Alemã DE-CIX atenta aos data centers em Portugal: “Assim que abrirem mais, estaremos lá”, diz CEO
Empresa de ligação de redes considera que o mercado português pode crescer de emergente para secundário na indústria da conectividade. Para 2030, prepara chegada ao negócio dos satélites.
A empresa alemã DE-CIX, especializada em pontos de troca de tráfego (internet exchanges), garante que vai trabalhar com os próximos centros de dados que abrirem em Portugal, como o da norte-americana Equinix em Lisboa ou o da Atlas Edge em Oeiras. Por ser independente neste mercado da conectividade, a empresa precisa de apenas um trimestre para iniciar uma parceria.
“Não somos operadores de data centers, mas precisamos deles. Sem eles não conseguimos operar. Num novo, conseguimos começar a operar em três meses, dependendo do desenvolvimento dos equipamentos. Assim que abrirem [novos em Portugal], estaremos lá”, disse o presidente do conselho de administração e CEO da DE-CIX, Ivo Ivanov, num almoço com a imprensa, em Lisboa.
A multinacional com sede em Colónia considera que Portugal é um mercado emergente e tem “potencial” para chegar ao próximo nível – mercado secundário – à medida que mais hyperscalers (grandes tecnológicas) entram no país devido à proximidade de pontos de amarração de cabos submarinos. Neste momento, existem 16 ativos e outros quatro vão entrar em funcionamento em 2025 e 2026.
“Acredito no papel de Lisboa e de Portugal como porta de entrada para África, Europa e América. Vemos muito tráfego de sul para sul ou de sul para norte através de Lisboa. Tráfego do Brasil ou de outros países da América Latina, que tradicionalmente passava para a Europa através de Miami ou Nova Iorque”, revelou o gestor.
Questionado sobre o impacto da volatilidade política e dos mercados financeiros nesta expansão, o CEO da DE-CIX respondeu que “a digitalização está acima da política e tem de transcender as discussões políticas”. “Na Europa, a soberania digital é muito importante, não só pela questão da latência, mas pela segurança e privacidade dos dados”, alertou.
“No setor automóvel, se a BMW ou a Mercedes não tiverem controlo sobre a sua jornada de dados, a Microsoft ou a Google terão todo o gosto ter esse controlo. Isto é aplicável a todas as indústrias”, exemplificou o CEO da DE-CIX.
Em declarações aos jornalistas portugueses, Ivo Ivanov alertou ainda para a necessidade de mais descentralização no mapa de conexões mundiais, até para tornar mais rápido o processamento da informação dentro das empresas ou os downloads em casa. “As redes sul-americanas, africanas e europeias – não as norte-americanas – trocam tráfego mais localmente a partir de Lisboa. Nos últimos seis anos, quando viemos para cá, assistimos a um crescimento das redes locais de 1200%. Acreditamos que, com os novos mercados do Brasil, vai-se criar um novo regime na troca de tráfego pan-atlântico”, antevê, fazendo referência à entrada da DE-CIX no Rio de Janeiro e em São Paulo, em março.
Rumo ao espaço em 2030
A um mês de completar 30 anos, a DE-CIX considera que atingiu a maioridade e está pronta para dar um salto maior até outra órbita. O plano mais ambicioso da história da empresa está em marcha, chama-se Space-IX e consiste numa infraestrutura de interconexão terrestre para operadores de satélites que orbitam a Terra a altitudes abaixo ou até 2.000 km. Falamos da Starlink de Elon Musk, do Project Kuiper da Amazon ou da Rivada.
É a este género de clientes que a DE-CIX pretende dar resposta, porque percebeu que este trio de operadores abriu novas fronteiras na distribuição de internet em regiões mais remotas, mas continua a precisar da ‘suspeita do costume’: menor latência i.e. menos tempo de processamento dos dados. “É a nova tendência da conectividade. Podem pensar que sou louco, mas não sou. A minha ideia é implementar o primeiro ponto de contacto no espaço dentro de cinco anos. Já estamos a conversar com a Starlink”, afirmou Ivo Ivanov.
Fervoroso adepto da “economia da latência zero”, Ivo Ivanov disse ainda que qualquer pessoa que queira falar a sério sobre Inteligência Artificial (IA) e tecnologia imersiva também tem de levar a sério a latência, porque a IA em tempo real requer infraestruturas que trabalhem no momento. Segundo o CEO, a DE-CIX analisa o tema em três dimensões, que devem trabalhar em simultâneo: agentes de IA, dispositivos, (robôs e outro hardware) e transmissão (fibra ótica, 5G, satélite…).
DE-CIX, um “aeroporto da internet”
Fundada em 1995, na cidade de Frankfurt, a DE-CIX emprega cerca de 250 pessoas e tem receitas globais de 68,6 milhões de euros. Internamente, a empresa costuma comparar-se a um aeroporto da Internet e dos dados. Ou seja, enquanto uma infraestrutura aeroportuária gere serviços de transporte de passageiros e bagagens com companhias aéreas, a DE-CIX faz a gestão do tráfego de informações entre diferentes redes de Internet com empresas da área.
O que é a Internet Exchange na qual a companhia germânica trabalha? É um ponto de troca de tráfego no qual empresas como operadoras de telecomunicações, tecnológicas de streaming ou plataformas de cloud – Azure (Microsoft), Google Cloud ou Amazon Web Services, por exemplo – se interligam diretamente para trocar dados sem congestionar a rede. Como se a informação apanhasse um voo direto para chegar de A a B em vez de uma passagem com várias escalas.
Em Portugal, além da cidade de Lisboa, a DE-CIX já está integrada com o data center da Start Campus no litoral alentejano. Ainda disso, fez uma parceria com a Altice Portugal – através da Altice Wholesale Solutions, referente ao centro de interligação de redes que a dona da Meo tem em Linda-a-Velha, que abriu em 2023 após um investimento de três milhões de euros.
Atualmente, a DE-CIX opera mais cinco Internet Exchanges no sul da Europa: Madrid, Barcelona, Marselha, Palermo e Atenas, onde se ligaram mais de 500 redes só no ano passado.
A maior taxa de transferência de dados deste ano ocorreu a 9 de abril de 2025 com um novo pico de 25 terabits por segundo. É expectável que continue a crescer, até porque em 2024 o tráfego global de dados atingiu um recorde de 68 exabytes, o que representou uma subida homóloga de 15% e mais do dobro desde a pandemia.
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