Continental ameaça travar investimentos em Portugal por falta de acessos à fábrica

Pedro Carreira alerta que "foi dado um sinal claríssimo ao Governo" de que a situação não pode continuar. A casa mãe está descontente e "a torneira" do investimento "está fechada".

A Continental Mabor, quarta maior exportadora nacional, e com uma faturação de 830 milhões de euros, queixa-se de ter investimentos bloqueados por parte da Alemanha por falta de acessibilidades ao polo industrial de Lousado (Vila Nova de Famalicão), sobretudo à fábrica do grupo. Numa longa entrevista ao ECO, o presidente da empresa afirma que há muita gente no Estado que desconhece a Continental Mabor, mas adianta que “não quer extremar posições”. “É muito fácil para mim pegar numa carta e fazer uma chantagem, mas ganhar a chantagem é perder uma empresa“.

Pedro Carreira refere ainda que a administração da Continental AG estava disponível para vir a Portugal anunciar o investimento de 100 milhões de euros na expansão da fábrica de pneus ligeiros, mas que isso não aconteceu. Porquê? “Nunca recebi resposta às missivas que enviei ao Governo“. O facto terá surpreendido o próprio António Costa, porque a partir daí a marcação de reuniões nos vários ministérios tem sido mais rápida. O presidente da Continental está esperançado que ao fim de uma dezena de anos, a questão das acessibilidades se resolva e a empresa possa continuar a crescer.

A Continental Mabor tem um plano de investimento de 150 milhões de euros: 50 milhões que já estão realizados na fábrica de pneus agrícolas e 100 milhões que estão a ser feitos de forma faseada na expansão da fábrica de pneus ligeiros. Já esgotou o plano previsto para Portugal?

Nem de perto, nem de longe. Do valor que falamos consta o projeto que apresentámos ao Estado e que é passível de ser financiado, o projeto é bem maior. E não faz parte dos 100 milhões. Portanto, quer dizer que há mais passos que vão ser dados nos próximos anos e que esperamos poder vir a aprovar, mas é preciso infraestruturas, porque sem isso não consigo crescer.

A Continental ao longo dos anos tem-se queixado de falta de acessibilidades ao polo industrial de Lousado em particular à fábrica do grupo. É disso que está a falar?

Acessibilidades aqui à fábrica que agora, ao fim de uma dezena de anos, parece-me que vão ser resolvidos.

Está esperançado que isso se resolva?

Estou. Já estive mais preocupado do que estou hoje, durante estes anos tive muitas conversas ‘de surdos e de mudos’ com os diferentes governos, aparentemente, neste momento, as coisas parecem melhores, pese embora tenha começado um pouco mal, porque parecia que não estavam a perceber o que estávamos a discutir, nem as implicações, mas já fiz várias reuniões em Lisboa com o Governo.

Com o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques?

Com Pedro Marques reuni apenas aqui na sede, depois reuni com o ministro da Economia, Caldeira Cabral e, inclusivamente, com o Dr. António Costa, num outro contexto. Foi quando ele, logo no início do Governo, tentou perceber como estavam as empresas, quais eram exportadoras, a sua dimensão e o que é que o Governo podia fazer para potenciar as exportações. Fomos convidados para esse encontro e a primeira coisa que a Continental Mabor fez foi falar nas acessibilidades.

Porque considera que o processo está mais evoluído do que no passado?

No Governo anterior chegou a ser apresentado o trecho inicial daquilo que agora me parece que vai ser construído. Acredito que estamos mais próximos. A grande diferença é que há um conjunto de iniciativas que estão a ser tomadas e que estão a vir à luz do dia diferentes daquilo que foi no passado. Dantes tínhamos como resposta, “sim um dia temos de resolver”, ou “vamos resolver” e nada. Agora, pelo menos, há protocolos, a câmara está a mexer-se.

Um dos vossos constrangimentos é uma variante – que não existe – que passa por cima de um dos vossos armazéns.

Exato. Há 15 ou 20 anos atrás, perco-me no tempo, porque nessa altura não estava cá, foi feito o desenho de uma variante que passava por cima de um armazém que construímos há uns anos, e essa variante nunca deixou de existir, apesar de nunca ter sido construída. Oficialmente ela existe e tanto existe que agora quero fazer crescer o armazém e não posso, porque tenho uma variante em cima, mas não tenho nada, porque ela nunca chegou a ser construída. Acredito que agora, passado que está o tempo de férias, que esta questão também vá ser resolvida.

Que tipo de constrangimentos a falta dessas acessibilidades provoca à Continental Mabor?

Um exemplo muito básico das nossas dificuldades: tenho um armazém, que quero expandir, porque estou a crescer e tenho de armazenar pneus. E já não tenho onde os pôr. Não posso realizar a obra, porque há uma indefinição na construção da futura estrada. Definitivamente a estrada não passa ali. Aquele troço de estrada foi abandonado, mas existe um conjunto de protocolos a nível de estradas que foram publicados, há dezoito anos, em Diário da República, por uma entidade, que entretanto foi extinta, e repartido o poder por N entidades diferentes. Enquanto essas N entidades não se sentarem à volta de uma mesa, assinarem o documento protocolar e este for assinado pelos ministros da tutela, para que seja publicado em Diário da República, aquele troço não pode ser retirado.

Logo os licenciamentos não podem acontecer?

Como não pode ser retirado os licenciamentos não podem acontecer. O mais caricato é que as pessoas com quem reuni e me disseram que isto era uma questão de dias, passado que estão quatro meses ainda digam: “Afinal ainda estamos a estudar, porque isso impacta com o plano de negócios das Estradas de Portugal, que vai ver a sua malha de quilometragem reduzida, e portanto vai apresentar menores lucros ou resultados financeiros”. Estou esperançado porque, apesar de tudo, estas entidades juntaram-se à mesa e assumiram o compromisso de que vão pôr o processo a andar. Mas a verdade é que passaram quatro meses e nada aconteceu.

Mas quais são os constrangimentos, em concreto, para o crescimento da fábrica?

Os pneus que estamos a produzir hoje são para entregas daqui a três meses. Se não consigo aumentar o armazém e estou a aumentar a produção não tenho onde armazenar os ditos pneus. Logo tenho de fazer armazéns. Tenho armazéns espalhados pela Europa, mas a questão também se coloca ao nível das matérias-primas que tenho de conseguir fazer chegar à fábrica. Quais são os meus constrangimentos? Transformei o Porto de Leixões, até há um ano atrás, em armazém. Ora, o armazém do Porto de Leixões não é propriamente barato, nem deve ser, porque aquilo não é suposto ser um armazém. Aquilo é suposto ser um posto transitório de cargas e descargas. Cheguei a ter lá 600 toneladas, as pessoas não conseguem perceber qual é o custo de uma empresa deste tamanho ter 600 toneladas paradas num armazém que é um porto. Tudo isto porque não conseguia crescer.

Como é que encara tudo isto, sobretudo quando ouve o Governo falar em aumentar as exportações e captar mais investimento estrangeiro?

É a minha parte fraca de português, é entender muito bem o que me estão a dizer e depois fazer da ‘alma coração’ para conseguir explicar às pessoas que estão do lado de fora…

Foi dado um sinal claríssimo ao Governo de que não podemos continuar com isto.

Pedro Carreira

Presidente da Continental Mabor

A casa mãe consegue perceber?

Haja paciência e algum limite. E o limite foi-me dado claramente e já expliquei a situação ao Governo. Foi dado um sinal claríssimo ao Governo de que não podemos continuar com isto.

O que é que isso quer dizer?

Quer dizer que futuros investimentos nesta empresa estão dependentes claramente de acessos à fábrica que têm que ser garantidos.

Depois destes 150 milhões se não houver acessos à Continental…

Acabou. Acabou e tudo o resto daqui para a frente que possa vir a acontecer podemos não receber. Inclusivamente estes milhões aprovados não quer dizer que sejam realizados e, isto é muito claro.

Mas estes 150 já estão…

Não, 50 milhões foram aprovados e investidos, estão no terreno, dos outros 100 milhões, 30 ou 40 milhões estão em fase de preparação, o restante não.

Estão aprovados, mas não estão em execução?

Exato. E porquê? É muito simples. Tenho aqui ao lado, um terreno e um armazém obsoleto que não tem vida há 20 anos, cuja propriedade está repartida por 60 pessoas. Esse espaço é uma parte integrante da possibilidade de eu construir parque de estacionamento, porque o parque de estacionamento que tínhamos, como não podia crescer, transformei na fábrica de pneus agrícolas. Andei quase dois anos para resolver o problema de conseguir comprar terrenos e fazer parques de estacionamento e isto porque as pessoas de Lousado entendem que a Continental precisa de crescer e conseguimos comprar os terrenos nos devidos tempos e com os devidos valores. Não houve especulação.

Futuros investimentos nesta empresa estão dependentes claramente de acessos à fábrica que têm que ser garantidos.

Pedro Carreira

Presidente da Continental Mabor

A Alemanha já lhe disse taxativamente se a questão das acessibilidades…

Na inauguração da fábrica de pneus agrícolas tivemos cá, todo o managment de pneus do grupo Continental, isto é tanto mais significativo na medida em que é algo único nestes 29 anos. Estiveram na inauguração e pelo respeito que a fábrica tem granjeado dentro do grupo fizeram uma reunião de estratégia aqui nas nossas instalações. Foi uma forma de agradecerem à fábrica de Lousado e um sinal de reconhecimento. Ao mesmo tempo deixaram-nos ficar um sinal de esperança para outras coisas que possam acontecer no futuro porque, hoje em dia, parar ou reduzir investimentos em empresas deste tamanho é muito complicado.

É um investimento pesado.

Essa é a única coisa difícil de explicar ao Governo. Não somos uma empresa de robots e que é só montar e desmontar no mesmo dia.

Mas isso é uma vantagem para o Governo que sabe que assim a empresa tem de pensar muito bem o processo de deslocalização?

Sim, mas difícil de entender, a dimensão da nossa empresa e o investimento que fazemos é sempre um investimento muito pesado, difícil de deslocar porque 90% de alguns dos investimentos que realizamos é edifício e edifício esse que só serve para uma fábrica como a nossa. Se sairmos daqui esta estrutura só tem interesse para uma fábrica de pneus ou para uma fábrica para misturar compostos o que em Portugal não faz sentido. Temos em Portugal plataformas únicas e é com isso que temos trabalhado ao longo destes anos. Temos ajudado a demonstrar que vale a pena investir em Portugal, conseguimos desenvolver máquinas mais baratas do que no resto do mundo, temos transformado, criado e ajudado a desenvolver fornecedores de equipamento que hoje são fornecedores do grupo a nível mundial e agora já fornecem para além do grupo.

Está a dizer que a Continental AG está contente com a atividade da fábrica de Lousado mas descontente com o Governo?

É um pouco a falta de compromisso que o Governo teve durante muitos anos connosco.

A casa mãe está descontente com isso?

Claramente, neste momento está. Houve um conjunto de promessas e estou a tentar aguentar que isto fique muito calmo e muito sereno, porque há muito mais coisas, maiores, em perspetiva. Nós claramente queremos que venham para cá e que se continue a apostar no investimento em Portugal. Mas para isso tem de ser conseguido tudo aquilo que foi prometido que ia ser feito.

Mas a casa mãe já lhe disse taxativamente: não há mais investimentos para Portugal enquanto o Governo não cumprir com as promessas?

Não dessa forma tão taxativa. Vamos conseguindo levar toda a gente na mesma direção. Nunca se pôs a questão de nos colocarmos numa situação em que vamos indispor o grupo contra o Governo.

Mas há pouco disse em relação aos investimentos que a torneira está fechada.

A torneira está fechada porque estou bloqueado, neste momento parámos. Estamos a discutir os próximos investimentos.

Mas está bloqueado porquê? Por não ter capacidade de expansão aqui?

Claramente, o que vamos dizendo é que nós ainda vamos fazer isto, temos espaço aqui para crescer e vamos libertando mais alguma coisa.

Mas já houve investimentos que não foram feitos em Portugal devido a esta falta de acessibilidades?

Não posso dizer assim tão taxativamente. Mas posso dizer que quando cheguei disseram-me que a fábrica estava no limite máximo da sua capacidade, havia um desenho mas como não podiam expandir… Conseguimos comprar terrenos e conseguimos criar as condições para a Continental Mabor dizer: “alto que afinal podemos fazer”. Primeiro foi dito que não havia espaço para este projeto e só depois é que conseguimos criar o espaço dos parques de estacionamento e facilitamos algumas coisas. Quanto a investimentos que não estão diretamente relacionados com a Continental Mabor, posso dizer que Portugal perdeu um centro de investimento de tecnologias de informação, com mil engenheiros devido à falta de acessos aqui a Lousado.

Quanto a investimentos que não estão diretamente relacionados com a Continental Mabor, posso dizer que Portugal perdeu um centro de investimento de tecnologias de informação, com mil engenheiros devido à falta de acessos aqui a Lousado.

Pedro Carreira

CEO da Continental Mabor

Como é que foi isso?

A Continental queria fazer um centro de desenvolvimento e pediu ao Estado português para ver um bom exemplo. Eu estava a chegar na altura como presidente da empresa, e o ministro da Economia, Pires de Lima perguntou se eu sabia de alguma coisa e se o projeto viria. A Continental perguntou-nos depois como eram as acessibilidades ao que tivemos que responder: “Esqueçam”.

Qual era o investimento?

Não era um investimento grande, mas era emprego de alto valor acrescentado, emprego esse que não veio para Portugal porque conseguimos politicamente matar o assunto. Claro que eu tenho que dar um parecer e tenho que ser muito claro para toda a gente. Há uns tempos voltaram a perguntar-nos se a situação se mantém, ou se está a acontecer alguma coisa, porque graças a Deus o projeto foi para o sítio errado, respondi que acredito que sim, mas ainda não vi nada.

Não nos interessa extremarmo-nos contra, seja quem for, porque os prejudicados, no fim, vão ser os nossos colaboradores.

Pedro Carreira

Presidente da Continental Mabor

Voltando à vossa falta de espaço, acaba por fazer muita engenharia de imaginação?

Ao longo dos anos temos vindo a utilizar a imaginação, como é que vamos fazer para não ficarmos parados e acabamos sempre por arranjar uma solução porque não queremos fechar a porta. Não nos interessa extremarmo-nos contra, seja quem for, porque os prejudicados no fim vão ser os nossos colaboradores. Temos milhões de investimento dentro da casa, investimento em equipamento altamente tecnológico, difícil de entender por algumas outras empresas de pneus e temos feito investimentos massivos. Isto só se consegue com bom relacionamento com a casa mãe dizendo não vamos conseguir fazer hoje, mas fazemos para a semana e dando alternativas, mas as minhas alternativas estão-se a esgotar: não tenho espaço.

E no caso do armazém?

Com o armazém, dissemos: “Muito bem neste momento podemos fazer porque o Estado assumiu o compromisso”, mas estamos em setembro e, a obra ainda não avançou, quando já devia ter arrancado com a obra a 1 de setembro. Agora estamos a tentar perceber o que é que vamos responder, nos próximos dias, quando me perguntarem porque é que não se arrancaram com as obras.

Nem o facto de estarmos em época eleitoral melhora estas coisas?

Da nossa experiência percebemos que as eleições pioram estas coisas, o que é a eleição popular ajuda ao voto da pessoa que está na zona. Agora para as empresas piora, temos de esperar que a campanha passe, até porque o próprio Governo, no caso das legislativas, inibe-se logo à partida, e diz, agora espere lá que isto vai mudar o Governo e vamos ver o que vai acontecer a seguir. Há dois anos tivemos quase com a estrada construída depois mudou o Governo, o processo parou e durante um ano estivemos muito calados, mas as coisas não aconteceram. Nestes últimos anos tem sido a comunicação social a ajudar, vamos falando, mas não estamos em Lisboa. Basicamente é isto: se eu me levantar não vem cá o ministro ver o que é que se está a passar.

Não estamos em Lisboa. Basicamente é isto: se eu me levantar não vem cá o ministro ver o que é que se está a passar.

Pedro Carreira

Presidente da Continental Mabor

Mas a Continental Mabor é a quarta maior exportadora nacional…

Parece que sim, mas há muita gente do Estado que não faz ideia. Ninguém liga. Tive uma reunião com a Estradas de Portugal há uns anos que parecia que estávamos a ter uma discussão num país diferente. Nem sequer faziam a ideia de quem éramos.

Mas o ministro da Economia é do Norte, vivia em Braga…

Sim, o senhor ministro recebeu-me duas vezes e esteve agora aqui num evento em representação do Governo, mas é preciso muita vontade política. Costumo dizer que nasci em Lisboa, sou lisboeta, vim para o Porto com três anos, sou sportinguista e só não rasgo o meu cartão de lisboeta e de sportinguista e vou ali ao Pinto da Costa converter-me porque… Sinto-me completamente isolado, estamos muito longe dos centros de decisão.

O ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral (E), acompanhado por Pedro Carreira (3E), administrador da empresa, visita as instalações da Continental Mabor, em Lousado, Vila Nova de Famalicão, 11 de março de 2016. Octávio Passos/LUSAOCTÁVIO PASSOS/LUSA

O país é centralizador?

Centralização acima de tudo e o resto não interessa.

A Autoeuropa faz-se ouvir…

É uma zona muito pobre, houve um grande investimento e agora estão a pagar por isso, agora dizem que não se investe lá mais dinheiro, mas ainda precisam de muito mais investimento. Não em obras, mas em ter empresas a funcionar, é uma zona de desemprego e em que entendemos perfeitamente a estratégia que foi seguida, mas a questão está em que somos o quarto maior exportador nacional e temos um único problema que significa por parte do Estado um investimento de 20 ou 30 milhões de euros, dos quais 80 milhões nós damos por ano em impostos. A Continental Mabor paga em imposto mais do que algumas empresas em Portugal apresentam em fatura para pagamentos de impostos e algumas delas são maiores do que nós. Dizem que não há fundos comunitários, e pergunto mas são precisos fundos comunitários mesmo que sejam 20 milhões?

Para além de não ter espaço para crescer tem também a questão da movimentação de camiões a entrar e a sair?

Vamos ao segundo ponto. Às vezes tenho problemas quer com a saída de camiões, quer com a entrada de camiões que trazem matéria-prima e uma fábrica que tem uma faturação como a nossa – 830 milhões de euros -, não pode parar a produção umas horas por dia porque isso representa uns milhões. Estamos a falar de 600 toneladas que diariamente entram e saem da fábrica. Não tenho como justificar que parei a misturação, já não é a primeira vez, por falta de negro de fumo – uma matéria-prima utilizada na produção de borracha – que não chegou cá, ficou parado a caminho do porto de leixões. Estamos a falar de uma estrada que foi construída em 1950 e que o único benefício que teve foi feito também na década de 50. E esta fábrica é o que é hoje, o quarto maior exportador nacional. Se temos autoestradas por todo o país, se tenho inclusivamente três autoestradas a ligar o norte a Lisboa, se há um conjunto de infraestruturas que todos nós estamos a pagar, como é que não se resolve esta questão? São quatro ou cinco quilómetros de estrada que andamos há 20 anos a pedir para poder aceder à fábrica. Precisamos de acessos para poder trazer e colocar aqui os camiões. Às vezes chegamos a ter uma fila com dez ou 20 camiões.

Mas isto pode extremar posições dos alemães dizerem se não resolverem vamos embora?

Já extremou noutros países. Já fechamos fábricas por menos, por incompatibilidade de parte da administração, é por isso que não queremos entrar nessa guerra. Estamos a tentar ao longo de todos estes anos, com toda a calma e serenidade trazer para cá os projetos que consideramos importantes, tornando a fábrica cada vez maior, somos a segunda maior fábrica do grupo, a fábrica mais eficiente do grupo e a fábrica com a melhor qualidade durante cinco anos seguidos. Tudo isto temos conseguido fazer devagarinho, mas um dia haverá um limite. E o limite nalguns pontos já aconteceu. Já não estou a fazer projetos porque não consigo fazer as coisas e o dinheiro está aprovado, portanto se até ao final deste ano, por exemplo, não arrancar com o armazém eles vão ter que arrancar com um armazém qualquer em França. Se arrancar o armazém em França este fica cancelado.

Um dia haverá um limite. E o limite nalguns pontos já aconteceu. Já não estou a fazer projetos porque não consigo fazer as coisas e o dinheiro está aprovado.

Pedro Carreira

Presidente da Continental Mabor

O Governo sabe disto?

Isto é do conhecimento do Governo, o Executivo está perfeitamente informado. Todos os governos com quem já trabalhei e os presidentes de conselho que passaram por cá tiveram sempre o cuidado de ir informando o Estado. Este ano conseguimos que o Governo entendesse que havia cá um produtor que até era interessante que somos nós.

Como é que perspetiva a empresa daqui a uns anos?

Nessa altura terei finalmente um acesso à fábrica condigno, onde possamos fazer a separação entre carros, camiões e pessoas, temos os parques de estacionamento todos corretos para os nossos funcionários e teremos uma fábrica bem melhor do que aquela que é hoje, acima dos mil milhões de euros. É aquilo que perspetivo para 2025.

Vai crescer nas áreas em que já atua ou vai diversificar?

Diversificar para outras áreas claramente. Para além dos pneus agrícolas e dos pneus ligeiros há outras coisas dentro do grupo que podemos trazer e que estamos a testar.

O quê, por exemplo?

Falarei no seu devido tempo. Mas estamos a falar e nos próximos meses iremos discutir com o Governo para ver se temos apoio. São precisos alguns incentivos e algumas discussões.

Mesmo que não haja as acessibilidades?

Não, nesse caso não. Como digo acredito que está a acontecer, portanto estamos a discutir com a casa mãe, perguntaram-me como estão as acessibilidades, dizemos que está a acontecer, que vai acontecer.

Portanto, se até dezembro não houver luz verde para as acessibilidades o armazém não avança em Portugal mas sim em França?

Provavelmente será em França ou na Bélgica, vamos ter de pensar. O armazém não é um investimento por aí além, são dez ou doze milhões. Mas mais do que os milhões é o emprego que está associado. Ao construir o armazém vou ter de contratar mais gente. E por cada emprego que crio há sempre o emprego indireto, vem mais gente trabalhar, logo tenho mais gente para servir refeições. O fantástico de ter empresas grandes é o de trazerem outras à volta e da questão dos serviços que têm de suportar. Nunca digo que não vai acontecer, mas temos assim umas questões difíceis de ultrapassar.

Foi recebido pelo ministro da Economia. Qual a perspetiva dele sobre este tema e do próprio primeiro-ministro?

Há um empenho pessoal do Dr. António Costa. O primeiro-ministro mandou-nos uma carta e isto é diferente de tudo o que aconteceu até hoje. É a primeira vez que estamos a receber este tipo de informações, estamos a notar que há um conjunto de coisas que estão a circular. Depois da visita do ministro Caldeira Cabral houve mais um conjunto de coisas que ocorreram: a AICEP mexeu, tivemos um projeto PIN aprovado. Há um conjunto de coisas que estão a acontecer, muito devagarinho para o nosso gosto, não temos muito tempo para tomar decisões.

Há um empenho pessoal do Dr. António Costa. O primeiro-ministro mandou-nos uma carta e isto é diferente de tudo o que aconteceu até hoje.

Pedro Carreira

Presidente da Continental Mabor

Fez chegar esse ultimato ao Governo por carta ou de viva voz?

Não queremos extremar posições. É muito fácil para mim pegar numa carta e fazer uma chantagem, mas ganhar a chantagem com o Governo é perder uma empresa e eu não perco uma empresa por causa do brio pessoal de dizer que chantageei o Governo. Não é o nosso objetivo. O nosso objetivo é resolver os problemas, seja com qual for o Governo, e tomar as decisões corretas nos momentos corretos. Temos de ir fazendo a nossa pressão, mas nós não vimos a público dizer: “Vou fazer o projeto tal mas só faço se tiver isto…”

Mas o Governo está ciente das vossas dificuldades?

Eles sabem o que está a acontecer e quais as dificuldades que temos. O problema é, no futuro, sobrar sempre para um técnico qualquer. O desgraçado é que vai levar com as culpas, as questões são sempre políticas.

Como é que a Continental AG anunciou o investimento de 100 milhões que ia fazer em Portugal na Alemanha e não o anunciou cá?

Fizemos um anúncio quase subliminarmente, mas a verdade é que não conseguimos anunciar o investimento de 100 milhões de euros em tempo útil em Portugal. Esta fábrica, conseguiu ao fim de 25 ou 26 ano que, finalmente, o board do grupo, da casa-mãe, se comprometesse a anunciar oficialmente um investimento. O board era para vir a Portugal, tentámos informar o Governo, mas passados dois meses tivemos de fazer o anúncio na Alemanha.

Mas porquê? Está a dizer que o Governo não tinha agenda para receber o presidente da Continental AG para anunciar um investimento de 100 milhões de euros?

Nunca recebi resposta às missivas que enviei a dizer que íamos fazer o anúncio e gostaríamos de o fazer com a presença do Governo. Acho que consegui surpreender o Dr. António Costa com esta informação e a partir daí tem sido tudo mais rápido.

Isso é tão estranho…

Foi das coisas mais esquisitas que me aconteceu ao longo destes anos. Mas pronto acontece. Depois o primeiro-ministro perguntou porque é que estávamos a ter dificuldades em chegar ao Governo, que não éramos uma empresa para não conseguir chegar ao Governo, se todas conseguem quanto mais nós. A partir daí as reuniões com os ministérios começaram a acontecer muito mais rapidamente e é por isso que digo que estou esperançado que isto dê um avanço de gigante. Se isto continuar assim até ao Natal conseguimos ter algumas coisas resolvidas.

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