Que saiba honrar a confiança que os portugueses lhe deram”, disse.

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