“O Estado não chega para tudo e o Rock ‘n’ Law procura dar o seu contributo”

O Rock ‘n’ Law realiza a 10ª edição este ano, dia 26, na Arena do Campo Pequeno. A Advocatus foi falar com o advogado coordenador, Francisco Proença de Carvalho, que ocupa a pasta desde 2014.

O Rock ‘n’ Law (RnL) realiza a 10ª edição este ano. A Advocatus foi falar com o advogado coordenador que ocupa a pasta desde 2014, Francisco Proença de Carvalho, que não esconde a ambição para este ano: 70 mil euros de donativo. A 26 de outubro, a Arena do Campo Pequeno, em Lisboa, recebe nove bandas em palco, com 14 escritórios envolvidos, no evento cujos donativos irão para a luta contra a leucemia.

Sócio da Uría Menéndez – Proença de Carvalho, o coordenador do Rock ‘n’ Law é também baterista de uma das bandas em palco, para além de liderar a defesa de Ricardo Salgado desde a queda do BES. Esteve ainda nos casos BCP, BPP, CTT, no caso das Secretas e defendeu o economista canadiano Peter Boone num inédito caso de manipulação da dívida pública portuguesa.

O advogado resume o propósito da festa que é já dia 26 de outubro: “O Estado não chega para tudo e é nessa área de omissão pública que o RnL procura dar o seu contributo”. Este ano, a causa escolhida é a luta contra o cancro, através do projeto “Casa Porto Seguro”, localizada em Lisboa, que permite a doentes deslocados e com carência económica ficar num local seguro, onde terão todo o apoio de que precisarem durante o período de tratamentos necessários à recuperação.

Dez anos de Rock ‘n’ Law. 16 causas. A deste ano é claramente a que diz mais a todos nós. A escolha foi por isso?

Sim e não. O RnL é como a advocacia. Procuramos estar atentos às necessidades da sociedade em cada momento. No período mais intenso da crise, apoiámos a Luta contra a Fome – através da Refood – no ano passado estivemos no apoio aos sem-abrigo, que era uma causa do próprio Presidente da República. E depois já apoiámos causas mais transversais, como a inclusão social de pessoas como a deficiência e agora a luta contra o cancro. Devo dizer que esta causa foi a mais fácil de decidir, foi unânime na organização. Porque, de facto e infelizmente, nos toca a todos e também porque foi uma causa finalista durante muitos anos. E que acabou por, por motivos do momento, nunca ser escolhida. Seja como for, procuramos ter sempre uma componente de ajudar as pessoas com mais necessidades económicas e sociais, com problemas de integração. A que apoiamos este ano é também uma causa de luta contra a pobreza. O projeto da APCL visa criar uma casa para que as pessoas com dificuldades económicas e respetivas famílias possam ser acolhidas enquanto estão a enfrentar tratamentos duríssimos, de forma a que não tenham que dormir, por exemplo, em parques de estacionamento. O Estado não chega para tudo e é nessa área de omissão pública que o RnL procura dar o seu contributo.

Como nasce a escolha das causas? Como se chega até aqui?

Esse processo já é muito organizado e o RnL evoluiu imenso nos últimos anos. Trabalhamos com a Call to Action, gostaria aliás de referir o trabalho da Mariana Rebelo de Andrade. É uma pessoa a quem o RnL muito deve e ajuda-nos decisivamente a verificar e analisar quais são as necessidades mais efetivas de cada ano. Fazendo esta análise mais abrangente, depois temos um Comité de Causas, constituído por representantes de quase todas as sociedades organizadoras, que escolhe duas ou três causas finalistas. Faz essa escolha e são submetidas a votação. Escolhida a Causa, lançamos um concurso em que as associações com trabalho na área que decidimos apoiar se podem candidatar preenchendo um caderno de encargos; no fim, o Comité analisa e leva dois ou três projetos a votação final. Devo dizer que costumamos receber várias dezenas de candidaturas e são todas analisadas com detalhe. Este é, sem dúvida, um projeto consolidado que até já nos valeu o alto patrocínio do Presidente da República.

 

Expectativas financeiras para este ano?

Não nego que somos ambiciosos este ano. As receitas do RnL fazem-se essencialmente de três componentes. A componente das sociedades de advogados organizadoras que dão um donativo inicial que nos permite cobrir grande parte das despesas do evento e depois temos uma receita absolutamente essencial que resulta do apoio das nossas dezenas de patrocinadores. Por fim, temos os donativos das pessoas que vão ao RNL e que são a alma do evento. O RnL existe porque temos muitas que compram bilhetes através de donativos, conseguindo duas coisas importantes: ajudar e divertirem-se muito. Em dez anos nunca deixamos de ter quase duas mil pessoas no evento. Por isso, respondendo à sua pergunta, nós estamos a apostar alto. Escolhemos um sítio emblemático que é a arena do Campo Pequeno e temos muitas expectativas: celebramos uma década, num sítio especial, com uma causa muito próxima das pessoas e temos sentido muito entusiasmo dos patrocinadores. Além disso, desde o ano passado sentimos que as novas gerações estão a ‘entrar’ no RnL. Este evento está a dar um salto geracional e isso anima-nos imenso. Temos uma expectativa de donativo final a rondar os 70 mil euros, o que é muito bom.

Qual foi o vosso recorde?

Foi de 75 mil euros na edição de 2014 em que apoiamos o Refood. E essa foi a edição mais lucrativa. Seria extraordinário conseguirmos superar este ano. Com a ajuda de todos, acredito que será possível.

No total, quanto é que já conseguiram juntar?

Em valores líquidos já arrecadamos cerca de 535 mil euros. Ou seja: o donativo total entregue às associações beneficiárias foi esse valor. E também por isto, todos os anos achamos que vale a pena continuar. Aliás, ao longo do ano recebemos sempre contactos de diferentes associações a pedir para se candidatarem ao RnL. Porque esta iniciativa fez diferença em tantas associações que ajudou. Por exemplo: recordo que quando o RnL apoiou a Refood pela primeira vez, era um projeto embrionário, super dinâmico, de uma pessoa que é o Hunter Halder, mas que lhe faltava um impulso financeiro. Com o apoio do RnL conseguiu abrir cerca de 20 núcleos…

O palco é dos advogados. Mas este ano é também, com a representação de uma banda, dos juízes. Convivem melhor em palco do que numa sala de audiência?

Regra geral, os juízes não são adversários de ninguém, muito menos dos advogados. Portanto, conseguimos conviver bem em qualquer cenário. Os advogados patrocinam causas e são adversários jurídicos das contra partes. Pode ser o Ministério Público, ou mesmo outros advogados com quem depois partilham o palco e convivem animadamente no RnL. Somos profissionais e convivemos com as nossas tensões profissionais de uma forma natural. Seja como for, admito que uma sala de audiências não tem nada a ver com um palco. O RnL é o oposto de uma sala de audiência: não é nada tenso. Mas aposto que há advogados músicos que se vão sentir bem mais nervosos a entrar para o palco do campo pequeno do que para uma sala do Campus de Justiça (risos).

Mas como conseguiram reunir esta banda de magistrados?

A Dra. Eleonora Viegas (magistrada no Tribunal de Propriedade Intelectual) foi quem teve essa iniciativa de juntar uma banda e sentiu-se inspirada precisamente pelo RnL. E questionou-se porque os juízes não poderiam fazer também uma banda. Foi sempre uma ambição entrarem no RnL. E isso é ótimo porque nós queremos que o evento seja transversal. Vão abrir o RnL e sei que estão super animados. O RnL pretende ser um fator de união e se calhar alguns ainda nos vamos encontrar numa sala de audiência, com outro ânimo, a recordar a noite inesquecível de 26 de Outubro. A Uría criou o RnL.

Como é que isso aconteceu?

Eu não estava ainda aqui na Uría quando isso começou, pois só entrei na segunda edição. Mas, coincidências da vida, já era amigo do António Villacampa. Ele sabia que havia muito talento musical na advocacia e que seria interessante ter estes advogados músicos a fazerem um concerto ou uma gala para angariação de fundos para causas sociais, usando o nosso talento. Eu na altura achei uma excelente ideia. Mas depois desliguei-me um bocadinho mas sei que, aqui, através do impulso da Fundação Professor Uría, que tem o registo da marca RnL, em poucos meses conseguiu juntar-se sete sociedades de advogados e organizar-se o primeiro evento, sob a coordenação do Duarte Brito Góis. Constataram que, sem grande esforço, juntaram cerca de mil pessoas no antigo BBC. E angariaram cerca de 22 mil euros. Depois disso houve uma evolução do projeto, fomentamos o apoio dos patrocinadores e desenvolvemos projetos comunicação das causas que apoiamos. Além disso, hoje somos 14 sociedades organizadoras. Também dizemos com orgulho que conseguimos exportar o conceito para Madrid e Barcelona onde é desenvolvido há vários anos.

A coordenação passou para si quando e porquê?

Em 2014. As razões só o Bernardo Ayala – que esteve em quatro edições – pode responder. Seja como for, creio que ele tinha dois motivos fundamentais: que os mandatos, sejam eles quais forem, devem ter uma duração limitada, porque é a melhor maneira de sermos objetivos e tratar das coisas com entusiasmo. Em segundo lugar, porque tinha razões profissionais muito absorventes e que poderiam limitar a sua disponibilidade. Seja como for, continua a ser um indefetível do evento. Mas ele sabia que eu também participava na organização do RnL desde a segunda edição e entendeu que poderia dar continuidade. Não me ofereci, mas fiquei feliz, confesso. É um projeto que me realiza muito. Simpaticamente, todas as sociedades organizadoras concordaram. Mas isto não é um projeto de “eu”. É um projeto de “nós”, que resulta do esforço gratuito de muitas pessoas das sociedades organizadoras que durante vários meses se empenham muitíssimo para que o donativo final seja o mais significativo possível e faça realmente a diferença na instituição beneficiária.

E no nível pessoal, como é que a música entrou na sua vida?

Acho que nenhum músico ou, no meu caso, projeto de músico, sabe bem explicar ou apontar o momento. No meu caso, a minha família ajudou bastante, tenho um pai que toca baixo e guitarra, uma mãe que canta e faziam-se grandes jam sessions em casa onde eu em criança, mesmo a dormir, ia ouvindo, como ruído de fundo. Contam-me que, desde cedo, comecei a agarrar-me às panelas e às escovas de cabelo da minha mãe. Depois faltava um baterista e eu desde os 6 anos comecei a tocar lá por casa com a família e os amigos dos meus pais, alguns músicos profissionais. E quando a música entra, em princípio, já não sai. Só sai se nos deixarmos vencer pelas condições da nossa vida, como o trabalho e filhos que nos fazem, por vezes, esquecer esta paixão. Mas de mim não saiu. Eu próprio comecei a fazer o meu caminho amador com a típica banda de escola e comecei a compôr alguns hinos, inclusive de campanhas políticas (risos).

Campanhas do Cavaco Silva, segundo sei…

Sim. Nas presidenciais. Fiz um hino derrotado e um vencedor. Tive ainda uma banda de bares. Tocava quando estava na Universidade, porque gostava de me divertir, mas também me dava jeito o dinheiro extra. Faz-se muitos bons amigos na música. Tenho agora uma banda de jazz com pessoas de diferentes áreas e idades. Tento manter alguma rotina musical, com alguma dificuldade é certo. Mas a música é libertadora.

Como consegue conciliar tudo isso na sua vida?

Primeiro: exijo de mim fazer isto tudo. Faz parte da minha maneira de ser gostar de fazer muitas coisas diferentes. E tento não abdicar das componentes que tenho, como pessoa, a do trabalho, a familiar, a dos amigos, a da música, a do desporto. E essa consciência e decisão pessoal de tentarmos conciliar tudo aquilo que nos faz feliz é, desde logo, muito importante, porque normalmente o caminho mais fácil é ir abdicando das coisas, porque não temos tempo ou cedemos ao cansaço. Além disso, é importante sermos organizados, trabalhar em equipa e rodearmo-nos de pessoas que compreendem e aceitam a nossa maneira de ser.

Os donativos podem ser feitos aqui:

www.easypay.pt/form/?f=APCL-Donativo-Rocknlaw

Bilhetes para a noite de festa podem ser adquiridos aqui:

www.easypay.pt/form/?f=APCL-Evento-RocknLaw

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