Em entrevista ao ECO, o novo líder da empresa em Portugal, Sérgio Santos Pereira, conta os planos estratégicos e diz que firma de auditoria e consultoria deverá faturar 22 milhões.
A consultora e auditora Forvis Mazars vai abrir um escritório no Algarve e investir mais no mercado jurídico, no qual entrou após a aprovação das sociedades multidisciplinares, revela o novo country managing partner da empresa em Portugal. O volume de negócios deverá aumentar para 22 milhões de euros neste exercício fiscal, afirma ainda Sérgio Santos Pereira, em entrevista ao ECO.
A Forvis Mazars alterou o modelo de corporate governance no primeiro trimestre. Quais foram os objetivos? É uma decisão do grupo internacional, que abrange todas as subsidiárias ou apenas Portugal?
A adoção do novo modelo de governo corporativo é um marco importante no nosso desenvolvimento, que resulta da necessidade de adaptar a gestão da Forvis Mazars em Portugal à sua dimensão atual, aos desafios que enfrenta e às ambições que tem.
É um resultado do sucesso alcançado nos últimos anos, em virtude do crescimento notável conseguido, o qual nos convidou a repensar e alterar o modelo corporativo em vigor, procurando munir a nossa empresa dos instrumentos certos para responder aos desafios do presente, preparando-a para o futuro.
A alteração está relacionada com a dimensão da Forvis Mazars em cada uma das jurisdições onde marca presença. Até uma determinada dimensão, o modelo corporativo baseia-se quase exclusivamente na figura do managing partner. É expectável que mais países venham a adotar esta estrutura corporativa, a qual já é uma realidade para, pelo menos, as 30 maiores.
Com a alteração na estrutura, surgiu também a sua promoção a country managing partner em Portugal, passando o antigo CEO a chairman. Quais serão as suas prioridades estratégicas?
Essencialmente, continuar o caminho já trilhado pelo meu antecessor, Luís Gaspar, fomentando o crescimento da nossa organização em todas as linhas de serviço, bem como a cada vez maior notoriedade e credibilidade da nossa marca.
Nesta casa, somos uma equipa, onde há pouco espaço para egos e individualismos, dependemos uns dos outros. Estamos conscientes de que cada um de nós é uma parte do todo.
E terá autonomia para fazer mudanças?
Não creio que seja uma questão de autonomia. O managing partner está inserido num órgão colegial (comissão executiva), cujos membros, Luís Batista e Patrícia Cardoso, têm igualmente um papel muito relevante para a identificação de soluções e equilíbrios que procurem respeitar a diversidade e transversalidade de serviços da nossa empresa.
É importante relembrar que a comissão executiva responde ao conselho de sócios e ao conselho de supervisão, órgãos integrados numa estrutura de mais de 300 colaboradores. As mudanças não se fazem por decreto.
Vai manter a liderança da área de Fiscal, acumulando-a com este cargo?
Mantenho, sim. Gosto muito da área técnica que lidero, onde cresci nos últimos 23 anos e onde ainda existe espaço para continuar a dar o meu contributo mais alguns anos. Contudo, o departamento de Tax já tem hoje um conjunto de profissionais para, chegado o momento, poderem assumir a gestão.
Criaram uma espécie de sociedade de advogados dentro da empresa em 2024. Preveem lançar mais áreas de prática?
Na sequência da alteração legislativa de 2023, que finalmente permitiu a existência de sociedades multidisciplinares, iniciámos o nosso percurso com vista à constituição de uma sociedade de advogados no universo da Forvis Mazars em Portugal, a qual apresenta hoje uma equipa de seis advogados, liderada pelo nosso head of Legal, Filipe Cerqueira Alves.
Temos a expectativa de praticamente duplicarmos a dimensão da equipa já em setembro de 2025, com o início do nosso novo ano fiscal. Atualmente, concentramos os serviços nas áreas de Corporate M&A, Contencioso Fiscal e Comercial, Direito Civil e Laboral, havendo um plano contínuo de expandirmos a nossa oferta especializada.
Quanto a novas práticas, temos a ambição de reforçar a oferta nas áreas do IT audit [auditoria tecnológica], assurance [garantia] e consultoria bem como diversificar a nossa oferta na área dos serviços financeiros.
A Forvis Mazars tem escritórios em Lisboa, na zona centro do país e no norte. Abrir um espaço a sul está nos planos?
Está. Temos intenção de abrir novos escritórios. Hoje marcamos presença em Lisboa, Porto e Leiria, mas queremos estender a nossa marca a outras regiões do país, designadamente para a do Algarve. Já temos muitos clientes, essencialmente, na área dos private clients [clientes privados] e global mobility [mobilidade global] que nos “obrigam” a deslocações semanais para o sul do país, pelo que vemos com toda a naturalidade a abertura de um escritório no sul.
Além dos nossos serviços mais tradicionais, como auditoria, contabilidade e fiscal, poderemos ter serviços de consultoria, sustentabilidade e legais. Acreditamos que as futuras localizações nos possibilitarão atrair ainda mais talento, atrair jovens que querem fugir dos grandes centros urbanos, tendo em conta, sobretudo, os custos do imobiliário.
Fizemos a assessoria ao grupo PHC Software na venda das suas participações ao grupo Cegid e ao fundo Extendam na compra do Hotel Sofitel Lisbon Libertade, estando outro conjunto alargado de operações em curso. No entanto, o mercado de M&A deverá ter uma redução significativa das operações nos próximos meses, dado o contexto geofiscal, com todas as incertezas que acarreta
A Forvis Mazars projetou um volume de negócios para o exercício fiscal terminado a 31 de agosto de 2024 de cerca de 19 milhões de euros. Alcançaram essa faturação? Que resultados tiveram no último exercício fiscal?
Não só alcançámos como superamos, sendo expectável que o exercício fiscal em curso apresente um volume de faturação à volta dos 22 milhões de euros.
Em relação à unidade de negócio de Advisory, recentemente fizeram a due diligence na aquisição da empresa de serviços agrícolas Epagro pelo grupo Agris. Em que outras transações participaram este ano?
Temos estado envolvidos, de forma crescente, em inúmeras operações de M&A. Fazemos desde a due diligence financeira, à fiscal, à legal (laboral), bem como auxiliamos na negociação e na realização dos contratos que estas operações exigem.
A título meramente exemplificativo, fizemos a assessoria ao grupo PHC Software na venda das suas participações ao grupo Cegid e ao fundo Extendam na compra do Hotel Sofitel Lisbon Libertade, estando outro conjunto alargado de operações em curso.
No entanto, apesar da descida dos juros, o mercado transacional ainda está a cair a dois dígitos. Que perspetivas tem para os próximos meses?
No período pós pandemia verificou-se uma elevada retração da confiança dos investidores, situação que aliada ao aumento das taxas de juros limitou o número de operações registadas. Com a redução gradual das taxas de juro, esperava-se um retomar da “normalidade”, ainda no decorrer de 2024.
Acontece que o aumento das operações tem-se verificado lentamente, ficando o segundo semestre de 2024 muito aquém do esperado. Depois, com a redução continuada dos juros no primeiro trimestre de 2025 e respetiva estabilização das economias, antecipava-se que recuperação do M&A estivesse para breve.
Contudo, face ao atual contexto geofiscal, com todas as incertezas que acarreta, certamente terá um impacto negativo na confiança dos investidores, o que poderá levar a uma redução significativa das operações nos próximos meses.
A marca “Forvis” está associada à Mazars há cerca de um ano. Em termos de negócio, que balanço faz deste posicionamento em parelha com a firma norte-americana?
Esta network Forvis Mazars tem sido interessante em termos de posicionamento da empresa. Passámos a fazer parte de um clube muito restrito, das oito maiores empresas mundiais nesta área de negócio. Traz-nos mais oportunidades de servirmos clientes de grande dimensão e internacionais. É possível termos uma penetração maior no mercado.
Com as Big Four, aprendi o significado de uma hierarquia pesada e obsoleta, do formalismo e do clientelismo, do conforto por oposição à ambição, do eu por oposição ao nós. Afastei-me, desiludido pela falta de renovação.
O seu percurso profissional foi marcado pela passagem por três das Big Four. Que aprendizagem ficou? O que o levou a afastar-se deste tipo de organizações?
Aprendi muito do ponto de vista técnico e metodológico nesses 15 anos, tendo conhecido grandes profissionais e algumas boas pessoas. Mas também aprendi o significado de uma hierarquia pesada e obsoleta, do formalismo e do clientelismo, do conforto por oposição à ambição, do eu por oposição ao nós, do já e do agora por oposição à construção estratégica, da pretensão dos números por oposição à ambição das pessoas.
Afastei-me, desiludido pela falta de renovação, de visões inspiradoras e atuais, de sentimento de pertença com a cultura. Para mim, foi uma experiência muito enriquecedora e deixou totalmente claro o que devia trazer comigo de experiência replicável e o que devia deixar. Ficou mais do que o que trouxe.
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Forvis Mazars vai expandir para o Algarve e duplicar equipa de advogados
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