Miranda Sarmento condenou a venda do Novobanco ao Caixabank?
Ministro não quer que Espanha acentue domínio na banca portuguesa. Fontes ouvidas pelo ECO admitem que declarações podem fazer Caixabank pensar duas vezes sobre o Novobanco, mas não trava espanhóis.
Joaquim Miranda Sarmento condenou a venda do Novobanco ao Caixabank depois de admitir publicamente que não vê com bons olhos que Espanha acentue a sua presença na banca portuguesa?
“É do interesse do país que não haja uma excessiva concentração do setor bancário de bancos de um único país, como é o caso de Espanha”, afirmou o ministro das Finanças em entrevista à RTP.
“A banca espanhola representa talvez um pouco mais do que um terço do mercado português. Creio que, por uma questão de concentração e dependência, esse valor não deveria aumentar”, notou.
Miranda Sarmento comentava um possível avanço do Caixabank – que em Portugal já controla o BPI e já contratou o Morgan Stanley e Deloitte para avaliar a operação – sobre o Novobanco numa altura em que o processo está a entrar na fase decisiva e a Lone Star tenta duas vias para vender a instituição portuguesa: ou a venda direta a outro banco ou um IPO (oferta pública inicial), com dispersão em bolsa.
As fontes ouvidas pelo ECO admitem que Miranda Sarmento “teve uma posição dura” e que as suas declarações podem fazer o banco espanhol reavaliar as suas opções em relação ao Novobanco, mas não irão fazer travar o banco catalão.
“Fará Gonzalo Gortázar [CEO do banco espanhol] pensar duas vezes, mas não o vejo a parar. A operação está a ser estudada, não dá para negar. As declarações do ministro podem colocar água na fervura, mas não acho que pare”, observa uma fonte ao ECO.
Outra fonte adianta que as declarações terão um propósito. “Quem diz isto, diz a pensar. Ninguém fala nesta altura sem saber”, indica. “É ruído, mas o ruído pode ter interpretações”, atira.
“Nacionalismo está em alta”
Do outro lado da fronteira, os comentários de Miranda Sarmento não passaram despercebidos.
“As fusões bancárias na Europa reencontram o seu arqui-inimigo: os próprios Governos”, escreve o El Economista (acesso livre, conteúdo em espanhol) lembrando negócios que estão em curso e sob forte pressão dos respetivos governos: Unicredit e Commerzbank, Unicredit e BPM, BBVA e Sabadell e… Caixabank e Novobanco.
“Numa mistura de orgulho nacional, receio económico e perda de soberania financeira, muitos governos europeus estão a esforçar-se por se opor incisivamente a estas operações”, conta o jornal espanhol antes de concluir: “O nacionalismo está em alta”. Mas o Governo português não está sozinho na sua avaliação sobre o negócio do Novobanco.

BdP também não quer setor dependente dos mesmos acionistas
Esta semana, o governador Mário Centeno afirmou que, qualquer se seja a solução que a Lone Star encontrar para a venda do Novobanco, seja um IPO ou consolidação com outro banco, ela deve ser o “resultado da atuação do mercado”, mas lembrou que se trata de um mercado “altamente regulado” e que há regras que todos devem respeitar.
“Existe uma preocupação muito grande do supervisor quanto à estabilidade e sustentabilidade do setor para que não ocorram erros como aqueles que se deram no passado com dinâmicas setoriais menos adequadas”, afirmou Centeno, assegurando que o Banco de Portugal tem os “instrumentos adequados para agir nestas situações”.
No início do mês, a vice-governadora, Clara Raposo, defendeu que é importante para o Banco de Portugal que “haja concorrência” no mercado e que “idealmente não tenhamos os bancos exatamente iguais uns aos outros e dependentes das mesmas fontes de risco e acionistas”. Banco de Portugal e Governo parecem estar em sintonia.
Oportunidade para a Caixa?
Voltando às declarações de Miranda Sarmento, uma das fontes ouvidas pelo ECO atribui maior relevância ao que foi dito sobre a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e ao papel que o banco público pode vir a ter neste processo.
“Se entender que pode fazer uma proposta sozinha ou com outro banco, [a Caixa] terá de fazer uma proposta ao acionista, o acionista debruçar-se-á sobre essa proposta concreta”, afirmou o ministro à RTP.
“O presidente da Caixa disse que só faria sentido ficar com uma parte do Novobanco. Lendo todas estas notícias, parece-me claro o movimento que se vai desenhando nos bastidores”, assume a fonte, mostrando-se reticente em relação às sinergias que podem resultar de uma divisão do antigo BES.
Paulo Macedo, em entrevista ao ECO, considera “estranho que a banca espanhola fique com 50% do mercado português”. “É uma coisa que não estou habituado a ver em outros mercados que conheço e, designadamente, europeus”, afirma, ao mesmo tempo que admite que para a Caixa é importante continuar a ter uma dimensão muito relevante no mercado português. Das suas palavras depreende-se também que a Caixa estará a estudar o dossier para depois apresentar cenários concretos ao acionista Estado.
“A eventual questão do Novobanco passa pelo acionista. Mas a Caixa, e o atual ministro das Finanças já o disse, tem um papel essencial, como deve ter em termos de propositura, em termos de alternativa, em termos de estudos. Para habilitar precisamente o que é melhor para a Caixa e para poder também ver o que é que são os pilares de uma eventual decisão desse tipo”, afirmou.
Miguel Maya, CEO do BCP e outros dos bancos que pode ter interesse na operação, disse na quarta-feira que “não está confiante” de que o Novobanco pudesse ser uma boa aquisição.
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