“Boas decisões” e previsibilidade põem Europa no top das preferências da JPMorgan

Crise criada pela política comercial norte-americana forçou os líderes europeus a tomar "boas decisões", que incluem grandes pacotes de investimento em infraestruturas, defesa e reindustrialização.

O mundo está a acordar. O dinheiro está a entrar na Europa“. Depois de investimentos de 20,5 mil milhões de dólares em grandes capitalizações europeias este ano, Jon Ingram, gestor de ações europeias da JPMorgan Asset Management (AM), garante que esta é uma “mudança fundamental” que vai trazer mais investidores para o Velho Continente. A previsibilidade de políticas, associada a “boas decisões” em termos de medidas para suportar a economia e taxas de juro mais baixas estão a formar um “cocktail” perfeito que favorece o investimento na região, acredita a gestora do banco norte-americano.

A chegada de Donald Trump à Casa Branca marcou uma viragem na política comercial mundial, com o republicano a ameaçar todos os países com as tarifas mais elevadas dos últimos 100 anos. Uma mudança que abalou a confiança dos investidores mundiais e deixou as empresas em “stand by“, com decisões de investimento congeladas, à espera de terem maior visibilidade sobre a implementação destas medidas.

Apesar destes anúncios terem sido seguidos por recuos e prazos para negociar, a incerteza e a volatilidade criadas pela nova administração norte-americana vão continuar a pressionar a negociação, reconhecem os gestores da JPMorgan, que apresentaram esta semana as suas perspetivas para os mercados, num encontro com jornalistas, em Londres. Embora se afastem de um “sell america” — ainda veem muito valor no maior mercado do mundo — , os responsáveis formam um coro para defender que a Europa é a região que apresenta as melhores condições para brilhar e é a que melhor está a armar-se contra os ataques de Trump.

Quase precisamos de uma crise de vez em quando porque unimo-nos e tomamos boas decisões

Karen Ward.

Chief market strategist, EMEA, JPMorgan Asset Management

Quase precisamos de uma crise de vez em quando porque unimo-nos e tomamos boas decisões”, realça Karen Ward. Para a chief market strategist para a EMEA, “a Europa está a tomar boas decisões e não devemos subestimar como as políticas estão a mudar“.

Confrontados com uma crise iminente, os líderes europeus tomaram a dianteira, anunciando medidas concretas para estimular a economia, com o anúncio de pacotes de investimento de milhares de milhões mantendo uma mensagem clara sobre a estratégia europeia. Isto ao mesmo tempo que o Banco Central Europeu (BCE) continua a ter margem para (mais) descidas de juros e os consumidores europeus têm dinheiro para gastar.

A política orçamental é muito mais forte que a política económica“, defende Karen Ward, argumentando que “subestimamos o impacto que os estímulos orçamentais têm na economia” e, depois de anos focados em reduzir a dívida, os países europeus têm capacidade para investir na economia, destacando o poderio do novo pacote de investimento da Alemanha, que prevê investir até 500 mil milhões de euros para investimentos urgentes em defesa e infraestruturas.

Quanto à política monetária, “as taxas estão a baixar e vão continuar [a baixar] porque o BCE está menos preocupado com a inflação e isso vai ajudar”, acrescenta. Já no que diz respeito aos EUA, a narrativa é outra, uma vez que há maior pressão no lado dos preços devido ao impacto das tarifas.

Mesmo assim, Karen Ward destaca que “há uma resiliência na economia dos EUA que não devemos ignorar“. “Podemos ver a economia abrandar mas não para uma contração significativa”, garante.

Progressos na guerra comercial

John Bilton, head of global Multi-Asset Strategy da gestora, também rejeita a ideia de “vender a América”. “Os EUA são excecionais em inovação, tecnologia. E isso não vai mudar tão cedo”, garante. “Não precisamos vender os nossos vencedores, mas sim diversificar“, atira.

O responsável nota que “começa a haver progressos” na guerra comercial — tarifas vão estabilizar em torno de 15%, acima dos anteriores 2,6% — e este tema vai começar a ter menor impacto, antecipando que, no resto do mundo, os “estímulos orçamentais vão compensar o impacto das tarifas”.

Alexander Whyte, gestor de ações europeias, refere que os estímulos orçamentais na Europa são o principal motivo que justifica o otimismo para a Europa. “Nos últimos anos os governos estiveram focados em reduzir défices, enquanto os EUA continuaram a gastar”, aponta, acrescentando que “vamos ver dinheiro a começar a entrar na defesa, reindustrialização e maior investimento em infraestruturas na Europa, o que vai ser um grande catalisador“.

“Além dos governos estarem a gastar mais, o BCE não está constrangido para não cortar mais juros, porque a inflação está a cair”, reconhece ainda.

Um terceiro ponto é, para o gestor, as poupanças, que continuam a aumentar na região e que poderão sustentar o aumento do consumo.

Bancos foram “incrível oportunidade”

Em termos de oportunidades, Jon Ingram considera que os bancos têm tido um bom desempenho, com o setor a vir de valores muito deprimidos, que se revelaram uma “incrível oportunidade”. “Os bancos tiveram que modernizar-se e tornar-se muito eficientes. Fecharam balcões, digitalizaram-se. A rentabilidade aumentou”, sintetiza.

O setor das tecnologias na Europa é outra área que, para os especialistas, está atrativa, assim como as pequenas e médias capitalizações europeias.

Temos uma visão muito positiva para a Europa, por causa da estabilidade das instituições. O BCE tem uma política monetária muito previsível, os líderes com uma comunicação muito clara”, reforça Patrick Thomson, Chief Executive Officer da JPMorgan AM. O responsável destaca que ter previsibilidade “torna a Europa interessante a longo prazo“, remata.

*A jornalista viajou a Londres a convite da JPMorgan AM

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