Exclusivo Fim de um ciclo, Francisco Lacerda demite-se dos CTT
O presidente dos CTT apresentou esta sexta-feira a sua renúncia ao cargo. Francisco Lacerda antecipou saída para permitir à nova gestão o início das negociações do contrato de concessão com o Estado.
Francisco Lacerda apresentou esta sexta-feira a sua renúncia ao cargo de presidente executivo dos CTT, antecipando assim a saída no fim do mandato que termina no final do ano, revelou em exclusivo ao ECO uma fonte dos acionistas. O gestor já tinha decidido que não continuaria num novo mandato, mas a discussão política em torno da companhia e as relações difíceis com a Anacom no meio da aplicação de um plano de reestruturação ainda a meio levaram-no a precipitar a saída.
Já depois do ECO avançar com a notícia em primeira mão, a empresa já confirmou ao mercado o pedido de renúncia de Francisco Lacerda dos cargos de vice-presidente do conselho de administração e de presidente executivo, apontando que o gestor entendeu ser esta a melhor forma dos CTT procederem “a uma transição da liderança da equipa executiva” dos Correios. Na nota enviada à CMVM, os CTT dizem que a empresa já tem “consolidados os três pilares críticos da estratégia aprovada para 2017-2019”, nomeando os planos de transformação e modernização, o crescimento da atividade de encomendas e a criação e consolidação do banco CTT.
Francisco Lacerda entrou nos CTT ainda quando a empresa era pública, logo em 2012, e foi o gestor que conduziu o processo de privatização. Este era já o terceiro mandato de Lacerda e, depois do pico dos resultados, a degradação das contas, das cotações e da consequente pressão acionista, e a degradação das relações com o governo e o regulador tornaram este desfecho inevitável. Já na semana passada, no ECO Insider (newsletter exclusiva para assinantes), tínhamos antecipado que a saída de Lacerda no próximo mandato era certa e só faltava saber se o próprio gestor esperaria pela decisão dos acionistas ou antecipava ele próprio o movimento.
De acordo com informações recolhidas pelo ECO junto de fontes do círculo do gestor, a escolha desta data de saída tem outra explicação: Os CTT vão iniciar com o Governo até ao verão o processo formal de negociação do novo contrato de concessão do serviço público postal. E tendo em conta que o divórcio entre o gestor e os CTT, por vontade mútua, já era mais ou menos esperado com o fim do mandato, Lacerda decidiu antecipar a saída, o que permitirá o início dessas negociações já com a nova equipa de gestão.
No comunicado divulgado na CMVM, os CTT apontam mesmo que a saída de Lacerda permitirá a uma nova gestão “focar-se na preparação dos desafios que os CTT enfrentarão no mandato 2020-2022, com destaque para o quadro contratual e regulatório da concessão do Serviço Postal Universal”.
São conhecidas as declarações públicas do ministro Pedro Nuno Santos, que tem a responsabilidade política por esta área, sobre o que considera serem as condições para um novo contrato de concessão, que termina no final de 2020. Por exemplo, a existência de uma estação dos CTT em cada concelho. Ora, Lacerda defendia que, para as necessidades, chegava um posto de correio, uma operação menos pesada para empresa, por isso, antecipavam-se negociações duras entre os CTT e o Governo.
Além disso, o plano de reestruturação da empresa ainda não está a dar resultados. Ainda há uns dias, a companhia revelou as contas do primeiro trimestre. E os lucros voltaram a cair, com efeito direto na cotação. Os CTT registaram lucros de 3,7 milhões de euros nos três primeiros meses deste ano, uma redução de 37,7% (-2,2 milhões de euros) face aos 5,9 milhões expressos para o período homólogo. A ação dos CTT voltou a bater mínimos históricos e esta sexta-feira fechou a 2,3 euros por ação, o que valoriza a empresa em 355 milhões de euros, menos 477 milhões de euros do que à data da privatização.
O senhor que se segue nos CTT já está escolhido: O ECO sabe que o próximo presidente executivo dos CTT será João Bento, atualmente administrador não executivo e indicado precisamente pelo maior acionista individual, Manuel Champalimaud. João Bento deverá ser cooptado em conselho de administração que já estava marcado, para 22 de maio.
[Notícia atualizada com comunicado dos CTT à CMVM a confirmar saída de Francisco Lacerda]
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