O “pulmão” do planeta está a arder. O que está a acontecer na Amazónia?

Desde janeiro, registaram-se 32.728 fogos no bioma da Amazónia, mais do que nunca. O Presidente acusa ONG de estarem na origem dos incêndios e o ministro do Ambiente fala em "fake news".

É inverno no Brasil, o tempo é seco e o norte do país é a região mais afetada pelo calor, principalmente a Amazónia. Há regiões no designado “pulmão” do planeta onde há meses não cai chuva. E agora, arde mais do que nunca.

As queimadas, práticas comuns de desflorestação, servem para abrir espaço na floresta, para desenvolver áreas de pasto para criar animais ou plantar soja, por exemplo. Contudo, este ano, e segundo a imprensa brasileira, registou-se um aumento de mais de 80% nos focos de queimadas. O aumento dos incêndios tem despertado a atenção internacional, com maior foco nas redes sociais.

As ONG acreditam que o aumento do número de incêndios reflete a “irresponsabilidade” do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e o chefe de Estado acusa-as de atividade criminosa, com o objetivo de “chamar a atenção do Governo”.

Incêndios na Amazónia a bater recordes

A escalada dos focos de incêndio refletiu-se no Observatório da agência espacial NASA, que registou fogos com maior intensidade do que o normal, entre julho e agosto. No início deste mês, a 11 e 13 de agosto, a NASA divulgou imagens dos incêndios a abranger principalmente os Estados do Amazonas, Mato Grosso e Rondônia. “Apesar de não ser incomum ver incêndios no Brasil nesta época do ano, parece que este ano o número de fogos podem estar a atingir o recorde”, lê-se na nota da agência espacial que acompanha as imagens.

O Estado de Mato Grosso tem sido o mais afetado pelas queimadas.

Os satélites da NASA já registaram 1.790 focos de calor, um aumento de 57% quando comparado com o ano passado. De acordo com o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais brasileiro, metade das queimadas estão a ser feitas na Amazónia. Uma nota divulgada a 20 de agosto pelo Instituto de Pesquisas Ambiental da Amazónia, diz mesmo que o número de focos de incêndio já é 60% mais alto do que nos últimos três anos.

Uma “tarde escura”

O fumo das queimadas está a chegar às cidades e, segundo testemunhos, cria “uma neblina branca” que torna os aglomerados urbanos em locais “claustrofóbicos”. Os testemunhos multiplicam-se nas redes sociais, mas com pouca cobertura na imprensa brasileira e internacional. No Twitter surge a hashtag #PrayforAmazonia.

Esta quarta-feira, às 15h00, o fumo chegou a São Paulo e causou alarmismo. O Instituto de Meteorologia Brasileiro chamou-lhe “Tarde Escura” confirmou a escuridão na cidade e relacionou-a com a chegada de uma frente fria.

Num podcast publicado esta quinta-feira de manhã na Folha de São Paulo, os especialistas confirmaram que “as nuvens ficaram carregadas de partículas de queimadas vindas do Paraguai, Bolívia e Amazónia“. Segundo a imprensa brasileira, a análise das chuvas já confirmou a presença destas partículas.

Sobre este fenómeno, o Ministro do Meio Ambiente afirmou esta semana que há “sensacionalismo irresponsável na área ambiental”, e relacionar o céu escuro às queimadas é “fake news”.

O “Dia do Fogo”

As queimadas estão associadas à desflorestação, pois os municípios com maiores focos de incêndio são também os que registam uma maior área de desflorestação. Mas as palavras do Presidente brasileiro podem estar a fazer disparar o número de queimadas na Amazónia.

Entre 10 e 11 de agosto, no sul do Pará, os fazendeiros organizaram o “Dia do Fogo”, e foram feitas várias queimadas, registando-se centenas de focos de incêndios. Segundo a Folha de São Paulo, os fazendeiros queriam “mostrar trabalho” ao Presidente.

“Não há fogo natural na Amazónia. O que há são pessoas que praticam queimadas, que podem piorar e virar incêndios na temporada de seca”, explica a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia (IPAM), Ane Alencar.

Apesar de confirmar estar preocupado com o aumento dos incêndios, Jair Bolsonaro contraria a convicção da comunidade internacional. Esta quarta-feira, o Presidente acusou as organizações não-governamentais (ONG) de terem intenção de o querer prejudicar e de pretenderem atrair a atenção do Governo.

“O crime existe, e isso aí nós temos que fazer o possível para que esse crime não aumente, mas nós tiramos dinheiros de ONG. Dos repasses de fora, 40% ia para as ONG. Não tem mais. (…) De forma que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro”, referiu Bolsonaro, à saída do Palácio da Alvorada, em Brasília.

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de cinco milhões e meio de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (território pertencente à França).

Os especialistas preveem que a situação possa piorar nas próximas semanas com a intensificação da seca. Para esta semana, já foram convocadas várias manifestações contra a desflorestação na Amazónia um pouco por todo o Brasil.

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