Brexit pode comprometer capacidade de financiamento do BEI
O alerta é dado pelo próprio presidente do Banco Europeu de Investimento. A saída do Reino Unido da UE implica a perda de um dos quatro maiores acionistas do banco.
O Banco Europeu de Investimento (BEI) poderá ver comprometida a sua capacidade de financiamento na sequência do Brexit. O alerta foi dado pelo presidente da instituição sedeada no Luxemburgo que recorda que, com a saída do Reino Unido, o banco vai perder um dos seus principais acionistas.
Werner Hoyer, num encontro com jornalistas no Luxemburgo, lembra que a saída do Reino Unido implica perder um acionista com 16% do capital do banco (39,19 mil milhões de euros, a par da Alemanha, França e Itália).
Estrutura acionista do BEI a 1 de julho de 2013
Além disso, acrescenta, o facto de o Reino Unido não ter um banco de fomento faz com que esteja altamente dependente do BEI para financiar projetos, que vão desde os túneis em Londres, aos projetos de eólicas, passando por habitações sociais. Ativos de elevada qualidade que também ajudam a instituição a manter o seu rating AAA.
Em causa estão empréstimos do BEI a promotores no Reino Unido na ordem do 54 mil milhões de euros. A perda de acesso a este financiamento já foi, aliás, sublinhada pelo ministro britânico das Finanças, Philip Hammond.
O responsável garante que o Brexit será “uma situação em que todos perdem”, sem exceção. Num tom descontraído, Werner Hoyer, quando lhe foi colocada a primeira questão sobre as consequências da saída do Reino Unido frisou: “Estava bem disposto, até agora”.
O Brexit é um verdadeiro desafio para nós. É uma situação em que todos perdem.
As implicações da saída do Reino Unido ainda estão a ser estudadas e negociadas e apesar das “conversas positivas” que têm sido levadas a cabo, Werner Hoyer lembra que a decisão comunitária é negociar a uma só voz. “Os Estados membros, a Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o Parlamento Europeu decidiram negociar com o Reino Unido em conjunto. Fazemos parte dessa equipa. Não temos negociações paralelas”, garante Werner Hoyer. “Claro que, o senhor Hammod, com quem tive um diálogo muito, muito positivo, preferiria falar bilateralmente connosco, porque tem em jogo interesses chave. Mas a UE não o permite e não vamos minar a posição negocial do senhor Barnier”, sublinhou o presidente do BEI.
Esta posição negocial conjunta exige uma concertação entre instituições que funcionam com base num orçamento — como a Comissão — e instituições que assentam no mercado de capitais, como o BEI. Werner Hoyer está confiante que não há riscos para os investidores do BEI ou para o seu rating AAA, porque “a qualidade da carteira de ativos é inquestionável”, mas também “porque o modelo de negócio é sólido“. Aos Estados membros, o presidente do BEI pede “uma promessa de lealdade, dizendo que apoiam o atual modelo de negócio” porque, se a instituição perder a notação AAA “vai-lhes custar muito”. “Em especial os países que mais precisam de nós. O Luxemburgo, a Alemanha ou a Áustria podem viver bem com menos projetos do BEI, mas o sucesso que tivemos em Chipre ou os grandes progressos na Grécia poderão estar em risco, se não insistir na estabilidade do nosso modelo de negócio”, alertou.
Para já o presidente do BEI afasta a necessidade de contribuições em dinheiro por parte dos Estados membros, porque as reservas do banco “são enorme”.
Não creio que venham a ser necessárias contribuições em dinheiro, porque as nossas reservas são enormes.
Com a saída do Reino Unido, a solução poderá passar, admite o responsável, pela “transformação de parte das reservas em capital aumentado assim o montante do capital social”. “É algo que os Estados membros podem engolir mais facilmente porque não têm de pagar um cêntimo em dinheiro”, justifica.
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