Estado tem que ajudar empresas a “ir a jogo” na captação de investimento na defesa

AICEP e representantes da indústria dizem que é "responsabilidade" do Estado eliminar custos de contexto para permitir às empresas portuguesas concorrer por investimentos a nível europeu.

A Europa vai precisar de reforçar fortemente o investimento no setor da defesa, o que vai implicar investimentos de milhares de milhões de euros. Uma oportunidade para as empresas portuguesas, mas que vai exigir uma frente unida nacional, para competir por capital a nível europeu. Para a AICEP, a “maior responsabilidade” é do Estado, ajudando a criar condições para que as empresas portuguesas “vão a jogo”.

Portugal tem uma oportunidade” para ganhar com os novos investimentos no setor da defesa, reconhece Paulo Rios de Oliveira, administrador da AICEP, num painel dedicado a debater as oportunidades para a indústria nacional, numa conferência organizada pela AEP dedicada à indústria da defesa, que decorreu esta tarde na Exponor, no Porto.

Segundo adiantou o responsável, “Portugal está a construir uma estratégia de defesa nacional“, um projeto no qual a AICEP está envolvido e que será fundamental para facilitar o acesso a financiamento.

Compete ao Estado português ter uma estratégia de defesa clara (…) a maior responsabilidade não é das empresas, a maior responsabilidade é do Estado ajudar a que as empresas vão a jogo.

Paulo Rios de Oliveira

Administrador da AICEP

Compete ao Estado português ter uma estratégia de defesa clara“, reforçou, acrescentando que, neste processo, “a maior responsabilidade não é das empresas, é do Estado para ajudar a que as empresas vão a jogo”, eliminando alguns custos de contexto, uma opinião partilhada pelos representantes empresariais.

Rafael Campos Pereira, vice-presidente da CIP e vice-presidente executivo da AIMMAP – Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal, a associação que representa o setor mais exportador da economia nacional, defende que “precisamos de estar a trabalhar de forma coesa, para chegarmos a centros de decisão como a NATO“.

É fundamental que o Estado português nos ajude a desbloquear custos de contexto e dificuldades burocráticas que muitas vezes constrangem capacidade competitiva das nossas empresas.

Rafael Campos Pereira

Vice-presidente da AIMMAP

O responsável sublinhou que “estamos nessa fase de crescimento exponencial”, em que a procura vai ser maior que a oferta, e “é fundamental que o Estado português nos ajude a desbloquear custos de contexto e dificuldades burocráticas que muitas vezes constrangem capacidade competitiva das nossas empresas“.

Em termos de oportunidades, Rafael Campos Pereira notou que no setor da metalomecânica e metalurgia alguns segmentos de tecnologias de produção “fizeram, nos últimos anos, algumas pequenas revoluções silenciosas” que dotaram as empresas de “condições excecionais” para poderem ser fornecedores de setores como aeronáutica, aeroespacial, ou defesa.

Por outro lado, há vários “segmentos onde já trabalhamos que são muito semelhantes às da área da defesa”.

Um dos setores onde isso também acontece é no automóvel. Isabel Furtado, presidente do conselho de administração do CEiiA e CEO da TMG Automotive, que fornece o setor automóvel, refere que “a mais valia de ter a defesa a puxar pela tecnologia é aproveitar para a indústria de dia-a-dia estas vantagens”. “Se me pedirem para fazer fornecimentos de veículos de guerra também sou capaz de o fazer“, destacou.

“Temos excelente conhecimento que nos pode ajudar a dar esse salto qualitativo que nos faça crescer”, contudo, alertou também que é preciso facilitar o caminho às empresas”, destacou a empresária. “Quando qualquer regra europeia é traduzida para o sistema português tem por tendência complicar as coisas”, disse, notando que os “cadernos de encargo da defesa essencialmente são focados no preço“.

Isabel Furtado, CEO da TMG AutomotiveRicardo Castelo/ECO

Isabel Furtado defende ainda que Portugal terá que concorrer a estes fundos europeus numa estratégia de colaboração, em consórcio, aproveitando os clusters que existem em Portugal.

Se há uma coisa que o PRR fez foi habituar-nos a trabalhar em colaboração“, notou, acrescentando que não deverão ser empresas individuais a concorrer a mercados europeus.

Já Fernando Sousa, CEO da CEI/ZIPOR e vice-presidente do Conselho Geral da AEP, destacou a magnitude dos investimentos que terão que ser realizados – apenas Portugal terá que gastar 29 mil milhões de euros nos próximos cinco anos para chegar a 2% do PIB na defesa – e a Europa deve mobilizar-se para reter esta produção na Europa.

Todos concordamos que os investimentos vão ser feitos. Temos que os fazer e ponto final, mas temos que o fazer na Europa“, rematou.

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