Gestor do fundo mobiliário mais rentável em 2017 também está satisfeito com as apostas que fez no BCP, Sonae e Jerónimo. Fomos falar com Pedro Barata do Novo Banco que desvendou a carteira para 2018.
O fundo iniciou atividade em setembro de 1997 e desde essa altura que investe em ações nacionais. É do Novo Banco o fundo de investimento mobiliário NB Portugal Ações e destacou-se no ano passado ao registar a maior rentabilidade dessa categoria — 21,2%, de acordo com os dados da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento Pensões e Patrimónios (APFIPP). Em entrevista ao ECO, Pedro Barata, o gestor deste fundo, sublinha o bom desempenho registado pelas ações do BCP, da Sonae e da Jerónimo Martins e antecipa um ano positivo para a bolsa nacional, mas não tanto como o ano passado.
No ano passado, como se comportou o fundo NB Portugal Ações? A que se deveu a rentabilidade de 21,2%?
O fundo comportou-se bem, principalmente se compararmos com o andamento do PSI-20 [no ano passado o índice valorizou 15%]. Uma rentabilidade acima dos 20% é boa em qualquer ativo. O primeiro ponto que podemos referir é que os investidores demonstraram estar satisfeitos com essa rentabilidade. O mercado português é muito limitado a nível de opções de escolha. Em todo o caso, é possível fazer algumas apostas e, às vezes, essas apostas correm bem e permitem-nos diferenciar do índice.
No caso específico do nosso fundo, considero que as apostas que fizemos no setor dos media correram bastante bem, nomeadamente a aposta na Cofina e na Impresa, que são duas empresas que não estão no PSI-20, portanto são apostas um pouco diferentes daquilo que possa ser o normal, mas que correram extremamente bem.
Para além disso, a nossa aposta na Mota-Engil foi uma aposta certeira, pois foi uma empresa que se valorizou em mais de 100% nos últimos 12 meses, portanto beneficiou bastante da carteira. E depois aquelas apostas mais claras e estáveis do fundo, como a Jerónimo Martins, a Sonae e o BCP. São três empresas em que nós apostamos há imenso tempo e que, nos últimos 12 meses, tiveram performances interessantes — a Jerónimo Martins nem tanto –, mas, num todo, possibilitaram que o fundo se portasse bem.
Jerónimo Martins, a Sonae e o BCP: são três empresas em que nós apostamos há imenso tempo e que, nos últimos 12 meses, tiveram performances interessantes.
O que motivou essa aposta na Cofina e no Grupo Impresa?
Consideramos que com o ressurgimento da economia, a publicidade e o setor dos media podiam ser beneficiados. Não porque o setor esteja pujante, porque não está, mas como tinha sido tão penalizado no passado, consideramos que bastava um ressurgimento da economia para este setor ganhar com isso. Outra das razões foi o que aconteceu no início deste ano, em que a Cofina ganhou a licença de jogo online e isso deu um boost à empresa. Como é uma aposta permanente do fundo NB Portugal Ações, temos vindo a beneficiar bastante com isso nos últimos 12 meses.
Em 2016, a rentabilidade do fundo foi negativa em 13,70%. A aposta na Cofina contribuiu para reverter a rendibilidade da carteira?
O fundo não subiu só por uma aposta na Cofina. A Cofina faz parte de um todo numa carteira, neste momento pesa cerca de 4%, não é de todo das nossas maiores apostas dentro do fundo. Em todo o caso, como não faz parte do PSI-20, e como valorizou bastante nos últimos 12 meses, possibilitou-nos diferenciar do PSI-20. O que nós procuramos sempre é diferenciar, dentro do possível, nas nossas apostas de investimento, de modo a conseguir fazer melhor do que o próprio índice. Nem sempre isso é possível, mas o ano passado isso aconteceu claramente. Portanto, essa aposta na Cofina foi certeira, mas o fundo não valorizou o que valorizou porque nós apostamos nessa empresa. É apenas um exemplo no meio de muitos outros.
Em termos de carteira, o fundo aposta maioritariamente em que setores?
O mercado português limita-nos muito nas nossas apostas porque há poucas empresas. Portanto nós temos que ter um pouco de tudo para conseguirmos ter uma carteira minimamente diversificada. Em todo o caso, nos últimos 12 meses, a nossa aposta foi claramente em empresas que possam beneficiar do ciclo económico que Portugal atravessa.
Por um lado, apostamos em empresas que beneficiem do consumo interno — a Sonae é claramente um desses casos –, e apostamos na reestruturação da banca — o BCP é outro desses casos. Depois temos mais duas apostas: uma em que temos vindo ao longo do tempo a baixar um pouco a nossa exposição — a Altri, que estava exposta ao ciclo do papel, um ciclo que tem vindo a crescer nos últimos anos com imensa força.
A Jerónimo Martins não teve uma performance fantástica nos últimos 12 meses mas, em todo o caso, consideramos que é uma das melhores empresas que existem cotadas na bolsa nacional.
Por último, a Jerónimo Martins, que não teve uma performance fantástica nos últimos 12 meses mas que, em todo o caso, consideramos que é uma das melhores empresas que existem cotadas na bolsa nacional, portanto gostamos de estar presentes com alguma força neste título. Consideramos que está muito exposta ao ciclo económico polaco, e esse ciclo está muito forte. No entanto, com esta desvalorização de cerca de 20% que a empresa teve nos últimos meses, achamos que poderá ser uma boa oportunidade, portanto gostamos de estar presentes e queremos estar presentes.
É fácil investir no mercado nacional?
Não é impossível, por isso é que estamos lá. Já foi mais fácil, mas é desafiante. Se olharmos para trás, há cinco ou dez anos, havia muito mais empresas cotadas. Hoje em dia há menos, daí ser possível e desafiante.
O fundo NB Portugal Ações é direcionado para que tipo de investidor?
O fundo é claramente direcionado para investidores particulares. É sempre importante que qualquer cliente que invista neste ou noutro fundo leia o prospeto. Ao ler o prospeto consegue perceber imensas coisas, desde o universo de investimento, o risco que corre, os limites de investimento dentro do próprio fundo, os encargos que tem, etc. O nosso fundo é claramente, como o nome indica, um fundo que investe no mercado português e investe em equity. É um excelente meio de poupança. Consideramos que o mercado português é um mercado fruto das baixas taxas de juro, do dinamismo da nossa economia — que parece que, finalmente, está a arrancar –, e é uma boa alternativa para investimento de poupança.
No final do ano passado, a CMVM publicou um estudo onde concluiu que a rentabilidade dos fundos que investem em ações nacionais é essencialmente explicada pelo retorno da bolsa portuguesa, sugerindo que acaba por ser desnecessário pagar a um gestor. O que tem a dizer sobre isto?
Não concordo, principalmente no caso português. O caso português é um caso muito específico, porque os pesos dos títulos num índice são muito grandes. Ou seja, são apostas muito concentradas. Isso faz com que haja anos como o ano passado, em que a grande maioria dos fundos que investiram em Portugal conseguiram bater facilmente o índice. A gestão ativa — quando os gestores conseguem acertar nos timings e nos títulos –, tem mostrado que tem valido a pena face a uma gestão passiva, esse é o primeiro ponto.
O segundo ponto está relacionado com o tamanho do mercado português, que como é muito pequeno, não há muitos ETF que o repliquem. Os que há, têm muito pouca liquidez, e o spread entre bid e offer é muito largo, ou seja, aquilo que se poderia poupar em comissões de gestão, vai-se pagar em spread bid e ask. Provavelmente, muitas vezes a diferença entre o preço de compra e o preço de venda é de 1% ou mais. Considero que apostar nos gestores que gerem os fundos portugueses continuará a ser uma boa aposta face a uma gestão passiva, num mercado como o nosso.
Considero que apostar nos gestores que gerem os fundos portugueses continuará a ser uma boa aposta face a uma gestão passiva, num mercado como o nosso.
Como tem evoluído a presença de investidores internacionais no mercado português?
Quando o mercado está mais dinâmico, quando as perspetivas são melhores, sentimos a maior presença de investidores internacionais. Nos anos da crise, esses investidores internacionais sentiram-se no lado das posições curtas, e notou-se que havia muitos fundos, especialmente os hedge funds, que tinham posições curtas nos títulos portugueses, apostando na desvalorização. Nesta fase da economia, encontramos mais investidores na fase contrária, ou seja, a apostar no crescimento das empresas e na evolução positiva da bolsa. Em todo o caso, há sempre um ou outro título que podem ter posições curtas. Considero que os investidores estrangeiros estão dinâmicos na nossa bolsa, no nosso tamanho e na nossa medida, desta vez, mais do lado comprador do que do lado vendedor.
No ano passado, quais foram os fatores que contribuíram para o desempenho da bolsa?
O desempenho da bolsa, claramente, surgiu do ressurgimento da economia. Vínhamos de uma economia que estava em grande depressão e, de repente, começou-se a perceber que o sentido da economia ia no sentido crescente, dinâmico. E os investidores tendem a posicionar-se logo, de modo a conseguirem beneficiar com tudo isso. Esse foi um movimento que se foi notando no final de 2016, e que depois se prolongou por 2017, e se está a prolongar por 2018. E temos ideia que, eventualmente, poderá prolongar-se durante mais algum tempo. Como o fundo investe na bolsa portuguesa, é impactado pelo crescimento da economia, também. Por isso, de um modo geral, é natural que quando a economia cresce e quando o PSI-20 sobe, os fundos portugueses subam também. Depois, se sobem mais ou menos com o índice, isso depende das escolhas das empresas de cada gestor. Mas é natural que quando a economia cresce, o índice cresce, e quando o índice cresce os títulos valorizam.
Para este ano, devemos esperar um ano positivo?
Estamos otimistas, achamos que é um ano desafiante, mas não vai ser tão forte como o ano passado. Chegamos a final de janeiro e o mercado começou a cair e hoje em dia está perto do zero, anda ali perto. Consideramos que este ano tem tudo para acabar positivo, mas acredito que não suba os 20% que subiu o ano passado. Ainda assim, estamos otimistas. As taxas de juro continuam baixas, consideramos que as empresas têm apresentado bons números, a banca está mais limpa, as empresas exportadoras que têm receitas no exterior estão mais secas. De um modo geral, os gestores portugueses são bons, principalmente destas grandes empresas.
Estamos otimistas, achamos que é um ano desafiante, mas não vai ser tão forte como o ano passado.
Considero que temos tudo para crescer. Ou seja, para quem queira investir a sua poupança, não tem muitas alternativas porque os depósitos a prazo estão completamente a zero, as obrigações dão taxas muito baixas, as pessoas procuram rentabilidades… Quanto ao imobiliário, não digo que está numa bolha, mas está em níveis bastante altos, portanto isto é uma boa alternativa. Temos notado nos nossos fundos, principalmente no fundo português, que os investidores têm aderido.
Quais as empresas que se deverão destacar este ano?
Mantemos as nossas apostas, mas fazemos sempre alterações pontuais. Consideramos que o BCP, a Sonae e a Jerónimo Martins são sempre apostas. O BCP porque ainda está a meio do ciclo da dia recuperação, a Sonae porque beneficia de todo o consumo interno, e a Jerónimo Martins porque é um título que nós gostamos especialmente porque achamos que está exposto a um mercado que tem muito dinamismo e espaço para crescer.
Depois temos outra aposta que estamos agora a construir, e que demora algum tempo: consideramos que o BPI é um título que está bastante barato e que neste momento tem potencial de valorização, portanto estamos a começar a olhar com mais atenção. Considero que tem algum potencial de subida, apesar de ser um título muito concentrado nas mãos de um só acionista, mas as ações que estão fora ainda podem acrescentar valor.
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Gere o fundo mais rentável do país. Mota-Engil e media foram apostas “certeiras”
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