Bruxelas volta a cortar crescimento de Portugal e da Zona Euro para 2025
A Comissão Europeia cortou pela quarta vez consecutiva o PIB da Zona Euro para este ano, prevendo agora um crescimento de apenas 0,9%. O PIB de Portugal também foi revisto em baixo para 1,8%.
A Comissão Europeia cortou mais uma vez as suas previsões para o crescimento económico da Zona Euro e da União Europeia (UE) para 2025 e 2026, apontando agora para um “crescimento moderado em meio a incerteza comercial global”. O cenário pessimista reflete sobretudo o impacto do aumento das tarifas e a elevada incerteza causada pelas recentes mudanças abruptas na política comercial dos EUA.
Para Portugal, Bruxelas também reviu ligeiramente em baixa a previsão de crescimento para este ano, mas melhorou a perspetiva para 2026. “A procura interna deverá continuar a apoiar o crescimento económico em Portugal, enquanto as exportações de bens enfrentam ventos contrários significativos devido às tensões comerciais a nível mundial.”
As previsões da Comissão Europeia apontam não apenas para uma deterioração das finanças públicas, como para um regresso a uma situação de défice orçamental no próximo ano.
Nas previsões económicas da primavera de 2025, divulgadas esta segunda-feira, a instituição liderada por Ursula von der Leyen espera que o Produto Interno Bruto (PIB) da Zona Euro cresça apenas 0,9% este ano e 1,4% em 2026, quando nas previsões de outubro, publicadas em novembro, os analistas antecipavam um crescimento de 1,3% e 1,6%, respetivamente. Trata-se da quarta revisão consecutiva em baixa para a economia da moeda única, que está a sentir os efeitos da incerteza sobre o comércio global.
Para a União Europeia, as novas previsões apontam para um crescimento de 1,1% para este, quando antes apontavam para um crescimento de 1,5%; e para 2026 a Comissão Europeia aponta para um crescimento do PIB real de 1,5%, menos 0,3 pontos percentuais face aos 1,8% antecipados anteriormente.
Para Portugal, a Comissão Europeia reviu em baixa o crescimento para 2025, projetando agora um crescimento do PIB real de 1,8%, quando antes previa 1,9%. Por outro lado, melhorou ligeiramente as perspetivas para 2026, antecipando um crescimento de 2,2%, acima dos 2,1% anteriormente previstos.

As projeções para Portugal mostram que, apesar da revisão em baixa, o país continuará a crescer acima da média da UE e da área do euro, tanto em 2025 como em 2026. A inflação em Portugal deverá ser 2,1% em 2025 e para 2% em 2026, valores muito próximos da meta de 2% do Banco Central Europeu (BCE). Quanto ao desemprego, Bruxelas prevê uma taxa de 6,4% em 2025 e 6,3% em 2026.
“Prevê-se que a inflação global continue a diminuir, num contexto de moderação do crescimento do emprego e dos salários e de uma descida marginal do desemprego”, destaca a Comissão Europeia, antecipando que “Portugal continue a seguir uma política orçamental expansionista, transformando o excedente do setor público administrativo num défice até 2026.”
No plano orçamental, as previsões da Comissão Europeia apontam não apenas para uma deterioração das finanças públicas, como para um regresso a uma situação de défice orçamental no próximo ano. Segundo as projeções de Bruxelas, Portugal passará de um excedente orçamental equivalente a 0,1% do PIB este ano para um défice de 0,6% do PIB em 2026. Estas previsões esbatem com as anteriores previsões, publicadas em novembro, que apontavam para um excedente orçamental de 0,4% do PIB este ano e de 0,3% em 2026.
Incerteza comercial pesa na economia europeia
As revisões em baixa da Comissão Europeia para a UE e para a Zona Euro são explicadas principalmente pela “mudança protecionista na política comercial dos EUA”. Segundo Bruxelas, “o mundo estava largamente despreparado para a mudança abrupta protecionista na política comercial dos EUA. Os amplos aumentos tarifários anunciados em 2 de abril enviaram ondas de choque pela economia global”.
“Como a economia mais aberta do mundo, a UE está a sentir a pressão”, explica o relatório. “Uma expansão económica mais fraca nos mercados globais travará inevitavelmente o crescimento das exportações”, antecipam os analistas europeus, revelando que os “dados de inquéritos já apontam para a deterioração do sentimento entre famílias e empresas, que provavelmente responderão reduzindo o consumo e adiando investimentos.”
O documento explica ainda que “a elevada incerteza e um aperto das condições financeiras exercem uma travagem no crescimento do investimento”. Após uma contração de 1,9% em 2024, a Comissão Europeia espera que a formação bruta de capital fixo (investimento) se expanda ao longo do horizonte da previsão, mas a um ritmo mais modesto que o anteriormente previsto.
Nas exportações, o impacto será ainda mais significativo. “Espera-se que as exportações da UE cresçam modestos 0,7% este ano e 2,1% em 2026, em linha com a menor procura global por bens. Isto marca uma revisão significativa em baixa relativamente às projeções de outono (2,2% e 3%, respetivamente)”, lê-se no relatório.
Em relação a Portugal, apesar do cenário de menor crescimento da economia nacional para este ano, a Comissão Europeia mantém uma perspetiva de que o país continuará a convergir economicamente com a média europeia.
Um dos poucos pontos positivos das previsões da Comissão Europeia é a antevisão de uma desaceleração da inflação mais rápida que o previsto. “Espera-se que a desinflação prossiga mais rapidamente do que o esperado no outono, com novos fatores desinflacionistas das tensões comerciais em curso a superarem preços mais elevados dos alimentos e pressões de procura de curto prazo mais fortes”, indica o documento.
A Comissão Europeia prevê que a inflação na área do euro, após uma média de 2,4% em 2024, atinja a meta do BCE até meados de 2025 – mais cedo do que o anteriormente previsto – e registe uma média de 1,7% em 2026.
Apesar do cenário económico menos favorável, o mercado de trabalho europeu deverá manter-se resiliente, segundo as projeções dos analistas da Comissão Europeia. “O modesto crescimento do PIB alcançado em 2024 ainda levou a uma maior expansão do emprego. A intensidade de empregos do crescimento começou a diminuir de níveis elevados e espera-se que normalize mais ao longo do horizonte da previsão“, refere o relatório.
O relatório aponta ainda que “os riscos para as perspetivas estão inclinados para o lado negativo”. Um cenário particularmente preocupante seria “uma escalada das tensões comerciais entre a UE e os EUA [que] poderia deprimir o PIB e reacender pressões inflacionárias”.
No entanto, a Comissão Europeia também identifica possíveis fatores positivos, como “uma redução nas tensões comerciais UE-EUA, juntamente com um renovado impulso nas negociações comerciais com outros países e regiões”, que poderia apoiar o crescimento da UE.
Em relação a Portugal, apesar do cenário de menor crescimento da economia nacional para este ano, a Comissão Europeia mantém uma perspetiva de que o país continuará a convergir economicamente com a média europeia, crescendo acima do ritmo da UE e da zona euro durante todo o horizonte de previsão.
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