Carlo Cottarelli aceita formar Governo em Itália
Mattarella pediu ao antigo diretor do FMI, Carlo Cottarelli, para dirigir governo de iniciativa presidencial. Mercados começaram por aplaudir decisão de afastar governo eurocético, mas já inverteram.
O Presidente italiano, Sergio Mattarella, pediu esta segunda-feira ao antigo diretor do Fundo Monetário Internacional para dirigir um governo de iniciativa presidencial. Carlo Cottarelli aceitou o desafio. O Chefe de Estado espera assim acalmar a instabilidade política para já, mas o cenário de eleições antecipadas é tido como inevitável, avança a Reuters.
O convite de Mattarella a Cottarelli foi feito esta segunda-feira às 11h30 (hora de Itália), depois de a escolha de um eurocético para a pasta das Finanças não ter agradado ao Presidente. Na quarta-feira Mattarella, encarregou Giuseppe Conte de formar Governo, como propuseram os líderes da Liga (nacionalista) e do Movimento 5 Estrelas (antissistema), mas o processo não foi longe. O professor universitário Giuseppe Conte desistiu de formar um Governo populista. O Chefe de Estado explicou a sua decisão numa declaração na televisão: o economista de 81 anos, Paolo Savona, defendeu retirar a Itália do euro.
“A incerteza da nossa posição alarmou os investidores e aforradores tanto em Itália como no estrangeiro”, disse Mattarella. “Pertencer ao euro é uma escolha fundamental. Se a queremos discutir, então devemos fazê-lo de forma séria”, acrescentou.
A incerteza da nossa posição alarmou os investidores e aforradores tanto em Itália como no estrangeiro. Pertencer ao euro é uma escolha fundamental. Se a queremos discutir, então devemos fazê-lo de forma séria.
A possibilidade de Itália ter um Governo avesso ao euro levou, na sexta-feira, os juros italianos a subirem, tendo o spread (diferencial) face aos juros da Alemanha atingido um máximo de 2014. Esta segunda-feira tudo parece mais calmo. Não só o mercado acionista segue em forte alta, como os juros da dívida soberana aliviam e o euro ganha novo fôlego. A bolsa de Milão começou a sessão a valorizar mais de 1,5%, animada pelos ganhos dos títulos do setor financeiro e das utilities. Ganhos que aliviaram, mas rondam os 0,64%.
Mas a meio da manhã, perante a perspetiva de que Cottarelli poderá ser apenas uma solução passageira, os mercados inverteram e os ganhos foram eliminados.
Euro ganha fôlego com nova solução
Fonte: Reuters
As yields da dívida soberana italiana a dez anos recuam dez pontos base, para os 2,35%, enquanto as yields a dois anos chegaram a descer 14 pontos base no início da sessão, naquela que é a maior queda dos últimos três anos. Já o euro revertia as perdas registadas no final da semana passada. A moeda única da Zona Euro valoriza 0,35%, para os 1,169 dólares.
“Estamos a assistir a rally de alívio nos mercados europeus, a começar com o euro no overnight, com o risco de um ministro das finanças anti-euro em Itália a aliviar”, diz Michael Leister, estratega do mercado cambial do Commerzbank, citado pela Reuters. Contudo, o mesmo analista diz acreditar que este alívio nos mercados “irá ser apenas de curto prazo”, acrescendo que Itália “apenas comprou tempo”.
Uma solução temporária
Depois de ter rejeitado o nome de Paolo Savona, a Presidência convocou o antigo diretor do Fundo para as questões orçamentais para uma reunião na segunda-feira. Este tipo de convocatória é, normalmente o prelúdio para receber o mandato para formar governo, explicava a Reuters. E assim, foi, Cottarelli aceitou o desafio.
O antigo diretor do FMI é uma escolha que agrada os mercados financeiros, o desempenho ao início da manhã foi prova disso mesmo, mas um governo de iniciativa presidencial, tecnocrata será apenas uma solução temporária, porque a maioria dos deputados já disseram que não darão o seu apoio a um Executivo deste tipo.
Caso não consiga conquistar o apoio parlamentar, Cottarelli ficará à frente dos destinos da nação até à realização de novas eleições em setembro ou outubro. Cottarelli disse mesmo que seriam convocadas, o mais tardar, “no início de 2019”.
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Esta será a primeira vez, desde o pós-guerra que será necessário repetir o escrutínio. As sondagens sugerem que a Liga, que conseguiu 17% dos votos em março, melhore este resultado, enquanto o Movimento 5 Estrelas continue com cerca de 35%. Os partidos do centro devem perder ainda mais votos, em protesto contra a economia estagnada, a elevada taxa de desemprego e aumento da pobreza.
Impeachment do Presidente?
Apesar de o Presidente ter travado o Governo que estava a ser planeado por Luigi Di Maio do 5 Estrelas e Matteo Salvini da Liga, este último recusa avançar com um impeachment para tirar Mattarella do poder, tal como deseja o Movimento 5 Estrelas e o partido de extrema direita dos Irmãos da Itália.
“Vamos pedir ao Parlamento que acuse Mattarella de alta traição porque cedeu à pressão estrangeira”, disse a presidente dos Irmãos da Itália, Giorgia Meloni, em declarações ao canal de televisão La7. Já Di Maio pediu o impeachment ao abrigo do artigo 90.º da Constituição, que permite que um Chefe de Estado seja afastado se uma maioria simples dos deputados votar a favor. O Tribunal Constitucional seria depois chamado a decidir se colocaria ou não essa decisão em prática.
Também o centro direita e o Partido Democrático de centro esquerda recusam alinhar num cenário de impeachment e o antigo líder, Matteo Renzi, disse mesmo que o partido sairia à rua para defender as instituições italianas em caso de necessidade.
Perante este cenário, os analistas não anteveem que se avizinhem tempos muitos fáceis para os investidores. “Acreditamos que a incerteza política continuará elevada. Por um lado, um governo que poderia ser percecionado pelos mercados financeiros como colocando em causa a participação de Itália na União Europeia e na Zona Euro não se formou. Por outro lado, potenciais novas eleições, muito possivelmente em outubro, não seriam vistas provavelmente como um desenvolvimento positivo para a economia italiana”, justificou Silvia Ardagna, analista do Goldman Sachs, citada pela Reuters.
(Notícia atualizada com mais informação)
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