Bruno de Carvalho lido nas entrelinhas
Bruno de Carvalho não se demite. Critica os críticos, vitimiza-se e deixa avisos sobre os riscos de crise financeira ao virar da esquina. São cinco pontos lidos nas entrelinhas.
Bruno de Carvalho vai continuar em funções. As demissões em bloco de diversos elementos dos órgãos sociais do clube, entre as quais a do presidente da mesa da assembleia geral, Jaime Marta Soares, e as exigências de demissão de Álvaro Sobrinho, o segundo acionista mais relevante da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) com 30% do capital, logo a seguir ao próprio clube, não foram suficientes. “Não nos demitimos”, é a afirmação, repetida, aliás, numa conferência de Imprensa sem direito a perguntas e que mantém o Sporting numa crise institucional sem precedentes e em risco de crise financeira já na próxima semana, em função do resultado da Assembleia Geral de Obrigacionistas que vai votar o adiamento do reembolso de uma dívida de 30 milhões de euros de dia 25 de maio para 26 de novembro. Ficam cinco mensagens lidas nas entrelinhas.
- “O SCP está a ser nestes últimos dias alvo de um ataque interno e externo sem precedentes na sua história. O objetivo é claramente obrigar à nossa demissão. Para que fique claro desde já, não nos vamos demitir. Sentimos que o nosso dever é, a bem do SCP, ficar”.
Para quem esperava que Bruno de Carvalho cedesse às pressões, foi a declaração de rutura total. Mesmo sitiado, contra quase tudo e quase todos, o presidente do Sporting vitimiza-se, primeiro, faz das críticas que lhe sã dirigidas um ataque ao clube, depois, e garante, finalmente, que vai dar luta. Daqui, “ninguém me tira”. - O Sporting joga no domingo a final da taça de Portugal e temos um empréstimo obrigacionista para lançar nos próximos dias. Depois, estaremos à disposição dos sócios e por isso pedimos o agendamento de uma Assembleia Geral Extraordinária para os ouvir sobre tudo aquilo que se tem passado. Tudo para ser tratado da forma mais tranquila possível. Mas, em vez disso, em véspera de um jogo tão importante, são os de dentro a ajudar os de fora nestes ataques torpes.
Bruno de Carvalho joga a carta da instabilidade desportiva e financeira para justificar a permanência na função de presidente do clube e da SAD. Por coincidência, joga-se tudo no domingo, de manhã com uma assembleia geral de obrigacionistas para aprovar o adiamento do reembolso de uma dívida e, à tarde, a final no Jamor com o Aves. Depois, o presidente do Sporting ‘vende’ a imagem de um gestor que sabe ouvir, sem impor, e acusa os criticos de desestabilizarem a equipa. Sim, leu bem, Bruno de Carvalho, esse mesmo, o que deu uma entrevista explosiva antes do último jogo do campeonato em que criticava jogadores e treinador…
- Da nossa reunião, saiu a vontade de dar a voz aos associados com uma Assembleia Geral extraordinária, a qual poderia ser marcada por Jaime Marta Soares [presidente da mesa demissionário] no espaço de uma semana. Então, como argumentar que este conselho diretivo quer é ganhar tempo? Como argumentar com a falta de comunicação entre órgãos quando se recusam a reunir? Como argumentar que seja melhor demissões do que ouvir os associados?
Bruno de Carvalho rejeita a ideia de que quer ganhar tempo, mas, ao contrário do que fez recentemente, desta vez não ‘encheu o peito de ar’ e impôs um plebiscito em assembleia geral. Desta vez, quer ouvir os sócios. E atira para os outros membros dos órgãos sociais do clube que se demitiram a responsabilidade da crise institucional.
- Quero apenas reforçar que temos pela frente temas inúmeros, responsabilidades tremendas, e compromissos, como sejam um empréstimo obrigacionista, uma nova reestruturação financeira que está em fase de conclusão jurídica, uma nova temporada desportiva de 55 modalidades, onde se inclui o futebol, e onde temos ainda esta época tantos objetivos a cumprir e em variadas modalidades.
Bruno de Carvalho joga toda a sua sobrevivência no risco de implosão financeira do Sporting, antecipando que vai responsabilizar os críticos se o emprésimo obrigacionista e a reestruturação financeira falharem. É este o trunfo que tem nas mãos para sobreviver a esta crise, mesmo estando isolado. - As pessoas que sempre garantiram o normal funcionamento do clube e da SAD, relembro, são os únicos órgãos executivos, são as que estão aqui comigo e que sempre estiveram desde a primeira hora.
Bruno de Carvalho ouviu as declarações de Álvaro Sobrinho, acionista, e de Jaime Marta Soares, presidente demissionário da mesa da Assembleia Geral. E aos dois recorda que controla os órgãos executivos, e que a sua continuidade depende apenas de si próprio.
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