Like & Dislike: Pedro Marques e o princípio de Peter

De ajudante de pedreiro a ministro. De eurodeputado a comissário europeu. Pedro Marques já foi promovido ao seu nível de incompetência.

Já foi ajudante de pedreiro, nas férias da escola, já foi tesoureiro de junta de freguesia, vereador, secretário de Estado no governo de José Sócrates e chegou a ministro com António Costa.

Mas a ascensão de Pedro Marques não fica por aqui. Foi escolhido por António Costa para ser o cabeça de lista dos socialistas às europeias e, antes de o ser, já o era. Isto porque o primeiro-ministro já o colocou na linha da frente para ser candidato a comissário dos fundos estruturais.

O princípio de Peter diz-nos que num sistema hierárquico, todo o funcionário tende a ser promovido até ao seu nível de incompetência. Pedro Marques até pode ter sido um ajudante de pedreiro competente, um bom tesoureiro, vereador e secretário de Estado. Mas foi um mau ministro e está a revelar-se um mau cabeça de lista. Pedro confirma que existe o princípio de Peter.

As coisas não lhe estão a correr bem e não há outra forma de dizer isto: está a ser um desastre. Internamente, no partido, e externamente, no país. Basta olhar para as sondagens. Se é socialista, o melhor é nem olhar. António Costa arrisca-se a ter de engolir o “poucochinho” que deu 31% dos votos aos socialistas em 2014, na altura comandados por António José Seguro.

Dentro do partido, apesar do discurso sectário de Pedro Marques, aparentemente também ninguém está entusiasmado com a sua escolha para cabeça de lista. Conta-nos o Público que a candidatura de Pedro Marques já se está a queixar da falta de apoio interno, à exceção dos fins de semana em que Costa aparece para o levar ao colo.

Aliás, nos últimos dias enquanto ministro, e ainda antes de ser pública a sua escolha para as europeias, António Costa e o seu candidato a eurodeputado disfarçado de ministro lançaram concursos para comboios, assinaram o acordo para o aeroporto do Montijo (ainda antes dos estudos de impacto ambiental), lançaram concurso para a expansão da rede do metro de Lisboa e apresentaram, com pompa e circunstância, o Plano Nacional de Investimentos 2030. Numa semana prometeram investir 24 mil milhões de euros.

Costa bem tenta promover o seu delfim, mas não há forma de descolar e entusiasmar. E porque é que as coisas não estão a correr bem a Pedro Marques? Por culpa própria e culpa alheia. Primeiro, a campanha dele foi contaminada com o familygate, um caso que o próprio desvalorizou e desastrosamente resumiu a um problema de “misoginia”.

Depois, para fazer campanha e andar nas ruas, Pedro Marques não tem jeitinho nenhum. Como escrevia o Público, esta segunda-feira, até agora a imagem que mais marcou a sua pré-campanha foi Pedro Marques a sambar “desengonçado ao lado de matrafonas de Torres”. O carisma de Pedro Marques está próximo de zero e a capacidade de comunicação é nula. Não admira que não queira fazer grandes debates com os outros candidatos na televisão. Foi preciso o seu homónimo Pedro Adão e Silva colocar a nu a incongruência de Paulo Rangel — o deputado/advogado que defendeu que o exercício da função de deputado é incompatível com a advocacia — para que a campanha de Pedro Marques desse sinal de vida.

António Costa estava tão convencido que ia ganhar folgadamente as eleições que achou que até Pedro Marques era capaz de as ganhar. Arrisca-se a ganhar, não por causa de Pedro Marques, mas apesar de Pedro Marques.

Não é só a campanha para as europeias que coloca a nu as fraquezas e debilidades políticas do antigo ministro do Planeamento e Infraestruturas. O Programa de Estabilidade publicado esta semana mostra o legado de Pedro Marques que no governo tinha a pasta das obras públicas, do investimento e dos fundos comunitários.

Segundo o Jornal de Negócios, o atual governo vai terminar a legislatura sem que o nível de investimento público alcance o valor que tinha no último ano do governo PSD/CDS, aquele que governou a meias com a troika. No ano passado, o investimento público era suposto ter crescido 40% e só cresceu 10%. É obra. Ou melhor, é falta de obra.

Nos fundos comunitários, o Banco de Portugal veio dizer que o ritmo de pagamentos da Comissão Europeia a Portugal, no âmbito do Portugal 2020 nunca foi tão baixo. Pedro Marques defende-se culpando o Governo anterior, como sempre. Há uma frase que é atribuída a Sá Carneiro que a terá dito certo dia aos seus ministros: “Meus senhores, têm seis meses para criticar o anterior Governo, a partir de agora a culpa é nossa”. Pedro Marques está há três anos a culpar o governo anterior que acusa de ter sido incompetente. Agora foi, ele próprio, promovido até ao seu nível de incompetência.

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